Autores: Matheus Oliveira Giuliani¹; Antônio Augusto Marquez²; Felipe Bilik2; Vinício José Bordignon², Douglas Dalla Nora3; Rafael Ziani Goulart3

Introdução 

O estado do Rio Grande do Sul (RS) teve um aumento na área de várzea cultivada com arroz (Oryza Sativa) até a safra 2004/5, estabilizando em torno de um milhão de hectares (ha) semeados. No entanto, no ano agrícola de 2017/2018, a área de cultivo chegou aos 1.942.921 ha (Sosbai, 2018), destes, cerca de 1,2 milhões de ha estão em rotação com soja (Glycine max) (IRGA, 2020). A rotação com culturas de sequeiro em áreas de terras baixas é uma alternativa importante na manutenção do potencial produtivo (Goulart, 2016), pois proporciona a quebra do ciclo de pragas, reduz a competição por nutrientes e melhora as condições do solo nos aspectos químico e físico (Dalla Nora, 2017). No entanto, as características de relevo predominantemente plano, bem como a ascensão do lençol freático em períodos chuvosos, a baixa relação água/ar e principalmente a condutividade hidráulica praticamente nula no horizonte B propiciam um ambiente mal drenado dificultando o cultivo de culturas de sequeiro (Sosbai, 2014; EMBRAPA, 2017).

O uso de técnicas de manejo de solo que proporcionam um ambiente melhor drenado é fundamental para o sucesso da rotação com culturas de sequeiro em áreas de várzea. Uma alternativa benéfica é a semeadura em sistema sulco-camalhão, pois eleva o sistema radicular e a drenagem é facilitada pelos sulcos, assim proporciona maior aeração ao sistema radicular e o tempo de alagamento das áreas é reduzido (Goulart, 2016; EMBRAPA, 2017). Diante disso, o objetivo do trabalho foi avaliar o cultivo de soja em terras baixas em um sistema sulco-camalhão, variando as declividades de sulco, visando obter a maior eficiência do sistema.

Materiais e Métodos 

O presente estudo foi conduzido durante a safra 2019/20 na área experimental do Instituto Federal Farroupilha – Campus Alegrete, Alegrete, RS. O solo da área é classificado como Gleissolo Háplico (EMBRAPA, 2013) e apresenta média pluviométrica de 1700 mm KÖEPPEN (SEMEC, 2019). O delineamento foi de blocos ao acaso com quatro repetições. Os tratamentos são divididos em 2 fatores sendo o primeiro as diferentes declividades, sendo elas: 0,0%; 0,25%; 0,5%; 1,0% de declividade do sistema sulco-camalhão. O segundo fator analisado é a localização na parcela que é dividida em 3 pontos: início, meio e fim. Cada parcela tem uma área de 100m² (2mx50m) na qual foi semeada a cultivar NA 5909 RR com uma população de 16 plantas/metro linear com espaçamento de 0,45m.

A avaliação da população de plantas foi realizada a partir da contagem em 3 pontos de cada parcela, foi levado em consideração o número de plantas em 2 metros lineares nos períodos de 30 dias após a semeadura (DAS), 60 DAS e na maturação fisiológica (MF). A produtividade de grãos foi obtida mediante a colheita de 2 linhas centrais com comprimento de 2 metros, após foi realizada a trilha, e depois obtido o peso dos grãos, corrigindo a umidade para 13%. Os dados obtidos foram analisados no software Sisvar 5.6 (Ferreira, 2000) e as médias foram comparadas entre si pelo teste de Tukey a 5% de probabilidade de erro.

Resultados e Discussão

A interação entres os fatores declividade e local não apresentou influência sob o número de plantas estabelecidas (p>0,05). Dentre os desdobramentos, o fator declividade afetou significativamente (p<0,05) a contagem de plantas em todos os períodos avaliados. Conforme a declividade do sulco aumenta, cresce o número de plantas estabelecidas, tendo o tratamento 0% diferindo estatisticamente do 1% (Tabela 1). No entanto, houve redução de 18% no estande de plantas entre 30 DAS e 60 DAS nos tratamentos 0% e 0,25%, já para os tratamentos com 0,5% e 1%, a mortandade de plantas foi menor, mantendo-se em apenas 7% (Tabela 1). Para a MF, os tratamentos 0%, 0,5% e 1% apresentam perda de 18% de plantas, enquanto no tratamento 0,25% foi observado um valor de 25% de mortandade de plantas entre os 30 DAS e a MF. Essa redução no estante de plantas pode ser explicada pela ocorrência de podridão radicular de Phytophthora (Phytophthora sojae), identificado a partir do documento online (Costamilan et al., 2007).

