O presente estudo teve por objetivo quantificar a produção de biomassa seca de
um mix de plantas de cobertura de inverno, numa catena de solos do Pampa gaúcho.

Autores: Thaynan Hentz de Lima¹; Júlio César Wincher Soares1; Higor Machado de Freitas1; Vanderson Fernandes Campos1; Carolyne Garcia Uberti1

Introdução

O consórcio entre espécies de plantas de cobertura de solo, especialmente entre gramíneas e leguminosas ou crucíferas, é uma estratégia eficiente para ampliar os benefícios que tratria se fosse apenas uma cultura (ou culturas puras). Isso porque a relação C/N que dita a velocidade de decomposição e liberação de N dos resíduos culturais é intermediária quando comparada a que é encontrada no tecido vegetal das espécies cultivadas isoladamente (Giacomini, 2001).

A utilização destas plantas impacta tanto a qualidade física do solo, atuando proteção da superfície quanto no aporte de fitomassa proveniente da parte aérea e raízes, quanto na parte química , onde acumulam nutrientes no material vegetal e os liberam durante sua decomposição, possibilitando manutenção e melhoria da fertilidade do solo (Souza et al, 2014). A porção biológica do solo também é impactada positivamente, pois ocorre um estímulo à atividade biológica pela interação positiva entre plantas e microbiota do solo (Reis et al., 2012).

A presença de uma camada de palhada na superfície do solo exerce efeitos físicos, que estão relacionados às variações nas amplitudes térmicas e hídricas do solo e à quantidade de luz que é filtrada pela palha, sendo um ótimo regulador térmico e de umidade, que consequentemente afeta a dormência e a germinação das plantas infestantes do meio, sendo também considerado uma técnica para o controle de daninhas (Taylorson & Borthwick, 1969).

O presente estudo teve por objetivo quantificar a produção de biomassa seca de um mix de plantas de cobertura de inverno, numa catena de solos do Pampa gaúcho.

Material e Métodos

O presente estudo foi desenvolvido na Fazenda Escola da Universidade Regional Integrada do Alto Uruguai e das Missões – URI, Câmpus de Santiago, com coordenas centrais UTM 705.589 E e 6.769.112 S (SIRGAS 2000, zona 21 S). Foi estipulado uma malha amostral fixa de 52 pontos com uma equidistância de 15m entre os pontos, perfazendo uma área total de 1,17ha. Para locação dos pontos foi utilizado um receptor GNSS (Sistema Global de Navegação por Satélite) Leica modelo Viva GS15, com dupla frequência (L1/L2) e disponibilidade de Posicionamento em Tempo Real (RTK).

A semeadura foi realizada dia 30 de junho no ano de 2018 de forma mecânica com trator e plantadeira com espaçamento de 0,17 cm, como é comum nos cultivos de inverno. A densidade de semeadura para aveia foi de 18,75 kg.ha-1 de sementes, ervilhaca 25 kg.ha-1 de sementes, centeio 18,75kg.ha-1 de sementes e nabo 12,5kg.ha-1 de sementes, a quantidade de sementes de cada cultura foi corrigida para 100 % de poder germinativo, totalizando 75kg de plantas de cobertura por hectare. Para quantificar a Biomassa seca (Bs), as plantas se encontravam no estádio de enchimento de grão, onde é o período de máximo acumulo de Bs. Foi coletada uma amostra em cada ponto locado com o receptor, correspondentes a 1,00 m², seguindo o método do quadrado de madeira descrito por Chaila (1986).

Em laboratório, pesaram-se as amostras coletadas determinando assim a massa fresca (recém coletada), em seguida, as amostras foram colocadas numa estufa a 65ºC por 72 horas, ou até atingir a massa constante (Haydock & Shaw, 1975) para a determinação da massa seca em kg.ha-1.

