Por Marcelo Sá – jornalista/editor e produtor literário 

Setor agropecuário aposta em mais cortes conforme tratativas avancem

A longa crise comercial que vem desgastando a relação entre Brasil e Estados Unidos teve, na última sexta-feira (14 de novembro), seu primeiro sinal concreto de arrefecimento. O presidente Donald Trump assinou ordem executiva suspendendo as tarifas recíprocas sobre o país, o que inclui gêneros alimentícios como carne, café, açaí e manga. São commodities importantes da pauta de exportação. A princípio, houve dúvida quanto à abrangência da medida, mas logo ficou claro que o decreto presidencial se referia à alíquota de 10% anunciada em abril para vários países. O acréscimo de 40%, em vigor desde agosto somente para o Brasil, permanece.

A decisão do governo americano vem na sequência de dois encontros, na semana passada, entre os chanceleres Mauro Vieira e Marco Rubio, como mostrou o Portal SNA. Foram meses de tratativas diplomáticas que envolveram também empresários, produtores e entidades de representação. Lula e Trump se reuniram na Malásia em outubro, enquanto outras autoridades dialogavam continuamente nos bastidores. O mercado americano passou a pressionar por flexibilização das barreiras, já que a inflação subiu como reflexo do tarifaço, sobretudo em itens dos quais o Brasil era o maior fornecedor.

As negociações prosseguem, para que novas isenções sejam obtidas. Embora alguns segmentos esperassem por tarifas zeradas desde já, a avaliação é que o corte de 10% foi o primeiro passo para futuras concessões. O Ministro da Agricultura, Carlos Fávaro, classificou a notícia como boa, mas ressaltou que segue atento a itens que ainda não tiveram flexibilização e disse que se reunirá com sua equipe para avaliar melhor o teor da decisão americana. Ele saudou o trabalho diplomático para que houvesse a distensão da crise entre os países, cuja relação “voltou à normalidade”, em suas palavras.

Reações diferentes, mas com expectativa de melhora

Marcos Matos, diretor geral do Cecafé (Conselho dos Exportadores de Café do Brasil), manifestou preocupação. “O café brasileiro estava sendo taxado em 50% nos EUA. Com o anúncio de sexta, a tarifa caiu para 40%, mas grandes concorrentes, como a Colômbia e o Vietnã, tiveram a sua tarifa zerada. Muitos já tinham acordo bilateral formado, outros estavam com 10% como a Colômbia e a Etiópia”, disse ele.

Já o presidente da Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carnes (Abiec), Roberto Perosa, adotou tom mais otimista. “É uma boa sinalização, os Estados Unidos são o nosso segundo maior mercado para a exportação de carne bovina e estavam fazendo falta. É um motivo de comemoração comedida, mas com uma perspectiva muito positiva para que a gente possa ter a retirada total das tarifas”, concluiu Perosa.

A Associação Brasileira dos Produtores Exportadores de Frutas e Derivados (Abrafrutas) viu a medida como um avanço relevante para o setor, mas disse que se preocupa com o fato de a uva, segunda fruta brasileira mais exportada para os EUA, ter ficado de fora da lista das exceções. “Mais de US$ 40 milhões foram enviados no ano passado só para os Estados Unidos. Então vai afetar”, disse o diretor-executivo da AbrafrutasEduardo Brandão.

O Brasil exporta uva para os EUA a partir de setembro, quando a colheita começa. Segundo a associação, as exportações da fruta para o país caíram 73% em valor e quase 68% em quantidade, no terceiro trimestre deste ano, em relação ao mesmo período de 2024.

Indústria também se manifesta

Representantes da indústria também alertaram para a urgência de negociar a eliminação das tarifas restantes. “Países sem essa sobretaxa terão mais vantagens para vender aos americanos”, disse Ricardo Alban, presidente da Confederação Nacional da Indústria. A CNI informou que a medida de Trump se aplica a 80 itens agrícolas vendidos pelo Brasil aos Estados Unidos. Porém, somente quatro – três tipos de suco de laranja e castanha-do-pará – ficam isentos de taxas. Os outros 76 produtos, incluindo carne bovina e café, continuam sujeitos à taxa de 40%.

Na ordem executiva de sexta-feira, Trump não se referiu especificamente a nenhum país, mas destacou que a decisão veio após ter recebido informações de autoridades que, sob sua orientação, monitoram os efeitos da ordem que estabeleceu o tarifaço.

Por fim, o vice-presidente e ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, Geraldo Alckmin, classificou a decisão dos Estados Unidos de reduzir tarifas de importação como “positiva”, representando “um passo na direção correta”. Ele, no entanto, destacou que a permanência da sobretaxa de 40%, aplicada exclusivamente ao Brasil, cria distorções e continua um obstáculo relevante para as exportações nacionais. “Vamos continuar trabalhando. A conversa do presidente Lula com Trump foi importante no sentido da negociação e, também, do chanceler Mauro Vieira com o secretário Marco Rubio“, comentou.

Fonte: SNA



 

FONTE

Autor:Marcelo Sá - Sociedade Nacional de Agricultura

Site: SNA

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