Após a retirada da cultura de verão do campo, abre-se espaço para um novo cultivo até a semeadura da cultura de inverno. Porém, o que ocorre com muita frequência é a não utilização das áreas durante esse período, caracterizando o que se denomina vazio outonal. Esse espaço corresponde a aproximadamente 90 dias, o que representa 25% de um ano em que o solo fica sem o cultivo de plantas comerciais e de uso agrícola, sem raízes crescendo para estimular a microbiota, a ciclagem de nutrientes e a incorporação de matéria orgânica, favorecendo o aparecimento de plantas daninhas, desnudo e/ou pouca cobertura e consequentemente, potencializando o processo erosivo.
Não existem plantas perfeitas para a cobertura do solo, porém, existem características que devemos buscar na hora de escolher uma cultura para cobertura de solo, tais como rápido estabelecimento na lavoura, sementes acessíveis e baratas, vasto sistema radicular, grande produção de massa verde e massa seca, de fácil implantação e extinção e não ser hospedeira de pragas e doenças que atacam a cultura em sucessão (geralmente de interesse econômico do agricultor). Tais características talvez sejam difíceis de ser encontradas em uma única espécie vegetal, e foi pensando nisso que surgiu alternativas a misturas e o cultivo de diferentes espécies.
Uma alternativa que tem sido muito utilizado por produtores é a utilização de um mix de culturas, que faz a combinação de plantas com diferentes características desejadas para o bom funcionamento do sistema, como por exemplo, a combinação de leguminosas fornecendo nitrogênio e gramíneas inserindo grande aporte de matéria seca. Dessa forma, diferença na relação Carbono/Nitrogênio entre gramínea e leguminosa faz com que tenhamos um aporte maior de N e uma ciclagem mais rápida por parte das leguminosas e geralmente uma maior produção e permanência da palha na superfície do solo por parte das gramíneas. Porém, independente da estratégia utilizada, o mais importante é que o sistema esteja com vida se desenvolvendo dentro dele, o que se dá por meio de plantas de cobertura, que tem como consequência o estímulo da microbiota do solo e a melhoria das propriedades físico químicas do mesmo.
O cultivo de plantas nesse período traz inúmeros benefícios, como por exemplo a capacidade de descompactar o solo, suprimir plantas daninhas, ciclar nutrientes, aumentar a matéria orgânica do solo, infiltração e retenção de água, estabilidade de agregados e quebrar o ciclo de pragas e doenças, bem como diminuir a evapotranspiração e a erosão. A água é um dos recursos mais abundantes, mas ao mesmo tempo um dos mais limitantes no sistema de produção. A safra 2019/2020, foi um exemplo da tamanha importância de ter um solo bem estruturado, com abundância de macro e micro poros para que se tenha água armazenada e, assim, as culturas sejam menos afetadas em condições de restrições hídricas. Portanto, manter o solo coberto o ano todo é essencial para minimizar e garantir a lucratividade do sistema, é preciso entender a agricultura como um meio complexo que precisa estar em harmonia, pensando o presente sem comprometer a qualidade e a sustentabilidade futura deste sistema de produção e isso passa necessariamente com o cuidado do solo.
Autores: Gabriel Augusto Rambo Soares e Marcelo Damaceno da Silva – PET Ciências Agrárias – UFSM/FW
Boa tarde, tudo bem? muito interessante o tópico, o assunto abordado, achei muito completo, porém minha única ressalva, é que eu trocaria a parte de sementes acessíveis e baratas, por sementes de qualidade e procedência, garantindo assim que eu não esteja levando para a lavoura doenças e invasoras principalmente.
Excelente observação Neimar.