A cigarrinha-do-milho, Dalbulus maidis (Hemiptera: Cicadellidae), é uma das mais importantes pragas do milho no Brasil, com ocorrência crescente na região Sul. O principal dano associado a esse inseto é a transmissão de dois fitopatógenos da classe dos molicutes: o espiroplasma (Spiroplasma kunkelii – CSS – corn stunt spiroplasma), causador do enfezamento pálido; e o fitoplasma (MBSP – maize bushy stunt phytoplasma), causador do enfezamento vermelho; além de um vírus, o vírus-da-risca-do-milho (MRFV – maize rayado fino vírus) (NAULT, et al., 1980; NAULT, 1990). É comum observar plantas de milho com sintomas característicos de ambos os enfezamentos, sendo por essa razão utilizado o termo “complexo de enfezamento”.
Figura 1. Planta de milho com sintomas de avermelhamento foliar ocasionado pelo complexo de enfezamentos.
Foto: Henrique Pozebon
Devido à complexidade da sintomatologia, a diagnose dos enfezamentos necessita de análises refinadas para ser realizada de forma mais assertiva (MASSOLA JÚNIOR, 2001). A severidade dos sintomas de enfezamento pode ser expressa de acordo com uma escala diagramática, por meio de qual atribuem-se notas para os diferentes graus de injúria. A Figura 2 apresenta um exemplo de escala de injúrias adaptada para a avaliação do complexo de enfezamento em milho.
Figura 2. Escala de injúrias para avaliação de enfezamento em milho.
Fonte: Baseada em Silva et al. (2003), Alcántara-Mendoza (2010), Sabato & Teixeira (2015).
A expressão dos sintomas do complexo de enfezamento varia entre genótipos, havendo materiais que possuem maior ou menor sensibilidade a essas doenças. Como os molicutes circulam pelos tecidos vasculares no interior da planta, a sintomatologia mais característica desses patógenos é a formação de estrias avermelhadas ou pálidas no sentido paralelo às nervuras das folhas.
Figura 3 – Híbridos de milho com baixa e alta suscetibilidade ao complexo de enfezamento, à esquerda e à direita, respectivamente.
Foto: Henrique Pozebon
Cabe ressaltar que a coloração típica do enfezamento não é decorrente dos molicutes em si, mas sim de microorganismos oportunistas que proliferam na lesão causada pelo patógeno. Essa propagação do patógeno pode expressar-se como sintoma visual inclusive nos tecidos do colmo da planta, e nas brácteas que envolvem a espiga. Em alguns materiais, essa manifestação dos sintomas no colmo e nas espigas é mais pronunciada do que nas folhas. Em outros, a sintomatologia está praticamente ausente nas folhas, colmo e espigas, mas ainda assim ocorre uma redução de porte das plantas, devido ao encurtamento dos internódios do colmo.
Figura 4 – Híbrido de milho com sintomas de avermelhamento no colmo e nas espigas, mas sem redução de porte (à esquerda); e híbrido com redução de porte, mas sem sintomas nas folhas e colmo (à direita).
Foto: Henrique Pozebon
Ainda, em certos híbridos de milho o complexo de enfezamentos manifesta-se na forma de outros dois sintomas típicos: a proliferação de espigas (ou multi-espigamento) e o tombamento de plantas. Nesse último caso, a infecção pelo patógeno e obstrução dos tecidos vasculares enfraquece o colmo e cria um ponto de quebra no colo da planta, próximo ao solo. Consequentemente, as plantas acabam tombando ao serem atingidas por rajadas de vento ou outros impactos físicos.
Figura 5 – Híbrido suscetível com ocorrência de multi-espigamento (à esquerda) e plantas tombadas por estrangulamento do colo (à direita).
Foto: Henrique Pozebon
Por fim, há híbridos altamente suscetíveis ao complexo de enfezamento que apresentam praticamente todos esses sintomas de forma concomitante, resultando em perdas severas na produtividade da cultura. A Figura 6 demonstra um material com redução significativa de porte e sintomas de enfezamento em 100 % das folhas, ao lado de um híbrido com porte normal e sintomas restritos ao colmo e às espigas.
Figura 6. Híbrido altamente suscetível (à esquerda) e híbrido com suscetibilidade média/baixa (à direita).
Foto: Henrique Pozebon
Pelo fato da relação entre os molicutes e a cigarrinha ser do tipo persistente e propragativa, e considerando a capacidade desse inseto de migrar por longas distâncias, mesmo uma infestação com baixo nível populacional da praga pode resultar em uma contaminação quase total da lavoura pelo complexo de enfezamento. Ressalta-se que, em certos casos, a diferenciação dos sintomas pode ser decorrente do momento de infecção. A redução de porte, por exemplo, só ocorrerá caso a infecção aconteça antes do estágio V5 (quinta folha completamente expandida), a partir do qual inicia-se o alongamento dos entrenós do colmo.
Portanto, a escolha de híbridos de milho com baixa suscetibilidade ao complexo de enfezamento transmitido pelos molicutes representa uma importante estratégia de manejo para esses patógenos. Somado a isso, o controle do inseto-vetor deve ser realizado via tratamento de sementes e, quando necessário, pulverização em parte aérea (OLIVEIRA et al., 2018). Os ingredientes ativos ciantraniliprole (do grupo químico das diamidas) e tiametoxam (do grupo químico dos neonicotinoides), por exemplo, apresentam boa eficácia de controle para cigarrinha do milho e outras pragas sugadoras, devido ao seu alto potencial de translocação no interior da planta – especialmente quando aplicados via tratamento de sementes.
Contribuição: Rafael Paz Marques, Mestrando PPGAgro
Revisão: Prof. Jonas Arnemann, PhD. e coordenador do Grupo de Manejo e Genética de Pragas – UFSM
REFERÊNCIAS
OLIVEIRA, C.M.; SÁBATO, E.O. Estratégias de manejo de Dalbulus maidis, para o controle de Enfezamentos e Virose na cultura do milho. In PAES, M.C.D.; VON PINHO, R.G.; MOREIRA, S.G. Soluções integradas para os sistemas de produção de milho e sorgo no Brasil.XXXII Congresso Nacional de Milho e Sorgo, Sete Lagoas, MG, p. 748-777, 2018.
.M.; SÁBATO, E.O. Estratégias de manejo de Dalbulus maidis, para o controle de Enfezamentos e Virose na cultura do milho. In PAES, M.C.D.; VON PINHO, R.G.; MOREIRA, S.G. Soluções integradas para os sistemas de produção de milho e sorgo no Brasil.XXXII Congresso Nacional de Milho e Sorgo, Sete Lagoas, MG, p. 748-777, 2018.