A variabilidade da produção de Bs das dos diferentes pontos foi observada pela análise estatística descritiva e a normalidade dos dados foi testada por KolmogorovSmirnov, com p < 0,05. Já o coeficiente de variação (CV) foi classificado como: baixa (CV < 12%), média (12%< CV >60%) e alta (CV > 60%), segundo Warrick e Nielsen (1980).

No software ArcGIS® 10.5.1, utilizando a geoestátisca, foram realizados os ajustes dos modelos de semivariogramas aos dados, sendo definidos os parâmetros do efeito pepita, patamar e alcance. O Grau de Dependência Espacial (GDE) foi classificado como fraco, moderado e forte, conforme Cambardella et al., (1994). Em seguida, foram elaborados mapas utilizando um algoritmo preditor, a krigagem ordinária, sendo possível um maior detalhamento.

Resultados e Discussão

Os resultados referentes às análises estatísticas descritivas apresentam distribuição normal, conforme o teste de Kolmogorov-Smirnov (Tabela 1). O peso da biomassa seca do Mix de plantas de cobertura apresenta uma variação de 3,5 a 8,4 t.ha-1, com uma média de 5,9 t.ha-1, com um coeficiente de variação classificado como médio. Já a Densidade do solo (DS) teve valores variando de 1,2 a 1,4, com uma média de 1,3 g/cm3 e um coeficiente de variação classificado como baixo.

Através da análise de correlação de pearson, foi possível avaliar uma forte correlação entre DS e quantidade de Bs, sendo essa relação ineversamente proporcional (Tabela 2). Os parâmetros dos semivariogramas apresentaram valores que corroboram para a malha amostral eficaz, além de demontrar o baixo erro experimental, através do alcance, pepita e patamar (Tabela 3). Atráves da geoestatística é possível obervar o mapa de produção do Mix, onde valores altos foram obtidos no terço inferior da catena em estudo, por conta do solo ser mais profundo e ter mais umidade, já que é uma área de depósito (Figura 1).

Conclusão

A utilização de consórcio ou mix de plantas de cobertura para a produção de grande quantidade de Bs é uma prática viável, além de apresentar um correlação inversamente proporcional com a DS.

Informações sobre os autores:

  • ¹ Universidade Regional Integrada do Alto Uruguai e das Missões, Santiago/RS. Thaynanh.lima@hotmail.com; juliowincher@gmail.com; higormfreitasagro@gmail.com;vandersonfc@outlook.com;garciauberticarolyne@gmail.com;

Referências

CAMBARDELLA, C. A. et al. Field-scale variability of soil properties in central Iowa soils. Soil Science Society of America Journal, v. 58, n. 5, p. 1501-1511, 1994. Chaila S. Métodos de evaluación de malezas para estúdios de población y control. Malezas, v. 14, n.2, p. 1-78, 1986.

GIACOMINI, S.J. Consorciação de plantas de cobertura no outono/inverno e fornecimento de nitrogênio ao milho em sistema plantio direto. Santa Maria, Universidade Federal de Santa Maria, 2001. 124p. (Tese de Mestrado) Haydock KP, Shaw NH. The comparative yield method for estimating dry matter yield of pasture. Australian Journal of Agriculture and Animal. Husbandry, Melbourne, v.15, p.66-70, 1975.

REIS RJA et al. 2012. Efeitos de plantas de cobertura nas associações do milho (Zea mays L.) com fungos benéficos do solo. Revista Brasileira de Agropecuária Sustentável 2: 75-80.

SOUZA LS et al. 2014. Adubação verde na física do solo. In: LIMA FILHO OF et al. Adubação verde e plantas de cobertura no Brasil: fundamentos e prática. 1.ed. Brasília: Embrapa. p.337-369.

TAYLORSON, R. B.; BORTHWIC, H. A. A. Light filtration by foliar canopies: significance for light-controlled weed seed germination. Weed Sci., v. 7, n. 1, p. 148-151, 1969.

WARRICK, A.W.; NIELSEN, D.R. Spatial variability of soil physical properties in the field. In: Hillel, D. Applications of soil physics. New York: Academic Press, 1980.


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