O cultivo da soja é suscetível a uma variedade de pragas que podem prejudicar seu crescimento e desenvolvimento, além de serem capazes de reduzir significativamente a produtividade da cultura. Para garantir um bom rendimento, torna-se fundamental implementar técnicas de manejo que protejam a planta contra esses ataques e minimizem as perdas ocasionadas por essas pragas.

O controle de pragas na cultura da soja é essencial para prevenir perdas, seja em termos de quantidade como de qualidade dos grãos produzidos, tornando-se importante realizar o monitoramento das áreas de cultivo, com intuito de identificar a espécie. Para isso, é de extrema importância entender o ciclo de desenvolvimento da cultura, compreendendo as fases em que a cultura é mais suscetível e quais pragas ocorrem em cada estádio de desenvolvimento, facilitando o emprego de técnicas de manejo para mitigar os danos que essas pragas possam vir a ocasionar.

Para auxiliar nesse sentido, a utilização da escala de desenvolvimento da cultura é uma ferramenta muito importante, a escala mais utilizada é aquela proposta por Fehr et al. (1971). Ela desempenha um papel fundamental na identificação precisa dos estádios de crescimento e desenvolvimento da soja, permitindo uma melhor organização das estratégias de manejo e, assim, contribuindo para a proteção eficiente da cultura contra as pragas.

Figura 1. Descrição sumária dos estádios vegetativos e reprodutivos da soja, utilizada para plantas de tipo de crescimento determinado e indeterminado (Fehr et al., 1971).

Fonte: Carnevalli et al. (2022).

O entendimento da escala de desenvolvimento da cultura é fundamental para a implementação de estratégias de manejo mais eficientes, resultando em um manejo mais preciso. De acordo com Roggia et al. (2020), as lagartas e os percevejos destacam-se como o grupo de pragas mais importantes na cultura da soja. Nesse sentido, compreender o momento em que essas pragas ocorrem, bem como, o estádio em que a planta é mais suscetível ao ataque, é imprescindível.

Os danos causados por lagartas podem variar dependendo da espécie, sendo observadas tanto no período vegetativo, quanto no período reprodutivo da cultua. No caso dos percevejos, os danos mais expressivos ocorrem quando a praga ataca as plantas durante o período reprodutivo, especialmente durante a fase de enchimento de grãos.

Figura 2. Principais pragas da soja e parte da planta que atacam.

Fonte: Roggia et al. (2020).

A lagarta-da-soja (Anticarsia gemmatalis) é a principal praga desfolhadora que afeta as plantações de soja no Brasil, sua presença é amplamente difundida em todas as regiões de produção, representando uma ameaça significativa à produção e à qualidade das safras do país. Essa lagarta é responsável por causar danos severos à cultura da soja, que variam desde o desfolhamento até a destruição completa das plantas, é um inseto mastigador que se alimenta das folhas jovens da soja, e quando a folhagem é escassa, ataca outras partes da planta, incluindo pecíolos e hastes. Esse desfolhamento prejudica o processo de enchimento das vagens, diminuindo a área foliar responsável pela fotossíntese e, consequentemente, prejudicando a produção de grãos (Praça et al., 2006). Em condições de alta densidade populacional, conforme destacam Sosa-Gómez et al. (2014), caso não seja realizado o controle, essa praga pode provocar desfolhas elevadas, excedendo os 30%, esse nível de desfolha pode resultar em perdas significativas na produtividade da soja.



A lagarta falsa-medideira (Chrysodeixis includens) consome o parênquima foliar, deixando as nervuras, conferindo aos folíolos aspecto rendilhado, essa espécie apresenta difícil controle, quando comparada com a lagarta-da-soja (Sosa-Gómez et al., 2014). O desafio principal no controle da lagarta-falsa-medideira está relacionado, em parte, na sua preferência por habitar em maior densidade nas folhas inferiores das plantas, ficando menos expostas aos inseticidas aplicados para seu controle. Esse problema é agravado pelo fato de que os ataques mais intensos geralmente ocorrem durante uma fase reprodutiva da cultura, quando o dossel das plantas de soja já está completamente fechado (Roggia et al., 2020).

