Primeiramente, é preciso entender os objetivos de uma aplicação de defensivo agrícola: atingir o alvo, não ocorrer deriva, obter o controle da praga/daninha/doença e não contaminar o homem e o meio-ambiente. Com esses objetivos em mente, é preciso dar atenção à tecnologia de aplicação para que se atendam todas as demandas de uma aplicação eficiente.

Nesse texto, vamos abordar alguns fatores relevantes na calibração de pulverizadores terrestres visando à aplicação de inseticidas, tais como: volume de calda, vazão, pressão e velocidade de aplicação.

Uma vez definidos o alvo e a dose do produto (quantidade do princípio ativo por área), além da escolha correta e verificação das pontas de pulverização, partimos para o volume de calda: ou seja, o volume de água necessário para veicular aquela dose definida e distribuí-la na área. Para melhor entendimento, podemos fazer uma analogia com a ingestão de um remédio junto com uma certa quantidade de água: o remédio é a dose já definida e a água é o volume de calda que pode variar em quantidade, mas o organismo vai receber a mesma dosagem.

Na lavoura o sentido é o mesmo, visto que a dose distribuída na área deve ser a mesma e o volume de calda faz o papel de veículo, assim como o copo de água administrado junto ao remédio.

Atualmente existe a tendência de reduzir o volume de calda, buscando aumentar a capacidade operacional dos pulverizadores e reduzir os custos de produção. No entanto, essa redução de volume requer otimização da tecnologia de aplicação para assegurar a manutenção da eficiência das aplicações, visto que os inseticidas necessitam de uma maior cobertura (gota média ou fina).

Ademais, a recomendação de volume de calda sempre deverá estar na bula do produto. De acordo com Pionner (2004), para lavouras no início do ciclo com baixo índice de área foliar (IAF), é recomendado aplicar entre 80 e 100 litros/ha; já para lavouras mais fechadas (IAF > 3), indica-se entre 100 e 200 l/ha. Ressalta-se que para percevejos na soja recomendam-se sempre volumes acima de 150 l/ha.

Na prática, para realizar a calibração do pulverizador terrestre é recomendado que se façam os seguintes passos:

1) Abastecer o tanque do pulverizador somente com água (50% do reservatório).

2) Ideal que se faça a calibração já na área a ser pulverizada.

3) Escolher a marcha e a rotação de trabalho fixa que entrega 540 rpm na TDP.

4) Marcar no mínimo 50 metros de distância com auxílio de trena (Distância percorrida – Figura 1)

5) Cronometrar e anotar o tempo gasto pelo trator no percurso em velocidade constante. Se possível, repetir a operação no mínimo três vezes, para obter uma média de tempo mais confiável.

6) Calcular o volume desejado por bico (Figura 1):

Figura 1. Método com regra de três para descobrir o volume (litros) desejado por bico do pulverizador.

Fonte: Rodrigo Krammes (2021).

7) Com o trator parado, funcionando na rotação de trabalho, acionar o pulverizador e conferir a vazão dos bicos com um copo medidor ou proveta (Figura 2), no mesmo tempo que foi gasto para percorrer os 50 metros.

Figura 2. Método de verificação da vazão nas pontas de pulverização com uso de proveta e cronômetro.

Fonte: Adaptado de João Coimbra (2013). Confira a imagem original clicando aqui.

8) Se o volume por bico não chegar próximo do valor desejado, mudar a velocidade de deslocamento (marcha) ou trocar os bicos.

9) Para um ajuste fino, pode-se mexer na pressão no manômetro, sendo que para um aumento de duas vezes da vazão é necessário quadruplicar a pressão. Desse modo, se o volume aplicado está abaixo do desejado, deve-se aumentar a pressão nos bicos; e se estiver acima, deve-se diminuir a pressão, repetindo o processo até chegar na vazão desejada (Figura 3).

Figura 3. Representação de um manômetro.

Fonte: Adaptado de Schlosser (2017).

A pressão do pulverizador está diretamente relacionada à vazão da ponta, sendo que uma maior pressão resulta em maior vazão; o contrário também é verdadeiro. Porém, aumentando a pressão no manômetro, o diâmetro de gota diminui, ou seja, fica cada vez mais suscetível à deriva. Portanto, é necessário ficar atento para ter uma boa sobreposição dos jatos, lembrando que cada modelo de ponta apresenta um intervalo ideal de pressão de acordo com a velocidade e a vazão desejada.

Além disso, segundo a Norma ISO 16122 (2015), pontas com vazão menor que 1 litro/minuto e que excederem ±15% da vazão em relação às outras, ou pontas com vazão maior ou igual a 1 litro/minuto e que excederem ±10% na máxima pressão de trabalho permitida para o modelo, devem ser substituídas.

Por fim, é preciso destacar que para um adequado uso dos pulverizadores, é imprescindível a realização de revisões periódicas e um bom programa de manutenção. Deve-se verificar rotineiramente se todas as pontas estão com perfil de distribuição correto, se estão funcionando bem e sem vazamentos, se os filtros estão limpos, qual o estado das mangueiras, além de outros aspectos relevantes da tecnologia de aplicação. Sendo assim, os ajustes na calibração juntamente com a manutenção das partes do pulverizador estão diretamente ligados com a qualidade e eficiência de uma aplicação.

Revisão: Henrique Pozebon, Mestrando PPGAgro  e Prof. Jonas Arnemann, PhD. e Coordenador do Grupo de Manejo e Genética de Pragas – UFSM

REFERÊNCIAS:



ISO. International Organization for Standardization. ISO 16122: Agricultural and forestry machinery – Inspection of sprayers in use. Geneva, 2015. 88p

Pionner. Recomendações para aplicações terrestres de fungicidas e inseticidas. Artigos – Pionner. Dezembro de 2004. Disponível em http://www.pioneersementes.com.br/media-center/artigos/29/recomendacoes-para-aplicacoes-terrestres-de-fungicidas-e-inseticidas#:~:text=Volumes%20de%20calda%3A%20Devem%20garantir,100%20e%20200%20l%2Fha

SCHLOSSER, J.F. Regulagem, Calibração, Estado de Conservação e Uso de Pulverizadores Agrícolas no Estado do Rio Grande do Sul. Cadernos de Extenção -Pró-Reitoria de Extensão – UFSM. Disponível em https://repositorio.ufsm.br/bitstream/handle/1/11537/cadernos_extensao_UFSM_meio_ambiente.pdf?sequence=1&isAllowed=y

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