Na produtividade de grãos não houve interação entre os tratamentos e local na parcela. No tratamento 0,25% o fim da parcela produziu 63% e 56% a mais que o início e o meio, respectivamente (Tabela 2). Esse incremento na produtividade pode ter ocorrido devido a tendência da água se concentrar no final da parcela, em um ano onde o índice pluviométrico durante o ciclo da cultura foi de 339,6mm (INMET), abaixo dos 830mm necessário para a cultura (EMBRAPA, 2017). A redução de 40% nos índices pluviométricos necessários para a cultura também pode ter sido responsável pela insignificância nos resultados de rendimento de grãos das declividades de 0% 0,5% e 1%, uma vez que não houve excesso de precipitação em um curto período de tempo e assim não se fez necessária a drenagem da área. O valor médio produzido no estudo foi de 44 sc.ha-1 valor esse superior à média estadual estimada pela EMATER-RS, que foi de 37 sc.ha-1.

Conclusão 

O número de plantas estabelecidas, ao decorrer do ciclo da cultura da soja, diminui de maneira gradativa. Também se nota que em anos com baixa incidência pluviométrica um manejo de solo focado para a drenagem não interfere no rendimento da soja.

Referências 

COSTAMILAN, L. M.; BERTAGNOLLI, P. F.; MORAES, R. M. A. de. Podridão radicular de fitóftora em soja. Passo Fundo: Embrapa Trigo, 2007. 23 p. html. (Embrapa Trigo. Documentos Online, 79). Disponível em: http://www.cnpt.embrapa.br/biblio/do/p_do79.htm

DALLA NORA, D. Melhoria dos atributos químicos da camada de enraizamento sobre a produtividade das culturas em sistema plantio direto. Santa Maria: UFSM, 2017.

EMPRESA BRASILEIRA DE PESQUISA AGROPECUÁRIA – EMBRAPA. Centro Nacional de Pesquisa de Solos. Sistema brasileiro de classificação de solos. 2.ed. Rio de Janeiro, 2006. 306p

EMPRESA BRASILEIRA DE PESQUISA AGROPECUÁRIA – EMBRAPA. Embrapa Clima Temperado. Cultivo de soja e milho em terras baixas. 1.ed. Brasília, 2017. 336p

FERREIRA, D.F. Análises estatísticas por meio do Sisvar para Windows versão 4.0. In…45a Reunião Anual da Região Brasileira da Sociedade internacional de Biometria. UFSCar, São Carlos, SP, Julho de 2000. p.255-258.

GOULART, R. Z. et al. Manejo de solo de várzea para cultivo de soja, milho e forrageiras hibernais na Fronteira Oeste Gaúcha. Santa Maria: UFSM, 2016

INMET – Instituto Nacional de Meteorologia, Brasília, DF, Brasil. Disponível em: http://www.inmet.gov.br/portal/. Acesso em: 01 de julho de 2020.

INSTITUTO RIO GRANDENSE DE ARROZ – IRGA. Intenção de semeadura – arroz e soja em rotação – safra 19/20. Porto Alegre – RS, 2020, 3 p

SEMEC – Atlas Eólico do Rio Grande do sul: Clima, temperatura e precipitação. URL. https://atlassocioeconomico.rs.gov.br/clima-temperatura-e-precipitacao, Accessed 10 July 2020.

SOSBAI. Sociedade Sul-Brasileira de Arroz Irrigado. Arroz Irrigado: recomendações técnicas da pesquisa do Sul do Brasil XXX Reunião Técnica da Cultura do Arroz Irrigado, 06 a 08 de agosto de 2014, Bento Gonçalves, RS, Brasil. Sociedade Sul-Brasileira de Arroz Irrigado, Santa Maria, 2014. 192 p.

SOSBAI. Sociedade Sul-Brasileira de Arroz Irrigado. Arroz Irrigado: recomendações técnicas da pesquisa do Sul do Brasil XXXII Reunião Técnica da Cultura do Arroz Irrigado, 08 a 10 de agosto de 2018, Farroupilha, RS – Cachoeirinha, Brasil. Sociedade Sul-Brasileira de Arroz Irrigado, 2018. 10 p.

Informações dos autores: 

¹ Acadêmico do Curso de Engenharia Agrícola, Instituto Federal Farroupilha Campus Alegrete (IFFar), Alegrete/RS. E-mail: 97giuliani@gmail.com;
² Acadêmico do Curso de Engenharia Agrícola, Instituto Federal Farroupilha Campus Alegrete (IFFar), Alegrete/RS;
³ Doutor, Professor do Instituto Federal Farroupilha – Campus Alegrete, Alegrete, RS, Brasil.


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