O tamanduá-da-soja (Sternechus subsignatus), também conhecido como bicudo-da-soja é considerado uma praga esporádica, no entanto, com o aumento das áreas cultivadas sob sistema de plantio direto, houve um aumento na população desse inseto devido às condições mais favoráveis para a sua hibernação no solo. Tanto a ocorrência quanto os danos do tamanduá-da-soja, coleóptero que ataca o caule de leguminosas e cujas larvas passam um longo período em diapausa no solo, são maiores em plantio direto (Oliveira et al., 2009).

O tamanduá-da-soja pode causar injúrias na cultura, provocando a interrupção ou redução da circulação da seiva através da haste principal, reduzindo assim o vigor das plantas e, consequentemente, a sua produtividade (Ávila et al., 2021).

As larvas do tamanduá-da-soja, apresentam um corpo cilíndrico ligeiramente curvado, desprovido de pernas. Sua coloração varia entre o corpo, que é predominantemente branco-amarelada, e a cabeça, que assume um tom castanho-escuro. Em regiões de clima frio, essas larvas entram em um período de hibernação que pode se estender por até 10 meses. Nas áreas com invernos mais suaves, sua emergência como adultos na entressafra depende da disponibilidade de alimento.

 A fase de pupa ocorre no solo, os adultos desse inseto são conhecidos como carunchos, medem aproximadamente 8 mm de comprimento. Eles apresentam uma coloração predominante preta, com listras de coloração amarelada formadas por pequenas escamas, essas listras são visíveis na parte dorsal do corpo, próxima à cabeça, e também nas asas duras (Sosa-Gómez et al., 2014).

Figura 1. Tamanduá-da-soja (Sternechus subsignatus) a) Larva; b) Adulto.

Fonte: Oliveira et al. (2009).

Conforme destacam Sosa-Goméz et al. (2010), o inseto adulto realiza uma ação de raspagem nos caules das plantas, causando desfiamento dos tecidos na área afetada. Quando a população desses insetos é alta e o ataque ocorre nos estádios iniciais de desenvolvimento da cultura, os danos podem ser irreversíveis, resultando na morte das plantas e acarretando perdas significativas de produção na lavoura. Se o ataque acontece mais tarde, e as larvas se desenvolvem na haste principal, formando galhas, a planta torna-se vulnerável a quebra devido a ação do vento e das chuvas. Esse danos podem comprometer a estabilidade das plantas, afetando também a produtividade da cultura.

No processo de oviposição, a fêmea realiza um anelamento, cortando todo o córtex da haste principal, os ovos possuem coloração amarela e são depositados nos orifícios do anelamento, ficando cobertos pelas fibras do tecido cortado. Além disso, os ovos também podem ser colocados em ramos laterais e nos pecíolos das plantas. As larvas permanecem na região do anelamento, o período larval dura em média 25 dias, e à medida que crescem, ocorre o engrossamento do caule, formando uma galha, essa estrutura é composta externamente por tecidos ressecados.

Figura 2. Danos causados por tamanduá-da-soja A) Redução da população de soja; B) Quebra pela ação do vento e chuva; C) Tecidos cortados por ocasião do anelamento; D) Formação de galha.

Adaptado: Hoffmann-Campo (1989).

No seu último instar, denominado 5° instar, que ocorre após completar a formação da galha, a larva se desloca para o solo, onde inicia seu processo de hibernação em câmaras, geralmente entre 5 cm e 10 cm de profundidade, podendo em alguns casos alcançar até 25 cm de profundidade. Durante o período de hibernação, a larva interrompe sua alimentação e, quando perturbada ou exposta a luz solar, demonstra movimentos intensos, exibindo um comportamento de fototropismo negativo. A pupa apresenta uma coloração branco-amarelada, é do tipo livre, e quando observada dorsalmente, é possível observar os primórdios das asas, esse período dura em média 17,2 dias (Sosa-Goméz et al., 2010).

Os ataques mais intensos do tamanduá-da-soja, têm sido verificados nas regiões com temperaturas amenas, especialmente durante o período da noite, ocorrendo principalmente em áreas onde é realizada a semeadura direta da soja (Silva et al., 2005). A infestação na lavoura ocorre de forma lenta, inicialmente os adultos se alimentam nas proximidades do local onde emergem do solo, Hoffmann-Campo et al. (1999), destacam que essa estratégia é adotada pelos insetos como uma forma de economizar energia após um longo período de hibernação sem se alimentar.



Segundo Hoffmann-Campo (1989), o inseto apresenta um ciclo de vida anual, que tem início no mês de outubro, quando os primeiros adultos emergem no campo. O pico populacional ocorre no final de dezembro, e ocasionalmente, esses insetos podem ser observados até a maturação da soja. Os primeiros ovos costumam ser encontrados em novembro, e poucos dias depois, já é possível observar as larvas, que permanecem ao longo de todo o ciclo da soja. A partir de fevereiro, as larvas iniciam o período de hibernação no solo, permanecendo nessa condição até o final de novembro. As primeiras pupas começam a surgir a partir de outubro.