O percevejo marrom (Euschistus heros), é considerado o percevejo mais comum e abundante na cultura da soja, os danos ocasionados por essa espécie, resultam da alimentação de adultos e ninfas nas vagens e grãos, causando perdas de rendimentos e afetando a qualidade da semente. Um aspecto importante a ser considerado antes de adotar medidas de controle é a ocorrência de populações resistentes a inseticidas (Sosa-Gómez et al., 2014).

Além de entender o estádio de desenvolvimento da cultura, identificar a espécie da praga que está presente na lavoura e os danos que ela causa, é preciso estar atento ao nível de ação adotados para o manejo e controle dessas pragas, tais níveis são estabelecidos com base em pesquisas que avaliam o potencial da praga em causar danos, bem como o custo associado ao seu controle.

Figura 3. Níveis de ação usados no controle para lagartas e percevejos da soja.

Fonte: Carnevalli et al. (2022).

Conforme destacam Roggia et al. (2020), para percevejos e lagartas o uso do pano-de-batida é fundamental para estimar corretamente a densidade da praga na lavoura, uma vez que a simples observação visual não reflete com precisão a população real da praga. Os autores ressaltam ainda, que o controle de percevejos deve ser realizado apenas a partir do estádio fenológico R3, embora o monitoramento deva ocorrer durante todo o ciclo de desenvolvimento da cultura. Isso se torna relevante quando se opta por estratégias de manejo além do uso de inseticidas, como o controle biológico, com a liberação do parasitoide de ovos Telenomus podisi, onde é importante conhecer o início da infestação dos adultos, independentemente do estágio de desenvolvimento fenológico da cultura.

Sem dúvida, a amostragem é fundamental no processo de tomada de decisão, especialmente no contexto do manejo integrado de pragas (MIP). A identificação das espécies presentes na área de cultivo, bem como o nível de ação, é decisiva para orientar as escolhas relacionadas ao manejo e às medidas de controle, permitindo a seleção possibilita a seleção de inseticidas em doses eficazes, resultando em um controle mais eficiente e na redução dos riscos associados às perdas na produção.


Veja mais: Exigências Nutricionais da Soja



Referências:

CARNEVALLI, R. A. et al. RESULTADOS DO MANEJO INTEGRADO DE PRAGAS DA SOJA NA SAFRA 2021/2022 NO PARANÁ. Documentos 448, Embrapa Soja. Londrina – PR, 2022. Disponível em: < https://ainfo.cnptia.embrapa.br/digital/bitstream/item/242605/1/Doc-448-final.pdf >, acesso em: 25/09/2023.

PRAÇA, L. B.; SILVA NETO, S. P.; MONNERAT, R. G. Anticarsia gemmatalis Hübner, 1818 (Lepidoptera: Noctuidae) BIOLOGIA, AMOSTRAGEM E MÉTODOS DE CONTROLE. Documentos 196, Embrapa. Brasília – DF, 2006. Disponível em: < https://ainfo.cnptia.embrapa.br/digital/bitstream/CENARGEN/27983/1/doc196.pdf >, acesso em: 25/09/2023.

ROGGIA, S. et al. MANEJO INTEGRADO DE PRAGAS. Tecnologias de Produção de Soja, Sistemas de produção 17, cap. 9., Embrapa Soja. Londrina – PR, 2020. Disponível em: < https://ainfo.cnptia.embrapa.br/digital/bitstream/item/223209/1/SP-17-2020-online-1.pdf >, acesso em: 25/09/2023.

SOSA-GÓMEZ, D. R. et al. MANUAL DE IDENTIFICAÇÃO DE INSETOS E OUTROS INVERTEBRADOS DA CULTURA DA SOJA. Documentos 269, Embrapa Soja. Londrina – PR, 2014. Disponível em: < https://ainfo.cnptia.embrapa.br/digital/bitstream/item/105924/1/Doc269-OL.pdf >, acesso em: 25/09/2023.

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