O objetivo deste trabalho foi estimar os potenciais e as lacunas de produtividade da cultura da soja nas áreas de terras altas na safra 2017/2018 no estado do Rio Grande do Sul.

Autores: Eduardo Lago Tagliapietra1, Alencar Junior Zanon1, Kelin Pribs Bexaira1, Gean Leonardo Richter1, Patric Scolari Weber1, Thiago Schmitz Marques da Rocha1, Michel Rocha da Silva1, Darlan Scapini Balest1, Charles Patrick de Oliveira de Freitas1, Lucas Adílio Sari1, Gabriel Vichara Chaves2 e Airton Landarin Balensiefer2.

Trabalho publicado nos Anais do evento e divulgado com a autorização dos autores.

Temos 7,6 em 2018, 8,6 em 2030, 9,8 em 2050 e 11,2 bilhões de pessoas em 2100. De acordo com a ONU, essa é a estimativa do crescimento populacional para os próximos 80 anos. Para alimentar 11,2 bilhões de pessoas em 2100, é necessário aumentar a produção de alimentos, que pode ser obtido através do aumento da área de cultivo ou pelo aumento da produtividade. Na maior parte dos países produtores de alimentos, como o Brasil, por exemplo, há muito para explorar, sobretudo em aumento de produtividade.

Além da área de cultivo, as produtividades da cultura também vêm aumentando de forma geral no estado ao longo dos anos, mas apesar desse contínuo aumento ainda há uma considerável diferença entre as produtividades medidas em experimentos de estações experimentais e a produtividade média atual (Zanon et al., 2016). Esta lacuna é um incentivo para demandar esforços científicos que visem minimizá-la. A lacuna de produtividade é a diferença entre os potenciais de produtividade e as produtividades médias das lavouras de soja. O potencial de produtividade (PP) é a produtividade de uma cultivar que cresce sem limitações de nutrientes, estresses bióticos (plantas daninhas, insetos e doenças) e água, ou seja, a taxa de crescimento da planta ou da cultura é determinada pela radiação solar interceptada pelo dossel, temperatura, CO2 atmosférico e características genéticas (EVANS, 1993; VAN ITTERSUM & RABBINGE, 1997).

Os estudos de lacunas de produtividade permitem identificar os principais fatores biofísicos e de manejo que limitam o aumento da produtividade dos agricultores e direcionar novas linhas de pesquisa, além de aprimorar as atuais práticas de manejo (VAN ITTERSUM et al., 2013; Zanon et al., 2016). O objetivo deste trabalho foi estimar os potenciais e as lacunas de produtividade da cultura da soja nas áreas de terras altas na safra 2017/2018 no estado do Rio Grande do Sul.

Neste trabalho foram utilizados três conceitos para estimar os diferentes níveis de produtividade da cultura da soja em terras altas na safra 2017/2018, conforme descrito em LOBELL et al. (2009) e Van Ittersum et al., (2013). A produtividade potencial da cultura foi estimada através de Zanon et al 2018 na qual calcula diante dos valores “ótimos” de componentes de produtividade, está produtividade ocorre em condições onde não há estresse biótico e pode ser representada como sendo 20% superior ao observado em condições experimentais.

A produtividade dos experimentos foi obtida por experimentos em diferentes locais, cultivares e épocas de semeadura, conduzidos em nível potencial (Tabela 1). As máximas produtividades dos produtores foram obtidas pela coleta de dados realizada pelos extensionistas da Emater, que coletaram dados de 35 lavouras de soja em terras altas. Após separar esses resultados em três tercis, determinou-se que o tercil superior seria considerado como os produtores com o melhor nível de produtividade. As produtividades médias do estado foram obtidas junto ao levantamento divulgado no final da safra (Conab, 2018). As lacunas de rendimento (LR) são determinadas pelas diferenças entre os diferentes níveis de produtividade.

Tabela 1. Experimentos com a cultura da soja, seus respectivos locais, datas de semeadura e cultivares utilizadas na safra 2017/2018.

