Alunos de nossos cursos de comercialização de grãos e clientes nos perguntam se vale a pena vender ou segurar a soja, atualmente. O gráfico pode nos dar a resposta, pois concentra o resultado do quadro de oferta & demanda mundial. Com um detalhe: há mais dólares que operam na Bolsa de Chicago se baseando em gráficos do que na análise fundamental.

Para quem não sabe, a linha de cima é a linha da oferta, ou de resistência e a linha de baixo é a linha da demanda, ou de suporte. Dentre as várias figuras possíveis que os gráficos podem formar, o atual está formando um triângulo equilátero.

Segundo o livro “Techniques of a Professional Commodity Chart Analyst”, de Arthur Sklarew, a tendência indicada pelo triângulo equilátero seria a de uma queda igual à base do triângulo, representada pela linha vertical à esquerda, que vai de $1507,75/bushel, na parte de cima até $ 1259,0/bushel, na parte de baixo e que corresponde a 248,75 cents/bushel, isto é, teoricamente esta formação estaria indicando a possibilidade de uma queda das cotações em Chicago até $ 1095,25/bushel (seta), num período igual (dois meses, isto é, até final de setembro, início de outubro, quando inicia a colheita da soja americana).

Ninguém quer isto, mas, com o aumento da oferta (colheita americana, mais um provável aumento de área no Brasil e na Argentina) as cotações sempre tendem a cair. Faz sentido?

Além disso, a cotação atual está muito elevada para os padrões históricos, que se situam ao redor de $ 1050/bushel e a tendência é ela voltar para o seu leito natural (média). Para o preço da soja voltar a pagar, por exemplo R$ 180,00 no RS/PR ou R$ 170,00 em MG/MS/MT, Chicago teria que subir acima dos $ 1507/bushel, que foi a cotação mais alta que chegou nesta safra e o dólar se manter em R$ 5,23, que é como fechou hoje. Uma alta muito pouco provável, considerando os fundamentos presentes hoje no mercado.

A soja hoje vale menos do que quando você colheu

Outro fator que se deve levar em consideração é o custo do carregamento, formado pelo custo da armazenagem que você está pagando pela soja ainda não vendida (não pense que você não paga porque o cerealista não especifica nanota fiscal, porque ele abate no preço final que lhe oferece. E, se você tem armazém próprio, sabe quanto custa isto), mais o ganho financeiro que teria se tivesse vendido em maio passado e aplicado o dinheiro, por exemplo.

Fizemos o cálculo do custo do carregamento da soja colhida e não vendida para os estados do RS e do PR (acima). O resultado mostra que teria sido melhor você ter vendido em abril último do que esperado até hoje, mesmo com preço maior. O preço de R$ 158,00 em abril, atualizado para agosto seria equivalente a R$ 168,73/saca nas principais cidades do PR e ao redor de R$ 178,00/saca no RS, mas os preços que o agricultor está recebendo hoje giram ao redor de R$ 152 no PR e R$ 151 no RS, equivalentes a um prejuízo médio de 10,62% no PR e 15,73% no RS, como mostra nossa tabela de atualização do custo de carregamento acima.

CONCLUSÃO

  • a) a maioria dos agricultores está perdendo dinheiro, porque não sabe fazer as contas certas e opera o mercado de soja como se fosse jogar na roleta de um cassino (“vou esperar para ver se a cotação volta” – baseado em quê?;
  • b) existe pouca chance de os mercados retornarem aos preços de maio passado, quando chegaram entre R$ 170,00/180,00/saca e, mesmo se chegarem, não terão o mesmo valor (ou não proporcionarão o mesmo lucro) que proporcionaram naquela ocasião. Basta ver na tabela acima: se chegarem a R$ 179,00 no RS, equivalerão a R$ 168,00em abril, com prejuízo de 6,14%. O mesmo se diga aos agricultores do PR.

Mas, o principal é olhar o lucro, nunca o preço. Muita gente já perdeu bons lucros (inclusive neste ano) por correr atrás de preço. Neste ano de 2021, como se viu, o preço subiu, mas o lucro caiu. A maior margem de lucro desta safra (diferença entre os custos de produção e os preços de venda) ocorreu em novembro passado. Depois disto, os custos subiram mais do que os preços da soja. Então, se você não vendeu em novembro, venda logo, antes que seus custos aumentem mais ainda e seu lucro diminua. Porque, mesmo nos níveis de R$ 152/saca você está tendo um lucro de41,09%, que é considerável, se comparado aos lucros de qualquer outro ano ou de qualquer outro ramo da economia.

Fonte: T&F Agroeconômica



 

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