safra de trigo 2019 registrou a maior população de pulgões dos últimos dez anos. Os insetos foram favorecidos pelo clima quente e seco do inverno na Região Sul, resultando numa população cinco vezes superior à média do período 2001 a 2018. A informação está registrada na base de dados da Rede de Monitoramento de Pragas em Cereais de Inverno, que reúne diversas instituições de pesquisa nas principais regiões produtoras de trigo no Brasil.
A combinação de temperaturas acima da média nos meses de abril, maio e junho, com precipitações abaixo da média histórica nos meses de julho a setembro resultaram no aumento das populações de pulgões nas lavouras de inverno na Região Sul.
Na estação meteorológica da Embrapa Trigo, em Passo Fundo, RS, a quantidade de chuvas no inverno (junho a setembro) foi a mais baixa dos últimos 40 anos. “Por exemplo, em 2018 a chuva acumulada de junho a setembro em Passo Fundo foi de 734 mm; em 2019 a precipitação acumulada somou apenas 267 mm no mesmo período, bem abaixo da média histórica. O tempo seco, a temperatura média próxima a 14°C, com disponibilidade de plantas nas lavouras, formaram um ambiente muito favorável para a reprodução e dispersão dos insetos”, conta o pesquisador da Embrapa Trigo, Douglas Lau.
De acordo com os dados registrados pela Rede de Monitoramento de Pragas em Cereais de Inverno nos meses de junho a setembro a população de afídeos foi 5 vezes superior à média do período 2011 a 2018. Comparando somente o mês de agosto, a população foi 28 vezes superior à média do período. A base das informações consiste na coleta de insetos nas armadilhas instaladas em polos de produção de trigo monitorados por um grupo de empresas e instituições que participam da Rede nos estados do RS, PR, MG e MT.
Os pesquisadores observaram que a retomada no crescimento populacional dos pulgões aconteceu mais cedo neste ano no Rio Grande do Sul: “Historicamente, devido ao declínio da temperatura ainda em maio ou junho, a população de pulgões reduz e volta a ser problema somente lá por setembro. Neste ano, o clima quente e seco favoreceu altas populações de afídeos já em agosto, com incidência que chegou a 70% em algumas lavouras, exigindo reforço nas aplicações com inseticidas”, avalia Douglas Lau. Segundo ele, muito dos problemas de espiga observados ao final da safra, como a esterilidade apical e as espigas pretas, conhecidas como espigas chocolate, resultaram de infecções do vírus do nanismo-amarelo transmitido pelos pulgões ainda no início da lavoura.
No Paraná, o ataque dos pulgões aconteceu no emborrachamento e espigamento do trigo, já que as lavouras sofreram forte incidência de geadas durante o desenvolvimento inicial. “Sem dúvida foi o maior pico nas populações de pulgões desde 2011, quando iniciamos o monitoramento”, conta o pesquisador da FAPA/Agrária, Alfred Stoetzer, avaliando que apesar do pulgão causar maiores danos no início da safra, o ataque no espigamento certamente impactou nos rendimentos finais das lavouras. “Ainda estamos quantificando os dados, mas observamos que o número de parasitoides foi bem menor neste ano. Assim, sem inimigos naturais e com clima favorável a população de pulgões cresceu muito rápido”, explica o pesquisador.
Medidas de Controle
O primeiro cuidado para evitar perdas por pulgões é o tratamento de sementes. Contudo, nesta safra, o crescimento das populações ocorreu em agosto, quando a proteção oferecida pelo inseticida já estava reduzida. Assim, foi necessária a aplicação de inseticidas na parte aérea. A combinação das duas medidas de controle, tratamento de sementes e duas aplicações aéreas, reduziram em 82% a incidência de viroses no trigo.
O monitoramento da lavoura após 20 a 30 dias da emergência das plantas permite avaliar a incidência de pulgões no trigo, sendo indicada a aplicação de inseticida quando atingir o nível de 10% de plantas com pulgões.
Atualmente, o mercado dispõe de cultivares de trigo mais tolerantes ao vírus do nanismo amarelo, porém, a Rede de Monitoramento de Pragas em Cereais de Inverno avaliou a reação de 34 cultivares e constatou que apenas 3 registraram danos abaixo de 20%. “A melhor estratégia de controle ainda é combinar genética com o tratamento de sementes e aplicação aérea, mas sempre acompanhado do monitoramento da lavoura para evitar custos desnecessários em anos que não são favoráveis ao ataque de pragas”, conclui o pesquisador Douglas Lau.