Foto de capa: Jarmo Holopainen.

Várias espécies de ácaros-praga ocorrem na cultura da soja, com destaque para o ácaro-rajado (Tetranychus urticae), o ácaro-verde (Mononychellus planki) e o ácaro-vermelho (Tetranychus desertorum), todos pertencentes à família Tetranychidae. Os surtos populacionais de ácaros são mais comuns em períodos de baixa precipitação pluviométrica, potencializados pelo curto ciclo de vida e alta capacidade reprodutiva desse grupo de pragas.

Bioecologia

O ciclo biológico dos ácaros é composto pelas fases de ovo, larva, protoninfa, deutoninfa e adulto. Os ovos são esféricos e inicialmente translúcidos, tornando-se opacos, amarelados e brancos até a eclosão da larva, que possui formato ovoide e três pares de pernas. A larva passa por uma fase ativa e uma fase quiescente (imóvel), da qual emerge a protoninfa, com quatro pares de pernas.

A partir do estádio de deutoninfa, as fêmeas tornam-se maiores e com formato ovoide, enquanto os machos mantém-se menores e afilados. Esse dimorfismo sexual é mais visível na fase adulta. Todos os ácaros tetraniquídeos são haplodiploides, sendo que os óvulos fertilizados originam fêmeas e os não fertilizados, machos (partenogênese arrenótoca).

Figura 1. Adultos de Tetranychus urticae (ácaro-rajado).

Crédito da foto: Jarmo Holopainen.

As infestações de ácaros costumam iniciar-se em pequenas áreas com o crescimento das populações nas plantas, gradualmente expandindo as reboleiras e evoluindo para toda a lavoura de soja. Nas folhas, são encontrados tanto na face superior quanto na inferior. Em muitos casos, as plantas não apresentam sintomas iniciais de ataque até este tornar-se mais severo, o que prejudica a tomada de decisão para controle no momento correto.

Sintomas e danos

Os ácaros tetraniquídeos atacam a superfície foliar das plantas de soja, perfurando as células da epiderme com seu par de quelíceras estiliformes e sugando o conteúdo celular via bomba faringeal. O comprimento dos estiletes impede a sucção de seiva diretamente dos vasos da planta, atingindo no máximo o parênquima foliar.

O ataque produz pequenas pontuações esbranquiçadas nas folhas, conhecidas popularmente como “mosqueamento”. Assim, com a evolução das injúrias, as folhas ficam totalmente cloróticas, prejudicando a eficiência fotossintética da cultura. Na ausência de controle, pode ocorrer queda de folhas e, em casos mais severos, até morte de plantas.

Figura 2. Profundidade de penetração das quelíceras de ácaros tetraniquídeos (T), diptilomiopídeos (D) e outros eriofídeos (E) em uma folha de soja.

Fonte: Carmona & Dias (1996).

O diagnóstico em campo é facilitado pelo emprego de uma lupa manual com, pelo menos, dez vezes de aumento, permitindo constatar a presença de ácaros vivos e/ou mortos. Dessa forma, o uso da lupa também permite identificar os ácaros benéficos, que são predadores de ácaros-praga. Os ácaros-predadores diferem dos ácaros-praga por serem brilhantes e apresentarem grande mobilidade.

Medidas de controle

As populações de ácaros aumentam juntamente com o desenvolvimento da cultura, atingindo seu pico próximo ao florescimento da soja. O aparecimento das primeiras manchas amareladas equivale à densidade populacional média de um ácaro-rajado por cm² de área foliar, a partir da qual pode ser considerada a adoção de medidas de controle.

No Brasil, há 38 acaricidas químicos registrados para o controle de T. urticae, cinco para o controle de T. desertorum e três para o controle de M. planki, sendo a maioria deles formulada com base no ingrediente ativo abamectina. A associação com óleo mineral na aplicação eleva a eficiência de controle. Não é recomendada a aplicação de piretroides, que possuem efeito estimulante na reprodução das fêmeas.

Produtos biológicos:

Também há 34 produtos biológicos registrados para o controle de ácaros em soja no Brasil, sendo a maioria deles formulados com base no fungo Beauveria bassiana, além dos ácaros-predadores Neoseiulus californicus e Phytoseiulus macropilis. Outras espécies de fungos benéficos ocorrem naturalmente nas lavouras, mas são restringidos pelo elevado número de aplicações de fungicidas, impedindo um controle natural satisfatório dos ácaros.

Sobre o autor: Henrique Pozebon, Engenheiro Agrônomo na Prefeitura Municipal de Santa Maria, Doutorando em Agronomia pela UFSM.



Referências:

GUEDES, J. V. C.; NAVIA, D.; LOFEGO, A. C.; DEQUECH, S. T. B. Ácaros associados à cultura da soja no Rio Grande do Sul. Neotropical Entomology, Brasília, v. 36, p. 288-293, abr. 2007.

GUEDES, J. C.; POZEBON, H.; ARNEMANN, J. A.; RUTHES, E.; PERINI, C. R. Pragas da Soja. Em: ROMERO, J. C. P. (Ed.) Manual de Entomologia Volume 1: Pragas das Culturas. 1ª Edição, 477 p. Editora Agronômica Ceres, Ouro Fino – MG, 2022.

PADILHA, G.; FIORIN, R. A.; CARGNELUTTI FILHO, A. et al. Damage assessment and economic injury level of the two-spotted spider mite Tetranychus urticae in soybean. Pesquisa Agropecuária Brasileira, Brasília, v. 55, e01836, ago. 2020.

ROGIA, S.; GUEDES, J. V. C.; KUSS, R. C. R.; ARNEMANN, J. A.; NÁVIA, D. Spider mites associated to soybean in Rio Grande do Sul, Brazil. Pesquisa Agropecuária Brasileira, Brasília, v. 43,  n. 3, p. 295-301, mar. 2008.

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