A cultura da soja está sujeita ao ataque de diferentes espécies de insetos-pragas no decorrer de todo seu ciclo. A ação de pragas de solo pode causar falhas na lavoura, pois estas se alimentam das sementes após a semeadura, raízes após a germinação e parte aérea das plântulas após a emergência.
A fim de evitar possíveis perdas na lavoura de soja devido ao ataque de pragas do solo e da parte aérea, tem-se como alternativa o uso preventivo de inseticidas no tratamento de sementes, evitando assim possíveis danos nas sementes e plântulas. Esta prática de manejo proporciona à planta condições de defesa, permitindo maior potencial para o desenvolvimento inicial da cultura e obtenção de um estande de plantas adequado (BAUDET & PESKE, 2007).
O hábito de tratar as sementes para o plantio é uma prática muito antiga e que apresenta grande eficácia no controle de pragas do solo. Além disso, este método auxilia na redução do número de pulverizações foliares, contribuindo assim com a preservação de insetos benéficos e do meio ambiente como um todo.
Figura 1. Tratamento se sementes em soja.
Fonte: Revista Agrícola, 2017.
O tamanduá-da-soja (Sternechus subsignatus), o piolho-de-cobra (Plusioporus setifer e Julus sp.) e o coró da soja (Phyllophaga cuyabana) são exemplos de pragas iniciais da soja. Estes insetos atacam as lavouras em seu estágio inicial, logo após a emergência das plântulas, e podem comprometer o estabelecimento da cultura, consequentemente reduzindo o rendimento de grãos da lavoura.
Os danos causados pelos corós à soja são indiretos. Ao consumirem as raízes, prejudicam a capacidade das plantas de absorverem água e nutrientes, o que afeta, consequentemente, o seu potencial produtivo. Os sintomas visuais do ataque de corós na soja vão desde o amarelecimento das folhas até a morte das plantas, especialmente quando a presença de larvas mais desenvolvidas coincide com a fase inicial de desenvolvimento da cultura (ÁVILA & GOMEZ, 2003).
Segundo Ávila e Gomez (2003), a aplicação preventiva de inseticidas nas sementes e no sulco de semeadura da soja é uma alternativa eficiente para o manejo de corós, especialmente em sistemas de plantio direto.
Figura 2. Coró da soja, Phyllophaga cuyabana.
Fonte: Juliane M. Lemos Blainski, 2018.
Logo após a germinação da soja é comum também ocorrer ataques da lagarta elasmo, Elasmopalpus lignosellus, a qual perfura a região do colo da planta e faz galerias no interior do caule, causando assim o tombamento ou morte da planta.
Figura 3. Lagarta em fase inicial da soja.
Fonte: AgroPrecision, 2020.
Ademais, ao longo do desenvolvimento das plantas de soja, as lagartas desfolhadoras também vão se estabelecendo na cultura. Por exemplo, a lagarta-da-soja, Anticarsia gemmatalis, é uma praga altamente polífaga, e pode causar até 100% de desfolha nas plantas. Outra espécie comum nos cultivos de soja é a lagarta falsa-medideira, Chrysodeixis includens, considerada como praga de interesse devido ao seu potencial de dano.
O tratamento de sementes com inseticidas é um método eficaz de proteção de sementes e plântulas contra pragas iniciais. Destacam-se para o uso em tratamento de sementes, visando o controle de lepidópteros (ou seja, lagartas), inseticidas como clorantraniliprole e ciantraniliprole, do grupo das diamidas. Já o inseticida fipronil, com efeito de contato e ingestão, faz parte do grupo dos pirazóis, e é amplamente utilizado no tratamento de sementes de soja e no controle de grande número de pragas (VIEIRA et al., 2017).
Segundo Vieira et al. (2017), estudos mostram que tratamentos químicos aplicados nas sementes da soja reduzem o número de plantas atacadas por lagarta elasmo, e podem reduzir o consumo foliar de lagartas falsa-medideira e da lagarta-da-soja. Portanto, o tratamento de sementes é uma estratégia eficiente e recomendável de manejo na cultura da soja, conferindo proteção às plantas contra o ataque de pragas durante seu estágio inicial de desenvolvimento e minimizando os danos e perdas de produção.
Revisão: Henrique Pozebon, Mestrando PPGAgro e Prof. Jonas Arnemann, PhD. e Coordenador do Grupo de Manejo e Genética de Pragas – UFSM
REFERÊNCIAS:
ÁVILA, Crébio José; GOMEZ, Sérgio Arce. Efeito de inseticidas aplicados nas sementes e no sulco de semeadura, na presença do coró-da-soja, Phyllophaga cuyabana. Embrapa Agropecuária Oeste-Documentos (INFOTECA-E), 2003.
BAUDET, L.; PESKE, F. Aumentando o desempenho das sementes. Seed News, v.9, n.5, p.22-24, 2007.
DAN, Lilian Gomes de Moraes et al. Qualidade fisiológica de sementes de soja tratadas com inseticidas sob efeito do armazenamento. Revista Brasileira de Sementes, v. 32, n. 2, p. 131-139, 2010.
HENNING, Ademir Assis. Patologia e tratamento de sementes: noções gerais. Embrapa Soja-Documentos (INFOTECA-E), 2005.
HOFFMANN-CAMPO, Clara Beatriz et al. Pragas da soja no Brasil e seu manejo integrado. Londrina: Embrapa soja, 2000.
HOFFMANN-CAMPO, Clara Beatriz. Pragas iniciais da soja:” tamanduá-da-soja”,” piolho-de-cobra” e” torrãozinho”. In: Embrapa Soja-Artigo em anais de congresso (ALICE). In: SEMINÁRIO DE MANEJO DE PRAGAS E DOENÇAS INICIAIS DAS CULTURAS DE SOJA E
MILHO EM MATO GROSSO DO SUL, 1., 2002, Dourados. Anais… Dourados: Embrapa Agropecuária Oeste, 2002., 2002.
OLIVEIRA, Segundo et al. PRINCIPAIS PRAGAS INICIAIS PARA AS CULTURAS DE SOJA E MILHO. 2014.
VIEIRA, Elizete Cavalcante de Souza et al. Efeito de inseticidas aplicados nas sementes de soja sobre o controle da lagarta-elasmo e na mortalidade e consumo foliar de lagartas desfolhadoras da cultura. 2017.