Por Marcelo Sá – jornalista/editor e produtor literário 

A disputa tarifária que vem marcando o ano de 2025 e afetando o comércio internacional teve novo capítulo na semana passada. Os presidentes dos Estados Unidos, Donald Trump, e da China, Xi Jinping, se encontraram em Busan, na Coreia do Sul, na última quinta-feira, 30 de outubro. A reunião sinalizou uma trégua parcial na disputa entre as duas maiores economias do mundo e a retomada das compras chinesas de produtos agrícolas americanos, inclusive a soja. Isso pode ter repercussões para o agronegócio brasileiro, já que os produtores nacionais vinham aproveitando o embargo tácito dos chineses, que não tinham comprado o grão americano até esse momento da safra, para escoar ainda mais volume da oleaginosa rumo ao país asiático.

O panorama mudou. Segundo agências internacionais, a estatal chinesa Cofco comprou três carregamentos de soja americana, somando cerca de 180 mil toneladas, com embarques previstos entre dezembro e janeiro. A transação aconteceu às vésperas do encontro entre Trump e Xi Jinping, o que mostrou uma boa vontade política na operação. Mediante concessões mútuas, o apetite chinês pela soja brasileira pode cair gradualmente, se houver um entendimento maior com os americanos. O secretário do Tesouro dos Estados Unidos, Scott Bessent, anunciou que os chineses devem comprar 12 milhões de toneladas de soja entre agora e janeiro e 25 milhões de toneladas por ano, durante os próximos três anos.

A China também suspenderá algumas tarifas sobre importações dos EUA, incluindo taxas adicionais sobre produtos agrícolas, como a soja. A informação foi divulgada pela agência estatal chinesa Xinhua. A suspensão de uma tarifa de 24% sobre certos produtos dos EUA será estendida por mais um ano, mantendo uma taxa de 10%, segundo a Comissão de Tarifas Aduaneiras do Conselho de Estado em um comunicado na última quarta-feira (5/11). As medidas entrarão em vigor em 10 de novembro.

Um acordo entre as duas maiores economias do mundo pode reiniciar um comércio que movimentou mais de US$ 12 bilhões no ano passado, reabrindo o acesso ao maior consumidor mundial de soja para os produtores americanos, que vêm enfrentando uma prolongada pressão financeira. Os vendedores de grãos estavam otimistas de que China e Estados Unidos chegariam a um acordo nesta semana sobre produtos agrícolas, o que levou a uma alta nos preços da soja na Bolsa de Chicago. No entanto, eles continuam cautelosos quanto à quantidade de soja americana que a China realmente comprará nesta temporada. Não estão descartadas aquisições de outros produtos, como trigo, por exemplo.

Além da soja, os EUA vão diminuir as tarifas médias sobre produtos chineses para 47%, cerca de 10 pontos percentuais abaixo do valor anterior. A China aceitou suspender por um ano as restrições à exportação de terras raras e reforçar o combate ao tráfico de fentanil. Enquanto isso, mesmo após reunião entre o presidente Lula e Trump, o Brasil segue sem ter certeza de uma redução nas alíquotas impostas sobre seus produtos, inclusive itens agropecuários.

O significado dessa movimentação para o setor agropecuário nacional

Após a repercussão do encontro entre Trump e Xi Jinping, as cotações da soja brasileira caíram, o que levou o país asiático a reservar mais embarques, ironicamente. A médio e longo prazo, os desdobramentos são mais complexos e estão inseridos num contexto abrangente. O professor sênior e coordenador do Insper Agro Global, Marcos Jank, declarou ao jornal paranaense Gazeta do Povo que a sobretaxa americana – de 40%, além dos 10% já cobrados sobre exportações do Brasil – não chegou a ter grande impacto como inicialmente se esperava.

Ele ressaltou que, embora alguns setores tenham sido mais afetados do que outros, o conjunto de produtos que o agro brasileiro vende para os americanos representa pouco na balança comercial em comparação com a soja enviada ao mercado chinês. É por isso que a retomada das compras chinesas do grão americano tende a ser mais prejudicial ao agro brasileiro que o tarifaço em si.

Temos que acompanhar o acordo dos Estados Unidos com a China. Eles também estão negociando com a Europa, com a Índia, com vários outros países, e esse conjunto de acordos podem sair e ter impacto, sim, sobre o agro brasileiro”, ressaltou Jank.

Já a Associação dos Produtores de Soja e Milho do Mato Grosso (APROSOJA-MT) declarou, através de seu presidente, Lucas Beber, que “nos últimos três meses, a China tem batido o recorde de importação mês a mês, por não estar havendo negócios com os Estados Unidos”. Segundo ele, a situação ajudou o sojicultor, uma vez que o custo do crédito rural tem pesado cada vez mais no orçamento, o que tem feito com que os produtores do estado estejam reduzindo o uso de insumos, especialmente fertilizantes.

O interesse chinês levou a cotação nacional a se descolar da indexação da Bolsa de Chicago, aumentando a rentabilidade do produto. Com o acordo firmado entre Trump e o líder chinês Xi Jinping, e a retomada do fluxo comercial da oleaginosa entre os países, essa tendência deve sofrer uma quebra. Mato Grosso é o principal produtor de soja no Brasil, responsável por mais de 30% da safra nacional e mais de 25% das exportações do país neste ano, segundo o Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC).

Todos os segmentos seguem atentos à dinâmica entre Washington e Pequim, que reverberam fortemente mundo afora e afetam o setor agropecuário nacional, num ano já repleto de sobressaltos, contornados com resiliência e muito trabalho de produtores, entidades de representação e autoridades.

Com informações complementares do Ministério da Agricultura e Embrapa Soja.

Fonte: SNA



 

FONTE

Autor:Marcelo Sá - Sociedade Nacional de Agricultura

Site: SNA

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