O potencial de produtividade obtido pela metodologia descrita por Zanon et al (2018) foi de 7.8 Mg/ha (Figura 1), sendo semelhante a produtividade do campeão do concurso comitê estratégico soja Brasil (CESB) 2018, no qual apresentou como potencial de produtividade 7.6 Mg/ha em áreas de soja com irrigação. Em relação, a produtividade obtida em experimentos e a máxima produtividade das lavouras comerciais foi observado uma lacuna de 1.0 Mg/ha, essa decorrente da variabilidade existente entre as produtividades obtidas em parcelas experimentais de instituições de pesquisas e universidades com as produtividades de lavouras comerciais, porém essa lacuna é pequena quando comparada a produtividade dos experimentos com a produtividade média do estado, a qual apresenta uma lacuna de 2.5 Mg/ha, demostrando que os manejos realizados por esse grupo de produtores estão apropriados.

Produtividade
Produtividade

Figura 1: Lacunas de produtividade da cultura da soja no Estado do Rio Grande do Sul, para a safra 2017/2018.

Quando comparamos, a produtividade média do estado no ano 2017/2018 (3.0 Mg/ha) e a máxima produtividade das lavouras (4.5 Mg/ha) (Figura 1), podemos identificar que existe uma lacuna agronômica explorável de 1.5 Mg/ha, tal lacuna pode ser trabalhada e minimizada utilizando tecnologias existentes, e investimentos mínimos por parte dos produtores (PULVER et al., 2001). Mas para isso é importante a identificação das práticas adotadas pelos produtores que obtiveram as elevadas produtividades, tais como época de semeadura, rotação de culturas, cultivares, densidade populacional, potássio em cobertura entre outras, que muitas vezes não acarretam em maiores investimentos econômicos, mas sim a realização da prática de manejo no momento recomendado.

As lacunas de produtividade variaram de 2.3 a 1.0 Mg/ha, sugerindo que, há espaço para melhorar as produtividades das lavouras de soja em no estado do Rio Grande do Sul.
As produtividades dos melhores produtores se assemelham as produtividades dos experimentos, portanto identificar práticas de manejo adotadas por esses produtores que elevam a produtividade é fundamental para diminuir as demais lacunas.

Referências

AGOSTINETTO, D. et al. Arroz Vermelho: Ecofisiolofia e estratégias de controle. Ciência Rural, Santa Maria, v. 31, n.2, p. 341-349, 2001.

EVANS, L.T. Crop Evolution, Adaptation, and Yield. Cambridge University Press, Cambridge, UK, 1993.

IRGA – INSTITUTO RIOGRANDENSE DO ARROZ. Série Histórica de Produção e Produtividade – RS x BR. Disponível em: <http://www.irga.rs.gov.br/upload/20150720134318producao_rs_e_brasil.pdf>. Acesso em 22 maio 2017.

LOBELL, D.B. et al. Crop yield gaps: their importance, magnitudes and causes. Review of Environment and Resources, v. 34, p. 179-204, 2009.

PULVER, E.L. et al. Yield gap in irrigated rice in Latin America and Caribbean. Yield gap and productivity decline in rice production. In: Proceedings of the Expert Consultation held in Rome, 5–7 September 2000. FAO, Rome, pp. 163–189, 2001.

VAN ITTERSUM, M.K. & RABBINGE, R. Concepts in production ecology for analysis and quantification of agricultural input-output combinations. Field Crops Research, v. 52, p. 197–208, 1997.

VAN ITTERSUM A, M.K. et al. Yield gap analysis with local to global relevance – A review. Field Crops Research, v.143, p.4–17, 2013.

VILA, S.C.C. et al. Arroz tolerante a imidazolinonas: controle do arrozvermelho, fluxo gênico e efeito residual do herbicida em culturas sucessoras não-tolerantes. Planta Daninha, v. 24, n. 4, p. 761-768, 2006.

ZANON, A.J. et al. Climate and Management Factors Influence Soybean Yield Potential in a Subtropical Environment. Agronomy Journal, v. 108, n. 4, p. 1447-1454, 2016. Disponível em: <http://dx.doi.org/10.2134/agronj2015.0535> Acesso em: 10 Maio de 2017

ZANON, A.J. et al. Ecofisiologia da soja: visando altas produtividades. UFSM, 2018.

Informações dos autores:  

1Universidade Federal de Santa Maria – UFSM, Campus Camobi, Santa Maria, RS;

2Unipampa.

Disponível em: Anais da 42ª Reunião de Pesquisa de Soja da Região Sul, Três de Maio – RS, Brasil, 2018.

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