Por Ken Roseboro

Ao adotar três práticas – Plantio Direto, culturas de cobertura e diversificação na rotação de culturas – agricultores em todo o mundo podem preservar os solos, alimentar uma população global em crescimento, mitigar mudanças climáticas e proteger o meio ambiente.

Essa foi a principal mensagem da apresentação de David Montgomery, professor de geologia na Universidade de Washington, na Iowa Organic Conference em novembro.

Erosão do solo 20 vezes mais rápido que construí-lo

Montgomery, autor de vários livros incluindo o mais recente, Growing a Revolution, começou sua palestra descrevendo como os solos da Terra estão sendo degradados pela agricultura e os impactos catastróficos que resultam disso.

“A humanidade está perdendo 0,3% da sua comida global a cada ano para a erosão do solo e degradação e 30% a cada 100 anos”, ele falou se referindo a um relatório das Nações Unidas sobre solo.

Montgomery falou que a degradação e as perdas do solo têm sido um problema desde o começo da agricultura e desempenhou um papel importante no desaparecimento de civilizações passadas incluindo Mesopotâmia, Grécia Clássica e Roma Antiga. Também causou a queda da região de Piedmont no sudeste dos EUA quando liderava a produção agrícola no período da colônia norte-americano.

Montgomery falou que o “vilão” na degradação do solo é o arado e não o desmatamento. “A invenção do arado alterou fundamentalmente o equilíbrio entre produção do solo e erosão do solo, aumentando drasticamente a erosão,” afirmou. “A natureza se veste com plantas e a invenção do arado deixou o solo desprotegido contra a erosão.”

Baseado em uma série de estudos, Montgomery estimou que 1,54 milímetros (mm) de solo são perdidos a cada ano pelo mundo, enquanto apenas 0,01 a 0,02 mm são construídos a cada ano.

“Nós estamos erodindo solo 20 vezes mais rápido do que o estamos construindo,” disse.”

Agricultores visitados em todo o mundo praticam a agricultura conservacionista

Apesar das consequências catastróficas do presente problema, Montgomery se diz otimista. “Podemos resolver esse problema e fazê-lo de uma forma rápida e econômica”.

Na pesquisa para o seu livro, Growing a Revolution, Montgomery viajou pelo mundo visitando fazendas que estão construindo o solo e a matéria orgânica desse solo. As práticas dessas fazendas têm em comum o não revolvimento do solo ou o Plantio Direto, mantendo o solo coberto durante todo o ano, usando culturas de cobertura, e cultivando diversificação na rotação de culturas para reduzir pragas e insetos. As três práticas são consideradas agricultura conservacionista.

“Há uma mínima ou nenhuma perturbação do solo ao se manter a cobertura permanente e a diversificação de culturas na rotação”, foi o que Montgomery testemunhou nas fazendas que visitou.



Práticas da agricultura conservacionista estimulam a atividade biológica do solo, a “teia alimentar do solo” – como Montgomery a descreve –, para construir solos férteis que, em troca, produzem plantas saudáveis.

Ele visitou Duane Beck, um fazendeiro convencional em Dakota do Sul, que adotou as três práticas. Como resultado, Beck reduziu o uso de agroquímicos, combustível, fertilizantes sintéticos e aumentou a produtividade.

Kofi Boa, um fazendeiro de Gana, que coordena o Centro de Plantio Direto, conseguiu parar a erosão do solo enquanto triplicava a produção das lavouras de milho e feijão-caupi, reduzindo também o uso de agroquímicos.

David Brandt, um fazendeiro em Carroll, Ohio, pratica o Plantio Direto há 44 anos. Seus custos com a fazenda são em torno de U$320 por acre, enquanto sua lavoura de milho rende 180 buschel por acre. Ele também usa apenas 1 quarto de Roundup por acre. Por outro lado, o vizinho de Brandt ara sua lavoura e tem custos de U$500 por acre, e usa cinco vezes mais glifosato. Sua produção de milho é de apenas 100 buschel por acre.

Para Montgomery, o segredo de Brandt está no solo, que possui um teor de 8% de matéria orgânica. “Eu adoraria ver agricultores convencionais se aproximarem da agricultura orgânica, mas não agricultores orgânicos se aproximarem de práticas convencionais,” ele disse.

Outro agricultor “orgânico” que Montgomery visitou foi Gabe Brown, em Dakota do Norte, que tem construído uma reputação como líder defensor da agricultura conservacionista. Brown também usa as três práticas de construção do solo, bem como o gado em pastagem.

Inicialmente, Montgomery pensou que o gado fosse responsável pela erosão do solo, mas após visitar a fazenda de Brown disse, “O gado pode ser uma ferramenta para conservação do solo ao invés de degradação”. Afirmou.

O solo de Brown é 10%matéria orgânica, de acordo com Montgomery.

A saúde do solo como a nova fundação da agricultura

Resumindo, Montgomery acredita que as chaves para a construção do solo são abandonar o arado, manter o solo coberto e aumentar a diversidade.

Os benefícios de tais práticas da agricultura conservacionista, de acordo com ele, são maiores lucros, ganhos comparáveis, menos combustível fóssil, menor uso de fertilizantes e pesticidas para o agricultor, aumento da retenção de carbono e água do solo e menos poluição.

“Usar a agricultura para melhorar a terra é uma mudança radical, mas precisa de uma maneira diferente de pensar”, disse ele.

A necessidade de construir solo vai além do debate sobre os métodos convencionais e orgânicos. “Centra-se em uma perspectiva diferente sobre como funciona a saúde do solo em ambos os sistemas”, disse Montgomery. “É sobre como construir solo e olhar para o solo como um sistema ecológico”.

Montgomery vê a saúde do solo com seu foco na construção da biologia do solo como a nova revolução agrícola, suplantando a revolução verde e seu foco em produtos químicos e biotecnologia.

“Estamos preparados para desencadear a ideia de que a saúde do solo deve ser a mais nova base da agricultura. Isso pode nos ajudar a alimentar o mundo e mitigar a mudança climática e a degradação do meio ambiente”. concluiu.

Fonte: FEBRAPDP – Federação Brasileira de Plantio Direto e Irrigação

4 COMENTÁRIOS

  1. Essa parte de q o gado não trás problemas de erosão, existe controvérsias. Fornece MO sim, mas trás problemas de compactação, isso é fato.

    • Olá Pedro, tua observação é válida, porém analisando e corrigindo a carga animal da pastagem em que está inserindo o gado pode ter uma redução muito grande da compactação do solo, chagando a um ponto em que a compactação não será um problema.

  2. Ter o solo com base na agricultura, não é nenhuma novidade. Solo equilibrado, é igual a planta saudável e por fim maior produção. Finalmente estão reconhecendo o que outros pesquisadores, inclusive agricultores já sabem. Não vejo como uma nova revolução. Mas fico feliz porque finalmente esta dando valor pelo que faz a principal diferença.. o solo.

  3. Ana Primávesi fala isto a décadas e agora que estamos entendo a importância,as universidades trabalham mais pra Multinacionais que pra agricultores, e so gastar em químicos que tudo se resolve por tempo curto e depois exaure novamente.Sabedoria e pra poucos pois nao da lucro no curto prazo

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