Autores: Prof. Dr. Argemiro Luís Brum e Jaciele Moreira.
As cotações em Chicago continuaram firmes, porém, apresentaram um pequeno viés de baixa nesta semana, não conseguindo, mais uma vez, romper o teto dos US$ 9,00/bushel para o primeiro mês cotado, que passa agora a ser agosto. Desta forma, o fechamento deste mês, nesta quinta-feira (16), ficou em US$ 8,93/bushel, contra US$ 8,98 uma semana antes.
O relatório de oferta e demanda do USDA, divulgado no dia 10/07, acabou consolidando o aumento da produção estadunidense. O mesmo trouxe as seguintes informações para 2020/21:
- produção da nova safra estadunidense projetada em 112,5 milhões de toneladas;
- estoques finais estadunidenses em 11,6 milhões de toneladas, quase um milhão a mais do que o indicado em junho;
- produção mundial de soja em 362,5 milhões de toneladas;
- estoques mundiais de soja em 95,1 milhões de toneladas, quase 1,3 milhão a menos do que o indicado em junho;
- produção brasileira de soja em 131 milhões de toneladas;
- produção argentina de soja em 53,5 milhões de toneladas;
- importações chinesas de soja mantidas em 96 milhões de toneladas;
- preço médio do bushel de soja aos produtores estadunidenses em US$ 8,50, contra US$ 8,55 estimado para 2019/20.
Na prática, o clima dos EUA continua normal e favorável à soja, podendo elevar a produção final da oleaginosa se assim o continuar. Mesmo assim, o governo local reduziu para 68% as condições das lavouras entre boas a excelentes até o dia 12/07, com outros 25% em condições regulares e 7% entre ruins a muito ruins. Por sua vez, 11% das lavouras estão com formação de vagens, contra 10% na média histórica.
Já os embarques semanais de soja por parte dos EUA somaram 483.331 toneladas, ficando dentro do que o mercado esperava. O total do ano comercial soma 37,9 milhões de toneladas, contra pouco mais de 38 milhões no ano anterior nesta época.
A redução dos índices das condições das lavouras ajudou a manter os preços da soja elevados em Chicago. Afinal, o clima nos EUA continua sendo o elemento central do mercado até o início de setembro. Por enquanto, para esta segunda quinzena de julho as projeções climáticas são de clima normal por lá.
Vale ainda destacar que o mercado acompanha o movimento dos Fundos especulativos, os quais estão bastante presentes no mercado futuro da oleaginosa.
Por outro lado, a Associação Nacional das Processadoras de Oleaginosa dos EUA indicou que o esmagamento de soja naquele país, em junho, ficou em 4,55 milhões de toneladas. O número veio dentro das expectativas do mercado. Porém, o volume é menor do que o registrado em maio, mas superior as 4,33 milhões de toneladas de junho de 2019.
Pelo lado da demanda, a China importou, em junho, 71% acima do que havia comprado no mesmo mês do ano anterior, com forte presença da soja brasileira. O país asiático comprou 11,2 milhões de toneladas no mês passado, contra 6,5 milhões em junho de 2019. O volume deste mês de junho foi 19% superior ao adquirido em maio do corrente ano. Esta forte presença chinesa no mercado, após o auge da pandemia do coronavírus naquele país, sustenta em muito as cotações da oleaginosa em Chicago. Para julho o mercado esperada compras chinesas ao redor de 10 milhões de toneladas, mesmo com estoques importantes existentes na China neste momento.
A soja brasileira foi privilegiada pelos chineses no mês passado porque, além de barata em dólares, devido a forte desvalorização do Real, as margens de esmagamento no país asiático estavam favoráveis.
No Brasil, com um câmbio acima de R$ 5,30 por dólar e prêmios igualmente acima de US$ 1,00/bushel, os preços continuam firmes e até subindo em algumas praças, caso do Rio Grande do Sul, onde há escassez do produto devido a quebra em cerca de 50% da última safra.
Assim, a média gaúcha no balcão fechou a semana em R$ 105,56/saco, batendo novo recorde histórico nominal. Nas demais praças nacionais a soja ficou entre R$ 97,00 e R$ 97,50/saco no Paraná; R$ 103,00 em Sorriso (MT) e R$ 109,00 em Maracaju (MS), em valores CIF, R$ 95,00 em Rio Verde (GO) e R$ 102,50 em Luís Eduardo Magalhães (BA).
A Associação Nacional dos Exportadores de Cereais (Anec) espera que o Brasil exporte, em julho, algo em torno de 8,92 milhões de toneladas de soja. Já para o farelo a expectativa é de vendas externas em 1,86 milhão de toneladas. Em se confirmando este volume, o total em sete meses chegaria a 70,4 milhões de toneladas em grãos de soja e 10,2 milhões em farelo.
O que preocupa a cadeia da soja brasileira é a pressão das empresas internacionais e os Fundos de Investimento em relação ao descontrole do governo sobre o desmatamento e as queimadas na Amazônia. O risco de se perder mercados para o próximo ano, em função disso, é grande se o governo brasileiro não assumir uma atitude mais responsável a respeito da questão ambiental, inclusive com troca do ministro do Meio Ambiente.
Por outro lado, chama a atenção o fato de o Brasil estar aumentando suas importações de soja para abastecer o setor moageiro. Em junho, o país comprou 89.760 toneladas, procedentes do Paraguai, mais do que o dobro comprado em maio e o maior volume para junho desde 2016. Isso se deve à forte exportação, devido a preços interessantes, e à quebra de safra no sul do país, particularmente no Rio Grande do Sul e Santa Catarina.
A demanda por óleo de soja também vem subindo, inclusive para exportação. Nos primeiros oito dias de julho o Brasil já havia importado 45.700 toneladas de soja, superando largamente o que havia comprado em todo o mês de julho do ano passado. Para todo o mês de julho o Brasil poderá importar 135.000 toneladas de soja segundo estimativas. Somando maio, junho e os primeiros dias úteis de julho, o total importado pelo Brasil, em soja, atinge neste ano a 178.500 toneladas, superando em muito o que foi comprado no ano passado neste período.
A opção pela importação, especialmente por empresas do sul do país, está no fato de que os preços no interior brasileiro seguem muito elevados, com a oferta escassa.
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Fonte: Informativo CEEMA UNJUÍ, do prof. Dr. Argemiro Luís Brum (1) e de Jaciele Moreira (2).
1 – Professor do DACEC/UNIJUI, doutor em economia internacional pela EHESS de Paris França, coordenador, pesquisador e analista de mercado da CEEMA.
2- Analista do Laboratório de Economia da UNIJUI, bacharel em economia pela UNIJUÍ, Tecnóloga em Processos Gerenciais – UNIJUÍ e aluna do MBA – Finanças e Mercados de Capitais – UNIJUÍ e ADM – Administração UNIJUÍ