O controle de plantas daninhas é uma tarefa cada vez mais complexa em soja. Herbicidas tradicionalmente utilizados na pós-emergência da cultura como o glifosato (em soja RR), já não apresentam desempenho satisfatório dependendo da planta daninha a ser controlada, em função dos casos de resistência a herbicidas. Como alternativas de manejo, além da rotação de mecanismos de ação de herbicidas, variedades transgênicas de soja e melhoradas geneticamente, possibilitam a introdução de herbicidas como estratégia no controle de plantas daninhas, antes considerados não seletivos para a cultura, dentre esses herbicidas, destaca-se o Dicamba.

As cultivares de soja com tecnologia Intacta 2 Xtend® e tecnologia Xtend® são tolerantes ao herbicida Dicamba, herbicida, que até então, proporciona eficácia no controle da maioria das plantas daninhas de folhas largas, como buva, caruru, corda-de-viola, picão-preto, entre outras (Embrapa). Entretanto, é conhecido que as variedades não tolerantes são altamente sensíveis a esse herbicida, de forma que a presença dele na área, seja por deriva de outras áreas ou devido resíduos de tanques, pode resultar em danos significativos à cultura.

O Dicamba, classificado no grupo O (HRAC-BR) como herbicida mimetizador de auxinas, destaca-se como um herbicida hormonal de ação sistêmica. Pertencente à classe doa ácidos benzóicos, é recomendado para aplicação em área total na pós-emergência das plantas daninhas e em pós-emergência das culturas como algodão e soja geneticamente modificadas (2 Xtend® e Xtend®), tolerantes ao herbicida Dicamba.

No entanto, sob condições adversas de aplicação, os herbicidas podem sofrer deriva. A deriva ocorre quando as condições meteorológicas, como vento, temperatura e umidade, facilitam o movimento das moléculas do herbicida para áreas não-alvo, esse deslocamento pode resultar em danos em áreas vizinhas, levando a injúrias a à redução da eficácia de controle.

Figura 1. Efeito de fitotoxicidade de Dicamba em soja não tolerante.

Fonte: Universidade de Nebraska-Lincoln (2019).

A volatilização e deriva são considerados problemas comuns em herbicidas mimetizadores de auxinas, como o Dicamba. De acordo com Monquero & Silva (2021), a deriva de herbicidas auxínicos vêm se tornando uma preocupação cada vez maior devido as variedades tolerantes ao herbicida, que leva a um aumento significativo da utilização do produtos com essa molécula. A deriva do Dicamba pode resultar em perdas qualitativas e quantitativas em culturas sensíveis devido ao alto potencial em ocasionar efeito fitotóxico.

Um estudo realizado por Alves et al. (2021) com o objetivo de avaliar os sintomas de injúrias de soja não tolerante ao Dicamba (ácido 3,6-dicloro-2-metoxibenzóico), bem como a produtividade da cultura após a aplicação de subdoses do herbicida em V3 e R1, constataram que doses inferiores a 28,8 g ha-1 causaram menores danos quando aplicadas no estágio R1, no entanto, não foram observadas diferenças significativas na produtividade entre os estágios. O estudo revelou que uma deriva de dicamba de 1%, em condições tropicais, resulta em uma redução de 12% na produtividade da soja.

Figura 2. Curvas taxa-resposta da estimativa de injúria visível 14 dias após aplicação do herbicida (A) e produtividade (B) obtida para a cultivar de soja Nidera 6906 RR2 IPRO (Glycine max) em função da aplicação de doses de dicamba (ácido equivalente) em dois estádios fenológicos da cultura. V3, estádio vegetativo; e R1, estágio reprodutivo.

Fonte: Alves et al. (2021).

Resultados similares, obtidos por Vieira (2018), avaliando os efeitos da aplicação do herbicida Dicamba na cultura da soja, também demonstraram que as injúrias, teor de clorofila e a produtividade da cultura variaram de acordo com o estádio de desenvolvimento da cultura e da quantidade de herbicida utilizado. O autor constatou que o aumento da dose de Dicamba resultou em um acréscimo no percentual de injúria, enquanto o teor de clorofila nas folhas e a produtividade da cultura apresentaram uma redução exponencial.  Os resultados deixaram evidente a relação entre os fatores, com o incremento na injuria visual nas plantas ocorreu simultaneamente a redução do teor de clorofila e a redução na produtividade da cultura.

