Desde a implantação até a colheita, a cultura da soja pode sofrer ataques de diversas pragas. O conhecimento do impacto dos insetos na lavoura é essencial para que as ações preventivas e as técnicas de manejo sejam implementadas adequadamente. O monitoramento e reconhecimento das principais pragas, associados às ferramentas disponíveis para manejo integrado de insetos são aspectos fundamentais para a proteção da lavoura. ­

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O tamanduá-da-soja (Sternechus subsignatus) ganhou maior importância a partir da adoção do sistema plantio direto, fator que facilitou sua hibernação e posterior desenvolvimento enquanto larva no solo. Essa praga tem preocupado produtores principalmente nos estádios iniciais da cultura da soja, e isso se deve ao fato de apresentar-se como um fator limitante para produção, causando danos até irreversíveis quando em alto nível populacional de infestação.

O potencial de danos de S. subsignatus é grande, pois tanto as larvas como os adultos causam danos que, dependendo da época do ataque, podem ser irreversíveis. O adulto, principalmente o macho, raspa o caule e desfia os tecidos no local do ataque.

Os maiores problemas situam-se onde o monocultivo de soja é praticado, e embora seja sentida nos estágios iniciais com maior intensidade devido à baixa no stand de plantas, o ataque pode ser sentido mais tardiamente, por ocasião do desenvolvimento da fase larval que causa intumescências ou galhas e deixa planta frágil.


Quando a população é alta e ocorre na fase inicial da cultura, ocorre ruptura do caule na região do ataque, interrompendo a circulação de seiva, ocasionando morte das plantas e podendo levar à perda total de partes da lavoura. Quando o ataque acontece mais tarde, com o caule lignificado, e com o desenvolvimento das larvas na haste principal, forma-se uma galha de tecido modificado e muito frágil, podendo o caule quebrar pela ação do vento e das chuvas, causando desde o acamamento até a morte de plantas e, consequentemente, diminuindo a população de plantas da cultura.

Figura 1: Adulto de tamanduá em soja

Saiba mais sobre a praga

Nativo do Brasil, o tamanduá-da-soja apresenta ampla distribuição geográfica, ocorrendo em parte da Mata Atlântica e do Cerrado, especialmente nos estados do Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná, São Paulo, Minas Gerais, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Goiás, Espírito Santo e Bahia. O seu primeiro registro em soja data de 1973, atacando lavouras no Rio Grande do Sul (CORSEUIL et al., 1974).

O inseto apresenta uma geração por ano, que se inicia no final de outubro, quando os primeiros adultos aparecem no campo. Na região Sul, dependendo da época de semeadura, o pico populacional dos adultos ocorre no mês de dezembro, mas são encontrados, embora com menor intensidade, até a maturação da soja.

Figura 2. Ciclo de desenvolvimento de Sternechus subsignatus.

Fonte: Hoffmann-Campo et al. (1991), Lorini et al. (2000).

Esse inseto possui a alimentação restrita a apenas algumas espécies de leguminosas, sendo os hospedeiros preferenciais a soja, o feijoeiro, o lab-lab, o feijão-bravo-do-Ceará e o feijão guandu. Estudos realizados com a praga mostraram que o inseto não consegue completar seu ciclo de vida em outras culturas.

Os adultos são gorgulhos de, aproximadamente, 8 mm de comprimento, de coloração preta, com faixas amarelas na parte dorsal do tórax próximo à cabeça (pronoto) e nos élitros (asas duras), formadas por pequenas escamas. Em situações de excesso de umidade, essas listras podem assumir a coloração creme.


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Habitualmente, durante o dia, os adultos são encontrados sob a folhagem da soja, nas partes baixas da planta ou sob restos da cultura anterior, movimentando-se para as partes mais altas das plantas durante a noite, para o acasalamento (SILVA et al., 1998). Entretanto, Guedes et al. (1999) observaram, na região de Pinhal Grande-RS, que a movimentação de adultos para a parte superior da planta se inicia às 15 h, com pico entre 20 e 22 h.

