Embora a semeadura da safra 2020/21 da soja tenha sido tardia no Brasil, devido ao atraso das chuvas, posteriormente, o clima favoreceu as lavouras, resultando em produção recorde pela segunda temporada consecutiva, de 137,32 milhões de toneladas, de acordo com a Conab. Mesmo com a safra volumosa, na média de 2021, os preços domésticos registraram patamares recordes, em termos reais (deflacionados pelo IGP-DI de nov/21).
A temporada 2020/21 se iniciou com o menor estoque de passagem dos últimos sete anos (desde 2013/14), segundo o USDA. Além disso, mais da metade da produção de 2021 havia sido comercializada antecipadamente, o que deixou sojicultores atentos às entregas de contratos e resistentes em realizar novas vendas no spot nacional.
O maior volume de contratos teve como destino a exportação, devido ao câmbio atrativo. Os atrasos na semeadura e na colheita, no entanto, atrapalharam os agendamentos de embarques de exportação e elevaram os custos logísticos internos e externos. Quanto aos preços, a restrição para novas vendas se somou ao maior interesse comprador, fazendo com que, em abril e maio, especialmente, a oleaginosa tivesse valorização mais expressiva.
Já em junho, os valores se enfraqueceram, influenciados pela queda do dólar, pelo encerramento da colheita de soja na Argentina e pelo clima favorável às lavouras de soja nos Estados Unidos. Esse cenário ampliou a disparidade dos preços pedidos compradores e ofertados pelos vendedores, mantendo baixa a liquidez interna.
Porém, a partir de julho, as indústrias brasileiras começaram a sinalizar necessidade de repor os estoques do grão, acirrando a disputa com os consumidores internacionais. Com isso, de agosto a outubro, a diferença entre as médias dos Indicadores ESALQ/BM&FBovespa – Paranaguá (PR) e CEPEA/ESALQ – Paraná ficou abaixo de 2%, a menor do ano. No último bimestre, a atenção dos agentes de mercado se voltou às lavouras de soja da safra 2021/22 na América do Sul, enquanto parte dos consumidores já havia feito estoques para este período.
No agregado do ano, as médias dos Indicadores da soja ESALQ/BM&FBovespa – Paranaguá e CEPEA/ESALQ – Paraná foram de R$ 175,80/sc e de R$ 171,18/sc de 60 kg, com respectivas altas de 14,88% e de 13,82% sobre as de 2020, em termos reais.
Exportação – De acordo com dados da Secex, no acumulado de 2021, o Brasil exportou volume recorde de 86,10 milhões de toneladas de soja, sendo 3,78% superior ao de 2020. A China foi o destino de mais de 70% das exportações brasileiras no ano de 2021, somando 60,47 milhões de toneladas em todo o ano, mas 0,2% inferior à quantidade de 2020. O Brasil escoou volume recorde em 2021 a outros 12 outros países (Tailândia, Paquistão, México, Taiwan, Bangladesh, Vietnã, Argélia, Tunísia, Ucrânia, Canadá, Angola e Ilhas Marshall).
Em 2021, o principal porto de embarques da oleaginosa foi o de Santos (SP), responsável por escoar 26,7% das vendas externas, seguido por Paranaguá (PR), com 15%, e Rio Grande (RS), com 14,75%. Ressalta-se que os portos de Pecém (CE) e de Belém (PA) vêm ganhando espaço nas exportações da oleaginosa, sendo responsáveis por 11,7% e 9,4%, respectivamente, da soja embarcada pelo Brasil em 2021.
Óleo de soja – Além da valorização da matéria-prima e da alta externa, os preços do óleo de soja subiram em 2021, influenciados pela firme demanda por indústrias de biodiesel no mercado global. Segundo o USDA, na temporada 2020/21, o consumo brasileiro de óleo de soja foi de 4,16 milhões de toneladas pelo setor industrial e de 3,8 milhões de toneladas pelas indústrias alimentícias, ambos recordes.
O Brasil exportou 1,46 milhão de toneladas de óleo de soja no acumulado de 2021, o maior volume desde 2015. A Índia foi destino de 44% das vendas externas do óleo brasileiro e a China de 29% – os chineses importaram do Brasil o maior volume de óleo de soja desde 2013 –, conforme dados da Secex.
Diante disso, o óleo de soja negociado na cidade de São Paulo (com 12% de ICMS incluso) teve média de R$ 7.568,34/tonelada em 2021, sendo 22,24% acima da registrada em 2020 e um recorde da série do Cepea, iniciada para este produto em 1998, em termos reais.
Farelo de soja – A demanda nacional por farelo de soja também esteve aquecida em 2021. No entanto, a firme procura por óleo de soja, que gera maior excedente de farelo, limitou o aumento nos preços deste derivado.
O consumo doméstico de farelo de soja foi recorde, de 19,14 milhões de toneladas na temporada 2020/21 (USDA). As exportações também foram recordes, totalizando 17,2 milhões de toneladas (Secex). Com isso, na média das principais regiões acompanhadas pelo Cepea, os preços do farelo subiram 0,77% entre 2020 e 2021, em termos reais.
Estados unidos – A alta nos preços domésticos também esteve atrelada às valorizações nos contratos negociados na CME Group (Bolsa de Chicago). A China voltou a adquirir maior volume de soja dos Estados Unidos, o que resultou em exportação recorde na temporada 2020/21. Com isso, a relação estoque/consumo final da soja foi a menor desde a safra 2015/16. Além disso, a demanda por derivados esteve aquecida, sobretudo a partir do segundo semestre.
A alta do dólar e as dificuldades logísticas para exportação, ocasionadas por temporais em regiões portuárias norte-americanas no terceiro trimestre do ano, limitaram a alta nos preços futuros. Frente ao Real, a moeda norte-americana registrou média anual recorde em 2021, de R$ 5,3956.
Fonte: Cepea – Informativos Agromensais de Dezembro de 2021