Nesse sentido, fica evidente que a deriva do herbicida Dicamba em soja não tolerante causa prejuízos ocasionando perdas de rendimento, além disso, os efeitos das doses de Dicamba na soja dependem do estádio fenológico em que a planta foi exposta ao herbicida.



De acordo com informações da Embrapa, para a correta aplicação do herbicida Dicamba no manejo de plantas daninhas pré-semeadura da soja, é essencial seguir rigorosamente as orientações fornecidas. A regulagem adequada do equipamento de pulverização é crucial para evitar riscos de contaminação ao homem e ao ambiente. No caso de cultivares tolerantes ao Dicamba, não há restrições quanto ao intervalo entre a aplicação e a semeadura, no entanto, para a soja não tolerante, é essencial respeitar o intervalo de 30-60 dias. Cuidados especiais devem ser tomados ao aplicar o herbicida em áreas próximas a culturas sensíveis, como a soja não tolerante, mantendo uma distância mínima de 50 metros.

As condições meteorológicas durante a aplicação também desempenham um papel importante, a velocidade do vento deve estar entre 03 km h-1 a 10 km h-1, com temperatura inferior a 30 ºC e umidade relativa do ar acima de 55%. A aplicação noturna deve ser evitada, e em caso de inversão térmica, a aplicação deve ser interrompida para prevenir riscos de deriva e volatilidade. Recomenda-se o uso de formulações de sal de Diglicolamina (DGA) e a adição de protetores comprovadamente eficazes na redução da volatilidade (Embrapa).

A escolha adequada da ponta de aplicação é essencial para minimizar os riscos de deriva, sendo preferíveis aquelas que produzem gotas extremamente grossas a ultra grossas. O volume de calda deve estar entre 100 L ha-1 a 150 L ha-1, seguindo a pressão de trabalho recomendada pelo fabricante e mantendo a barra pulverizadora a, no máximo, 50 cm de altura do alvo. A velocidade de deslocamento do equipamento deve ser baixa e ajustada à topografia e às condições do terreno.

Evitar a adição de redutores de pH, produtos ácidos ou à base de sal de amônio é crucial durante o processo de aplicação. Além disso, é fundamental não deixar a calda preparada de um dia para o outro no tanque de pulverização ou no sistema, garantindo uma tríplice lavagem do equipamento. O descarte adequado das águas de lavagem conforme a legislação local é essencial para evitar a contaminação ambiental. A utilização da calda logo após o preparo auxilia na redução do acúmulo de resíduos e na contaminação das partes do pulverizador, como barras, pontas, filtros e mangueiras (Embrapa).


Veja mais: Intervalo entre aplicação de herbicidas e semeadura da cultura


Referências:

ALVES, G. S. et al. PHYTOTOXICITY IN SOYBEAN CROP CAUSED BY SIMULATED DICAMBA DRIFT. Pesquisa Agropecuária Brasileira, v. 56, 2021. Disponível em: < https://seer.sct.embrapa.br/index.php/pab/article/download/26912/14872 >, acesso em: 29/12/2023.

EMBRAPA. HERBICIDA DICAMBA | INTACTA 2 XTEND. Embrapa, portfólio de cultivares de soja, sistema intacta2. Disponível em: < https://www.embrapa.br/soja/intacta2/dicamba >, acesso em: 29/12/2023.

MONQUERO, P. A.; SILVA, P. V. COMPORTAMENTO DE HERBICIDAS NO AMBIENTE. Matologia: estudos sobre plantas daninhas, cap. 8, 2021.

VIEIRA, G. S. FITOTOXIDADE CAUSADA POR DERIVA SIMULADA DO HERBICIDA DICAMBA NA CULTURA DA SOJA. Trabalho de Conclusão de Curso, Universidade Federal de Uberlândia, 2018. Disponível em: < https://repositorio.ufu.br/bitstream/123456789/23787/2/FitotoxidadeCausadaDeriva.pdf >, acesso em: 29/12/2023.

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