A rotação de culturas envolve o cultivo alternado de diferentes espécies agrícolas, na mesma área, ao longo do tempo. As culturas utilizadas possuem, além do propósito comercial, o objetivo de recuperar o solo, aumentando sua atividade biológica e capacidade de absorção de água. Na monocultura e nos sistemas de sucessão simples, como trigo/soja ou pastagem/soja, pode haver uma degradação física, química e biológica do solo com o passar do tempo. Porém, quando a cultura do milho é incluída em um sistema de rotação bem planejado, os resultados são expressivos e sustentáveis no longo prazo.

A estratégia da rotação com milho deve ir além da análise de preços, já que para um bom planejamento é necessário levar em conta todos os benefícios que o cultivo pode trazer para a sustentabilidade do sistema produtivo. Atualmente, existem híbridos com alto potencial de rendimento, garantindo boa rentabilidade ao produtor em relação à soja. A quebra de ciclo de pragas e patógenos, o uso de diferentes grupos químicos de herbicidas, a diferença na exploração radicular e a produção de biomassa são fatores que melhoram o controle fitossanitário da soja, além de incrementar a fertilidade do solo.

A disseminação de pragas na cultura da soja pode ser potencializada em função da monocultura de verão. Na região Sul do Brasil, por exemplo, com a redução de área semeada com milho (falta de rotação), uma praga que pode crescer em ocorrência é o tamanduá-da-soja (Sternechus subsignatus). Apesar de existirem alternativas de controle químico eficazes para o tamanduá-da-soja, um eventual aumento populacional ao longo dos anos resultaria em prejuízos significativos, como já verificado em safras anteriores. Outra praga favorecida pelo monocultivo é a mosca-da-haste (Melanagromyza sojae), que sobrevive apenas em soja e outras leguminosas, podendo ser indiretamente suprimida pela rotação com milho.

Figura 1. Larva de tamanduá-da-soja, Sternechus subsignatus.

Foto: Pioneer – Autor Bernardo Tisot. Disponível clicando aqui. 

Figura 2. Adulto de tamanduá-da-soja, Sternechus subsignatus.

Foto: Bernardo Tisot. Disponível em: Pioneer Sementes. 

Dependendo do manejo e da cultura de cobertura que antecederá o milho, é importante considerar alguns tipos de pragas que, geralmente, sobrevivem nessas plantas. O planejamento da cobertura verde é, portanto, imprescindível para o manejo integrado de pragas. A alta incidência de corós é um exemplo típico de problema em áreas com pouca cobertura. Indiretamente, outras pragas sofrem interferência na monocultura de verão, como é o caso dos nematoides, das lagartas, dos ácaros, da mosca-branca, entre outras. De forma geral, a frequente utilização do monocultivo de soja leva a um aumento populacional das pragas, consequentemente elevando o número de aplicações de inseticida por ciclo da cultura e aumentando o custo de produção.

Além do manejo de pragas, a rotação de culturas auxilia na redução de inóculo de várias doenças, devido à decomposição ou mineralização da matéria orgânica presente nos restos culturais e exaustão nutricional do substrato (REIS et. al, 2011). Quando a cultura do milho está incluída na rotação, pode haver diminuição significativa dos fitopatógenos causadores da podridão cinza, podridão radicular vermelha, podridão radicular de fitóftora, mofo branco e antracnose na cultura da soja.

Figura 3. Mofo branco causado por Sclerotinia sclereotiorum.

Foto: Lecio Kaneko. Disponível em: em: Pioneer Sementes.  

A rotação de culturas também colabora para a redução populacional de certas plantas daninhas, especialmente as resistentes ao glifosato. A palhada deixada pela cultura do milho ajuda a reduzir o banco de sementes das invasoras e proporciona o uso de um número maior de herbicidas com diferentes mecanismos de ação, como as triazinas, o que contribui para
o controle de espécies resistentes e/ou tolerantes. Azevém, buva, capim-branco e capim-amargoso são exemplos de invasoras importantes na cultura da soja que tem a sua infestação reduzida em áreas de rotação com milho.

Por fim, a soja possui raiz pivotante enquanto o milho apresenta raiz fasciculada, o que faz com que essas culturas explorem e absorvam nutrientes de diferentes nichos do solo, e realizem uma descompactação biológica por meio de diferentes sistemas radiculares. Além disso, os nutrientes exportados nos grãos e reciclados na palhada são complementares entre a soja e o milho, como no caso do nitrogênio.

O resultado da rotação entre milho e soja, no longo prazo, é o aumento da produtividade em ambas as culturas. Considerando a produtividade média da soja no sistema de rotação com milho em relação à observada na sucessão com trigo, o ganho acumulado na produtividade da oleaginosa pode chegar a 17% (FRANCHINI et al., 2011). Portanto, áreas cultivadas predominantemente com soja deveriam receber pelo menos a cada três anos a cultura do milho, que se apresenta como a forma de rotação mais viável tecnicamente e a mais rentável para o cultivo de verão.

Revisão: Prof. Jonas Arnemann, PhD. e coordenador do Grupo de Manejo e Genética de Pragas – UFSM

Referências:

FRANCHINI, J. C. et al. Empresa Brasileira de Agropecuária, Embrapa Soja/ Documentos 327. Importância da rotação de culturas para a produção agrícola sustentável no Paraná. Londrina-PR, 2011.

JANDREY, D.; TISOT, B.; MADALOZ, J. C. Cinco motives para incluir milho na rotação de culturas visando a sustentabilidade da soja. Pioneer Sementes, 2018. Disponível em:http://www.pioneersementes.com.br/blog/Documents/Rota%C3%A7%C3%A3oDeCulturas.pdf

REIS, E.M.; CASA, R.T.; BIANCHIN, V. Controle de doenças de plantas pela rotação de culturas. Summa Phytopathologica, v.37, n.3, p.85-91, 2011

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