Figura 3. Distribuição anual das diversas fases de desenvolvimento de Sternechus subsignatus.

Fonte: Hoffmann-Campo et al. (1999).

Conforme destacam Roggia et al. (2020), as perdas mais severas ocorrem quanto mais cedo ocorre o ataque, a partir do estádio vegetativo V6, quando as plantas têm cinco folhas trifolioladas, a praga já não provoca perdas significativas, pois a haste da planta fica mais rígida e mais tolerante à praga. A partir desse estádio, a praga pode raspar ou cortar a haste abaixo do ponteiro e o pecíolo da folha, mas os danos já não são tão expressivos.

O nível de ação recomendado para o controle do tamanduá-da-soja, é de um adulto por metro linear em lavouras com plantas até o estádio V3, quando as plantas possuem até duas folhas trifolioladas. Em plantas com três a cinco folhas trifolioladas, dos estádios V4 a V6, o nível de ação é de dois adultos por metro linear.

Tabela 1. Nível de ação para o tamanduá-da-soja.

Fonte: Roggia et al. (2020).

É importante realizar o monitoramento da presença do tamanduá-da-soja nas áreas de cultivo, principalmente em área de cultivo de leguminosas, que servem como hospedeiras para esse inseto. Nesse sentido, a implementação da prática de rotação de culturas com plantas não hospedeiras é uma estratégia eficiente para reduzir a população do S. subsignatus, interrompendo assim seu ciclo biológico.  Além disso, é recomendado a adoção de outras estratégias como o cultivo de plantas armadilhas, o uso de métodos de controle químico e tratamento de sementes, ao implementar o manejo integrado com essas estratégias, é possível reduzir as infestações dessa praga e evitar eventuais danos e perdas de produtividade que ela possa causar.

Vale ressaltar que as pulverizações realizadas entre 22h e 2h tendem a ser mais eficientes, uma vez que nesse período os adultos costumam se concentrar na parte superior das plantas, além disso, o tratamento de sementes desempenha um papel essencial na proteção da cultura durante os estádios iniciais de desenvolvimento, particularmente em situações em que a rotação de culturas não é viável (Roggia et al., 2020).


Veja mais:Corós na cultura do trigo



Referências:

ÁVILA, C. J. et al. PRAGAS DA SOJA NO CERRADO. Revista Plantio Direto & Tecnologia Agrícola, 2021. Disponível em: < https://www.plantiodireto.com.br/artigos/1526 >, acesso em: 13/09/2023.

HOFFMANN-CAMPO, C. B. ASPECTOS BIOLÓGICOS E MANEJO INTEGRADI DE Sternechus subsugnatus NA CULTURA DA SOJA. Circular técnica 22, Embrapa Soja, 1999. Disponível em: < https://ainfo.cnptia.embrapa.br/digital/bitstream/item/195522/1/CT-22.pdf >, acesso em: 13/09/2023.

HOFFMANN-CAMPO, C. B. TAMANDUÁ-DA-SOJA: ASPECTOS BIOLÓGICOS, DANOS E COMPORTAMENTO. Embrapa Soja, Londrina – PR, 1989. Disponível em: < https://ainfo.cnptia.embrapa.br/digital/bitstream/item/33678/1/tamandua.pdf >, acesso em: 13/09/2023.

OLIVEIRA, L. J. et al. PLANTIO DIRETO FAVORECE CONTROLE NATURAL DE PRAGAS. Visão agrícola, Agroecocultura, proteção, n. 9, 2009. Disponível em: < https://www.esalq.usp.br/visaoagricola/sites/default/files/VA9-Protecao01.pdf >, acesso em: 13/09/2023.

ROGGIA, S. et al. MANEJO INTEGRADO DE PRAGAS. Tecnologia de Produção de Soja, tecnologias de produção 17., cap. 9. Embrapa, Londrina – PR, 2020. Disponível em: < https://ainfo.cnptia.embrapa.br/digital/bitstream/item/223209/1/SP-17-2020-online-1.pdf >, acesso em: 13/09/2023.

SILVA, M. T. B. et al. PEQUENO DEVORADOR. Revista Cultivar, Grandes Culturas, ano VII, n. 78, p. 32-35, 2005. Disponível em: < https://issuu.com/grupocultivar/docs/cultivar_78 >, acesso em: 13/09/2023.

SOSA-GOMÉZ, D. R. et al. MANUAL DE IDENTIFICAÇÃO DE INSETOS E OUTROS INVERTEBRADOS DA CULTURA DA SOJA. Documentos 269, Embrapa Soja. Londrina – PR, 2014. Disponível em: < https://ainfo.cnptia.embrapa.br/digital/bitstream/item/105924/1/Doc269-OL.pdf >, acesso em: 13/09/2023.

SOSA-GOMÉZ, D. R. et al. SOJA: MANEJO INTEGRADO DE PRAGAS. Embrapa Soja – Senar Paraná, 2010. Disponível em: < https://www.bibliotecaagptea.org.br/agricultura/defesa/livros/SOJA%20-%20MANEJO%20INTEGRADO%20DE%20PRAGAS.pdf >, acesso em: 13/09/2023.

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