Os afídeos, popularmente conhecidos como pulgões, são as principais pragas na cultura do trigo e demais cereais de inverno no Brasil.  Salvadori (1999), afirma que os pulgões ou afídeos que atacam plantas de trigo causam danos tanto diretos quanto indiretos, ao se alimentarem ocasionam danos diretos, devido a sucção da seiva. Já os danos que causam de maneira indireta, são através da transmissão de doenças e injeção de toxinas.

De acordo com Salvadori & Pereira (2021), durante a década de 1970, houve um aumento significativo da população de pulgões ou afídeos (Hemiptera, Aphididae), com severas infestações sendo as principais espécies constatadas a Metopolophium dirhodum, também conhecido como pulgão-da-folha, e Sitobion avenae, o pulgão-da-espiga. Além dessas espécies, outras espécies de pulgões também são encontradas em plantações de trigo, como o pulgão-verde-dos-cereais (Schizaphis graminum), que foi a primeira espécie de pulgão registrada nas lavouras de trigo no Brasil. Completando a lista, há o pulgão-da-aveia (Rhopalosiphum padi), o pulgão-da-raíz (R. rufiabdominale) e o pulgão-do-milho (R. maidis).

Figura 1. 5. Colônias dos principais afídeos do trigo, compostas por ninfas e adultos ápteros: pulgão-verde-dos-cereais (Schizaphis graminum) (A), pulgão-do-colmo-do-trigo ou pulgão-da-aveia (Rhopalosiphum padi) (B), pulgão-da-espiga-do-trigo (Sitobion avenae) (C), pulgão-da-folha-do-trigo (Metopolophium dirhodum) (D), pulgão-preto-dos-cereais (Sipha maydis) (E) e pulgão-do-milho (Rhopalosiphum maidis) (F).

Fotos: Douglas Lau (A, C, E, F), Paulo Roberto Valle da Silva Pereira (B, D).

Conforme Salvadori & Pereira (2021), os pulgões são pequenos insetos, seu tamanho pode variar de 1,5 a 3,0 mm, caracterizados por apresentar corpo mole e piriforme, com longas antenas. O aparelho bucal é do tipo picador-sugador e o seu processo de desenvolvimento é paurometabólico, o que implica em uma metamorfose incompleta. Os pulgões apresentam alta capacidade reprodutiva, sua reprodução ocorre por viviparidade e partenogênese telítoca, e vivem em colônias sobre as plantas.

Os autores destacam ainda, que sua propagação corre através do vento, permitindo-lhes percorrer centenas de quilômetros, apresentam ciclo de vida curto, podendo completar uma geração a cada semana, sendo capaz de originar até 10 ninfas por fêmea por dia. Fatores climáticos também desempenham um papel fundamental em sua biologia, temperaturas moderadas, variando entre 18 e 25°C, e períodos de baixa precipitação oferecem condições ideais para o seu desenvolvimento e multiplicação. Em contrapartida, climas frios têm o efeito de estender o ciclo de vida dos pulgões e inibir seu índice de multiplicação. De acordo com Pereira et al. (2010), os pulgões que ocorrem no trigo têm como hospedeiros outros cereais de inverno, como aveia, centeio, cevada, triticale e outras gramíneas.



Pereira et al. (2010), afirmam que os danos diretos ocorrem devido à sucção da seiva pelas pragas, o que resulta em consequências negativas para o rendimento dos grãos. Isso inclui a diminuição do tamanho, número, peso e poder germinativo das sementes produzidas. Além dos danos diretos, os pulgões também têm um impacto indireto significativo, eles atuam como vetores de vírus fitopatogênicos que podem infectar as plantas de trigo. Entre esses vírus, destacam-se o Barley Yellow Dwarf Virus (BYDV), também conhecido como Vírus do Nanismo Amarelo da Cevada (VNAC), e o Cereal Yellow Dwarf Virus (CYDV), conhecido como Vírus do Nanismo Amarelo dos Cereais. Esses vírus têm a capacidade de reduzir o potencial de produção do trigo, afetando a sua qualidade e quantidade.

Salvadori et al. (2006), destacam que tanto as ninfas jovens de pulgões quanto os adultos se alimentam das plantas de trigo, e diferentes espécies podem surgir ao longo do ciclo da cultura. Isso resulta em danos que afetam o trigo desde o momento da sua emergência até a fase em que os grãos atingem a maturação (estádio de grão em massa), além disso, as espécies S. graminium e R. padi apresentam um dano adicional devido à toxicidade de suas secreções salivares, provocando sintomas de clorose, ressecamento das folhas e até mesmo a morte. Pereira et al. (2010), afirmam que as viroses têm potencial de induzir o nanismo nas plantas, as folhas apresentam uma coloração amarela intensa frequentemente acompanhadas por bordas arroxeadas, ficam mais curtas e eretas, em situações de altas infestações, podem causar a morte das plântulas.

De acordo com Cunha & Caierão (2023), a redução média de rendimento causadas pela transmissão do vírus (BYDV), pode chegar a 20% quando não realizado controle químico. Quando a transmissão ocorre durante as fases iniciais de desenvolvimento, a redução média de rendimento de grãos pela planta infectada, nas variedades de trigo utilizadas no Brasil, pode variar entre 40 e 50%. Em algumas cultivares, especialmente aquelas cultivares que são suscetíveis e intolerantes ao Vírus do Nanismo da Cevada (VNAC), os danos podem chegar a níveis de 60 e 80% de redução de rendimento de grãos.

