Estima-se que mais de 30 espécies de insetos podem atacar a cultura do milho. Várias delas são pragas de início de ciclo, podendo atuar sob o solo, atacando sementes e raízes (larva-arame, larva-alfinete, percevejo-castanho e corós); ou na superfície, atacando a planta recém-emergida (lagarta-rosca, lagarta-elasmo, cigarrinha-do-milho e percevejos). O método mais recomendado para o controle das pragas iniciais é o tratamento de sementes, sendo uma prática de baixo impacto ambiental e ótimo custo-benefício. Entretanto, deve-se primeiro conhecer o histórico de pragas na área, e optar pelo inseticida mais adequado para a espécie de maior ocorrência; afinal, o produto que controla determinada praga pode não ser eficiente para outra. Confira a seguir as respostas para outras perguntas relacionadas ao tratamento de sementes em milho.

Qual a duração do tratamento de sementes com inseticidas sistêmicos?

 Estudos demonstram que a ação dos inseticidas sistêmicos aplicados via tratamento de sementes dura cerca de 25 dias, ou seja, estendendo-se do plantio até 15 a 20 dias após a emergência das plantas. Entretanto, esse período pode variar conforme as condições de umidade do solo. Geralmente, o efeito é alongado em solos com umidade adequada (capacidade de campo) e encurtado em solos mais secos. Além disso, condições de baixa umidade podem favorecer a ocorrência de determinadas pragas, como a lagarta-elasmo (Elasmopalpus lignosellus).

O tratamento de sementes é eficiente no controle de insetos-vetores, como a cigarrinha-do-milho?

Inseticidas sistêmicos, como os neonicotinoides, possuem efeito de controle sobre a cigarrinha-do-milho (Dalbulus maidis), mas não sobre os patógenos transmitidos por esse inseto (espiroplasma, fitoplasma e vírus-da-risca), causadores do chamado complexo de enfezamentos. Como a cigarrinha é um inseto sugador de seiva, ela morrerá ao se alimentar da planta cuja semente foi tratada com inseticidas, contanto que o efeito residual destes não tenha se esgotado. Entretanto, ao se alimentar, é possível que a cigarrinha infectada consiga inocular os patógenos na planta antes de morrer. Portanto, o tratamento de sementes visando ao controle de Dalbulus maidis deve ser associado com outras medidas de controle, como o uso de cultivares tolerantes ao complexo de enfezamentos.

Figura 1. Práticas recomendadas para o manejo integrado de cigarrinha-do-milho.

Fonte: Pozebon et al. (2022)

O tratamento de sementes com inseticidas sistêmicos auxilia no controle da lagarta-do-cartucho?

 Embora os inseticidas sistêmicos estejam mais associados ao controle de pragas sugadoras, como percevejos e cigarrinha, certos ingredientes ativos apresentem um efeito supressor importante sobre a lagarta-do-cartucho (Spodoptera frugiperda). É o caso das diamidas (ciantraniliprole e clorantraniliprole), inseticidas seletivos e altamente eficientes no controle de lepidópteros. Apesar de ser conhecida como lagarta-do-cartucho, essa espécie pode ocorrer logo após a emergência das plântulas, que são muito sensíveis ao ataque da praga. Como o fluxo de mariposas que irão gerar a população de lagartas pode ser contínuo, a redução da população inicial pelo tratamento de sementes é uma prática recomendada.

Figura 2. Sítio de ação das diamidas, inseticidas altamente eficientes no controle de lagartas.

Crédito da imagem: Henrique Pozebon.

Como fazer o controle das pragas iniciais caso o tratamento de sementes não tenha sido utilizado?

Nesse caso, não há como evitar o dano provocado pelas pragas de hábito subterrâneo, como larva-arame (Agriotes sp., Conoderus sp., Melanotus sp.), larva-alfinete (Diabrotica sp.), percevejo-castanho (Scaptocoris castanea) e corós (Phyllophaga sp., Cyclocephala sp., Diloboderus abderus). Já para as pragas iniciais de parte aérea, medidas podem ser tomadas para mitigar o dano nessa fase do cultivo. A primeira é o monitoramento constante da lavoura, a partir do início da emergência. Ao ser detectada a presença da praga, parte-se para a escolha do inseticida e da técnica a ser utilizada. Pragas como a lagarta-rosca e lagarta-elasmo, por exemplo, localizam-se tipicamente na base das plantas e necessitam de uma aplicação dirigida a esse local, além de demandarem um maior volume de calda para veicular o produto.

Sobre o autor: Henrique Pozebon, Engenheiro Agrônomo na Prefeitura Municipal de Santa Maria, Doutorando em Agronomia pela UFSM.

 Referências:

CRUZ, I.; VIANA, P. A.; LAU, D.; BIANCO, R. Manejo Integrado de Pragas do Milho. In: CRUS, J. C.; MAGALHÃES, P. C.; PEREIRA FILHO, I. A.; MOREIRA, J. A. A. (Eds.) Milho: 500 Perguntas, 500 Respostas. Embrapa, Brasília-DF, 2011. Disponível em: <https://ainfo.cnptia.embrapa.br/digital/bitstream/item/101790/1/500perguntasmilho.pdf>

POZEBON, H.; STÜRMER, G. R.; ARNEMANN, J. A. Corn stunt pathosystem and its leafhopper vector in Brazil. Journal of Economic Entomology, v. 115, n. 6, p. 1817-1833, 2022. Disponível em: <https://academic.oup.com/jee/article-abstract/115/6/18

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