Danos

Os danos podem ser causados por adultos e larvas. Na fase inicial da cultura, os adultos raspam o caule e desfiam os tecidos no local do ataque. Em situação de população alta, o dano é irreversível e as plantas morrem, podendo haver perda total da lavoura. Ainda, quando o ataque acontece mais tarde, na região do anelamento, ocorre o desenvolvimento das larvas, formando-se uma galha, onde a planta pode quebrar pela ação do vento e das chuvas.

Figura 3. Característica de danos causados por Sternechus subsignatus: raspagem (a) e quebra de haste (b).

Fonte: C.B. Hoffmann-Campo.

O hábito alimentar de machos e fêmeas é diferente. Os machos desfiam a epiderme no sentido longitudinal e, às vezes, atingem o córtex. As fêmeas fazem um anelamento característico na haste principal da planta, onde são postos os ovos (Figura 4a), de coloração amarela, que são protegidos por fibras do tecido cortado.

Figura 4. Anelamento causado pelas fêmeas e detalhe do ovo (a) e larva (b) de Sternechus subsignatus.

Fonte: C.B. Hoffmann-Campo.

Tabela 1. Número de ovos e larvas de Sternechus subsignatus, em diferentes estruturas e seções das plantas de soja, em condições de campo.

Fonte: Silva et al. (1998).

Quando a larva chega ao quinto instar, movimenta-se para o solo, onde hiberna em câmaras (Figura 5a), geralmente entre 5 e 10 cm de profundidade, podendo ser encontrada em até 25 cm. As larvas hibernantes não se alimentam, mas, quando perturbadas ou expostas ao sol, se movimentam muito, pois apresentam fototropismo negativo.

Figura 5. Larva hibernante (a) e pupa (b) de Sternechus subsignatus.

C.B. Hoffmann-Campo.

Manejo e controle

Considerando-se que S. subsignatus se alimenta apenas de leguminosas, para diminuir a sua população na área, deve-se utilizar um conjunto de táticas do MIP, incluindo a rotação de culturas com plantas não hospedeiras como milho, sorgo ou girassol e o uso de uma cultura-armadilha, que pode ser a própria soja semeada antecipadamente.

Essas práticas, somadas a utilização de tratamento de sementes de soja com inseticidas e ao controle químico ou a apenas nas bordaduras, em faixas de 30 a 50m, a partir da planta não hospedeira, podem efetivamente diminuir a população da praga, não havendo necessidade de pulverização em toda a área.

Figura 6: Distribuição anual das diversas fases de desenvolvimento de Sternechus subsignatus.

Fonte: Embrapa.

O tratamento de sementes é uma medida muito importante quando se pensa em controle vertical da população, assim como medida preventiva, pode potencialmente diminuir os danos causados por surtos da praga. É importante levar em consideração a escolha do produto.

Em trabalhos realizados com diferentes produtos, pesquisadores alertam que para o manejo do tamanduá-da-soja deve ser considerado a associação do tratamento de sementes, com o controle químico de parte aérea a partir do monitoramento da emergência dos adultos.

Quando pensamos em controle via tratamento de sementes, os pesquisadores MATSUMOTO et al, em trabalho publicado nos anais do VIII Congresso Brasileiro de soja, citam que o o ingrediente ativo Fipronil, em tratamento de sementes, foi o ingrediente ativo que proporcionou menor intensidade de ataque da praga às plantas. Para acessar o trabalho citado, clique aqui.

Figura 7: Intensidade de ataque de Sternechus subsignatus em soja com diferentes inseticidas via TS

Fonte: MATSUMOTO, J.F.; LOBAK, T.; SCHNEIDER NETO, A.; NIMET, M. S.; NEVES, P.M.O.J.; PASINI, A. 1; ROGGIA, S.


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Fontes consultadas: Embrapa, Agência Embrapa de Informação Tecnológica.



Elaboração: Engenheira Agrônoma Andréia Procedi – Equipe Mais Soja.

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