Figura 2. Danos diretos e indiretos causados por afídeos: necrose em sítio de alimentação de Schizaphis graminum (A); clorose e necrose no sítio de alimentação de Sipha flava (B). Danos indiretos devido à transmissão de barley yellow dwarf virus (BYDV): sintoma de amarelecimento em folha bandeira (C); visão geral dos sintomas, planta sadia (à esquerda) e planta infectada (à direita) (D); grãos em planta sadia (E) e grãos menores, malformados e encarquilhados, de planta infectada por BYDV (F)

Fotos: Douglas Lau (B, C, D, E, F), Paulo Roberto Valle da Silva Pereira (A).

Salvatori & Pereira et al. (2021), destacam que o controle de pulgões pode ser efetivamente realizado por meio da aplicação de inseticidas via pulverizações. O monitoramento e critérios para a tomada de decisão para o controle de pulgões no trigo, devem seguir os critérios, conforme a tabela 1, a seguir.

Tabela 1. Monitoramento e critérios para tomada de decisão no controle de pulgões em trigo.

Fonte: Cunha & Caierão (2023).

Além disso, um método viável indicado é o tratamento de sementes. A seguir, na tabela 2, podemos observar os inseticidas indicados para o tratamento de sementes de acordo com o inseto-alvo a ser controlado, incluindo informações sobre concentrações e ingredientes ativos correspondentes.

Tabela 2. Inseticidas para o controle de pulgões em trigo (tratamento de sementes) Metopolophium dirhodum e Schizaphis graminum (sinonímia Rhapalosiphum graminum e Rhopalosiphum graminum). Ingrediente ativo, grupo químico, marca comercial, formulação, concentração do ingrediente ativo e inseto-alvo.

Fonte: Cunha & Caierão (2023).

A prática do monitoramento é de extrema importância quando se trata de qualquer praga que possa afetar a cultura. O monitoramento constante para avaliar a eventual necessidade de intervenção é fundamental. Como uma estratégia preventiva e de proteção das plantas durante suas fases iniciais, uma alternativa eficiente é a aplicação de tratamento de sementes antes da semeadura do trigo. Quando ocorrem infestações de pulgões que atingem os níveis que requerem intervenção, recomenda-se a aplicação de inseticidas.

Contudo, o manejo integrado no trigo, associando o controle químico com o controle biológico é muito importante para o controle de pulgões na cultura do trigo. Salvadori et al. (2006), ressaltam a importância de adotar práticas agrícolas que não apenas visam o controle direto das pragas, mas também promovem a conservação, preservação e até mesmo o aumento dos inimigos naturais presentes na natureza, que são capazes de realizar o controle biológico.

Para atingir esse objetivo, a implementação de práticas como o manejo conservacionista do solo, a adoção do plantio direto e da diversificação de culturas são importantes. Essas práticas não apenas beneficiam o solo, mas também proporcionam um ambiente propício para o estabelecimento, a sobrevivência e a multiplicação dos inimigos naturais das pragas, como predadores e parasitoides.


Veja mais: Controle Biológico de Pragas



Referências:

CUNHA, G. R.; CAIERÃO, E. INFORMAÇÕES TÉCNICAS PARA TRIGO E TRITICALE SAFRA 2023. Embrapa, Brasília – DF, 2023. Disponível em: < https://ainfo.cnptia.embrapa.br/digital/bitstream/doc/1153536/1/InformacoesTecnicasTrigoTriticale-Safra2023.pdf >, acesso em: 10/08/2023.

PEREIRA, P. R. V. S.; SALVADORI, J. R.; LAU, D. TRIGO: MANEJO INTEGRADO DE PRAGAS. Embrapa Trigo – Senar, Curitiba – PR, 2010. Disponível em: < https://ainfo.cnptia.embrapa.br/digital/bitstream/item/126897/1/ID-42118.pdf >, acesso em: 10/08/2023.

SALVADORI, J. R. CONTROLE BIOLÓGICO DE PULGÕES DE TRIGO: O SUCESSO QUE PERDURA. Comunicado Técnico online n° 27, Embrapa Trigo, 1999. Disponível em: < http://www.cnpt.embrapa.br/biblio/p_co27.htm >, acesso em: 10/08/2023.

SALVADORI, J. R. et al. PRAGAS DA CULTURA DO TRIGO. Documentos 200, Embrapa Trigo, Passo Fundo – RS, 2022. Disponível em: < https://ainfo.cnptia.embrapa.br/digital/bitstream/item/243709/1/Documentos-200-online-VFinal-ODS.pdf >, acesso em: 10/08/2023.

SALVADORI, J. R.; PEREIRA, P. R. V. S. PRAGAS DO TRIGO: PULGÕES. Embrapa, 2021. Disponível em: < https://www.embrapa.br/en/agencia-de-informacao-tecnologica/cultivos/trigo/producao/insetos/pulgoes >, acesso em: 10/08/2023.

SALVADORI, J. R.; PEREIRA, P. R. V. S.; VOSS, M. CONTROLE BIOLÓGICO DE PRAGAS DO TRIGO. Controle Biológico de Pragas na Prática, Piracicaba – SP, 2006. Disponível em: < https://www.alice.cnptia.embrapa.br/alice/bitstream/doc/841109/1/SP15388.pdf >, acesso em: 10/08/2023.

Foto Capa: Douglas Lau

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Redação: Vívian Oliveira Costa, Eng. Agrônoma pela Universidade Federal de Santa Maria.

 

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