Os nematoides fitopatogênicos, ou fitonematoides como são popularmente conhecidos, são pragas de solo que acometem a cultura da soja, causando significativas perdas de produtividade. Os danos podem variar em função da espécie, sendo observados normalmente em reboleiras na lavoura.

Os sintomas mais comuns dos nematoide em soja são a redução do estande de plantas, redução da estatura das plantas sobreviventes, lesões e formação de galhas nas raízes da soja (dependendo da espécie), redução do volume radicular e o amarelecimento da parte aérea das plantas.

Figura 1. Danos de nematoides em soja.

Foto: Divulgação Embrapa Agropecuária Oeste

Dentre as principais espécies que acometem a cultura da soja, podemos destacar o nematoide das galhas (Meloidogyne spp.), nematoide de cisto da soja (Heterodera glycines), nematoide reniforme (Rotylenchulus reniformis) e o nematoide das lesões radiculares (Pratylenchus brachyurus).

Figura 2. Raízes de soja sem (a) e com (b) o ataque do nematoide das lesões radiculares.

Fonte: Dias et al. (2010), apud. Grigolli & Grigolli (2018)

Com exceção do nematoide da haste verde (Aphelenchoides besseyi) que acomete a parte área da soja (Favoreto; Meyer, 2019), os demais nematoides fitopatogênicos são considerados pragas de solo, fato que dificulta ainda mais o controle e manejo desses agentes, principalmente pela dificuldade em atingir o alvo com a aplicação de defensivos agrícolas.

Visando contornar esse problema, além do controle cultural com o cultivo de espécies não hospedeira de nematoides, uma das principais estratégias disponíveis é o controle biológico com o emprego de biodefensivos, normalmente fungos e bactérias.

Quais são os principais microrganismos utilizados no controle biológico de fitonematoides?

Dentre os fungos adotados para o controle de nematoides, estão aqueles classificados como quitinolíticos, que inclui as espécies Purpureocillium lilacinum (syn. Paecilomyces lilacinus) e Pochonia chlamydosporia, e os produtores de metabólitos tóxicos e indutores de resistência, como Trichoderma spp., (Dias-Arieira et al., 2022).

Conforme destacado por Dias-Arieira et al. (2022), quando empregados corretamente, a eficiência desses fungos no controle biológico de nematoides pode ser superior a 70%, principalmente se tratando de espécies como o Meloidogyne spp. Esses fungos são considerados oportunistas, atuando principalmente no parasitismo de ovos e fêmeas dos nematoides, e na indução de resistência em plantas.



Segundo resultados de pesquisa, sob condições controladas, o emprego do Purpureocillium lilacinum possibilitou redução na reprodução do Meloidogyne javanica de 42% a 56%, enquanto o Pochonia chlamydosporia possibilitou a redução da reprodução desse nematoide variando de 45% a 72%. Já quando empregado no tratamento de sementes de soja, o Purpureocillium lilacinum promoveu reduções na população de Pratylenchus brachyurus variando de 26% a 65% (Dias-Arieira et al., 2022).

Não menos importante, Dias-Arieira (2022) destacam os fungos do gênero Trichoderma sp., os quais possuem comportamento antagonista direto contra vários organismos fitopatogênicos, incluindo bactérias, nematoides e, especialmente, fungos. A presença de Trichoderma sp. estimula a defesa inicial da planta mediada por ácido salicílico, o que protege as raízes contra a penetração dos nematoides, reduzindo a infecção pela praga, redução do número de ovos e reprodução dos nematoides.

Logo, o Trichoderma sp. atua principalmente como indutor de resistência das plantas aos nematoides. Além da indução de resistência, Trichoderma spp., pode atuar no controle de nematoides pela produção de metabólitos secundários, que proporcionam redução na eclosão e elevada mortalidade de juvenis de M. incognita em condições in vitro (Dias-Arieira et al., 2022).

Outro grupo de microrganismos com significativa importância no manejo e controle de nematoides são as bactérias. Embora dezenas de gêneros façam parte desse grupo de microrganismos, um gênero em específico se destaca no manejo dos nematoides, trata-se das bactérias do gênero Bacillus.

Embora não sejam consideradas parasitas dos nematoides, Dias-Arieira et al. (2022) destacam que essas bactérias apresentam múltiplas formas de ação, sendo eles: formação de biofilme metabolicamente ativo no rizoplano, competição por sítio de penetração, alteração da rizosfera, promoção de crescimento de plantas, indução de resistência e a antibiose. A antibiose é o método de ação mais comum entre Bacillus spp. e é caracterizada pela produção e liberação de uma série de substâncias no solo, que podem ter ação sobre os nematoides por interferir no desenvolvimento embrionário, afetando a formação de juvenis de segundo estágio ou sua eclosão.

Ainda que muito se questione sobre a espécie de bactérias que confira maior controle dos nematoides, cabe destacar que a eficiência de controle por parte desses microrganismos está diretamente relacionada a cepa e não espécie em si. Atualmente, o Brasil possui mais de 50 produtos registrados junto ao MAPA para o controle biológico de nematoides, dos quais 40 são nematicidas biológicos envolvendo diferentes cepas das espécies Bacillus subtilis, B. amyloliquefasciens, B. firmus, B. licheniformis, B. methylotrophicus e B. velezensis (Dias-Arieira et al., 2022).

Confira o trabalho completo de Dias-Arieira e colaboradores (2022) clicando aqui!

Referências:

DIAS-ARIEIRA, C. R. et al. MANEJO BIOLÓGICO DE NEMATOIDES. BIOINSUMOS NA CULTURA DA SOJA. Embrapa, cap. 20, 2022. Disponível em: < https://www.embrapa.br/busca-de-publicacoes/-/publicacao/1143066/bioinsumos-na-cultura-da-soja >, acesso em: 11/08/2022.

FAVORETO, L.; MEYER, M. C. O NEMATOIDE DA HASTE VERDE. Embrapa, Circular Técnica, n. 147, 2019. Disponível em: < https://www.infoteca.cnptia.embrapa.br/infoteca/bitstream/doc/1109351/1/CIRCULARTECNICA147.pdf >, acesso em: 11/08/2022.

GRIGOLLI, J. F. J.; GRIGOLLI, M. M. K. MANEJO DE NEMATOIDES NA CULTURA DA SOJA. Fundação MS, Tecnologia e Produção: Soja 2017/2018, 2018. Disponível em: < https://www.fundacaoms.org.br/wp-content/uploads/2021/02/httpswww.fundacaoms.org_.brpublicacoestecnologia-e-producao-safratecnologia-producao-soja-2017-2018.pdf >, acesso em: 11/08/2022.

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