Por Dr. Argemiro Luís Brum

As cotações da soja, em Chicago, melhoraram nesta última semana de agosto. O primeiro mês cotado fechou o dia 29/08 (quinta-feira) em US$ 9,73/bushel, contra US$ 9,41 uma semana antes. Esta melhoria se deu, em especial, ao forte empuxe do óleo de soja que, entre os dias 27 e 29 de agosto ganhou, em Chicago, 4,9%.

Além disso e do tradicional ajuste técnico após as baixas anteriores, soma-se a revisão para pior nas condições das lavouras dos EUA. Às vésperas do início da colheita, 67% das mesmas estavam entre boas a excelentes no dia 25/08, com recuo de um ponto percentual sobre a semana anterior. Mesmo assim, tais lavouras estão muito melhores do que o registrado no ano passado, quando apenas 58% das mesmas estavam nestas condições. Vale destacar que 89% das lavouras estavam em fase de formação de vagens, contra 88% na média histórica.

Por outro lado, na semana encerrada em 22/08, os embarques de soja estadunidense totalizaram 411.165 toneladas, ficando dentro das expectativas do mercado. Com isso, o total já exportado no atual ano comercial alcança 44,2 milhões de toneladas, ou seja, 15% abaixo do registrado no mesmo momento do ano anterior.

Já para a nova safra 2024/25 o volume comprometido com exportações estaria em 1,39 milhão de toneladas na mesma semana. A China foi o maior comprador no período, demonstrando que, no momento, a competitividade da soja estadunidense está melhor do que a brasileira. Assim, com a melhoria da demanda chinesa, mesmo que nada de espetacular, as cotações da oleaginosa, em Chicago, tiveram um respiro positivo. Mas não se pode esquecer que a nova safra estadunidense, que começa a ser colhida ainda no mês de setembro, tende a ser muito boa. Um dos pontos chaves, no momento, segundo a Consultoria Agrinvest é: “Ainda tem muita soja na China, na mão das processadoras.

Soja do Brasil que foi carregada nestes últimos quatro meses e que está chegando lá. Em algum momento, isso vai começar a cair, mas ainda está confortável. E com os compradores de farelo “não convencidos” de que vai faltar produto, não adianta as processadoras comprarem soja se não conseguem vender farelo no mesmo ritmo. A demanda na China, pensando em vendas de ração, é 4% menor em relação ao ano passado.”

Dito isso, a perda de competitividade da soja brasileira, em relação a dos EUA, se dá pelo aumento no valor dos prêmios no Brasil, onde já começaria a faltar soja em alguns estados, caso do Mato Grosso e Goiás. Isso ocorre pela menor colheita que tivemos nesta última safra. Com isso, já há necessidade maior de importação de soja pelo Brasil, pois os estoques nacionais deverão ser um dos mais baixos da história.

Segundo estimativa da Consultoria Pátria Agronegócios, nossos estoques chegariam em 2,26 milhões de toneladas no corrente ano, os menores desde a safra 2004/05. Com isso, o Brasil deverá importar, no corrente ano, um total de 1,65 milhão de toneladas. No Paraguai, os operadores informam que “nunca houve tanta demanda de compradores do Paraná, do Mato Grosso do Sul, e tradings buscando soja dentro do Paraguai para levar ao Brasil e honrar os compromissos de exportação, principalmente”. Com isso, é provável que neste segundo semestre as indústrias moageiras brasileiras continuem pagando um pouco mais pela soja em regiões como o Sul do Mato Grosso, Sudoeste e Sul de Goiás, e Triângulo Mineiro, praças que buscam garantir a soja em seu poder.

Por outro lado, na Argentina os produtores devem plantar mais soja do que milho, pois este último vem resultando em prejuízos importantes devido ao ataque da cigarrinha. Além disso, por lá a previsão de chuvas parece ser mais interessante para a soja do que para o milho. Com isso, a área de soja nesta nova safra, no vizinho país, poderá ser a maior dos últimos 10 anos. Em se confirmando, e a produção corresponder, haverá mais pressão baixista sobre os preços internacionais do produto no próximo ano. Neste momento fala-se de algo em torno de 2 milhões de hectares que sairiam do milho para a soja naquele país. Tanto é verdade que as Bolsas argentinas estimam a área de milho, em 2024/25, em recuo de 17% a 21%. Em contrapartida, técnicos consideram que, se houver um bom regime de chuvas em setembro, a redução na área de milho pode ser menor do que o projetado até o momento.

E no Brasil, os preços da soja, diante de um câmbio que se manteve ao redor de R$ 5,50 e R$ 5,55 por dólar, acabaram se estabilizando, porém, com viés de alta. A média gaúcha fechou em R$ 115,82/saco, enquanto as principais praças do Estado se fixaram em R$ 114,00. Já nas demais regiões brasileiras os preços da oleaginosa oscilaram entre R$ 112,50 e R$ 122,00/saco.

Dito isso, confirmando indicações anteriores, o sentimento é de que o aumento de área semeada com soja, no Brasil, nesta próxima safra, será o menor dos últimos 10 anos, com o total devendo ficar ao redor de 47 milhões de hectares. Isso se dará em função das margens menores que os produtores rurais vêm conseguindo com a atividade. Lembrando que o novo plantio nacional se inicia em meados de setembro, pelo Mato Grosso. (cf. Cofco) Segundo a Conab, nos últimos 10 anos, o menor crescimento na área plantada com soja ocorreu no ano de 2016/17, com alta de 1,98% sobre 2015/16.

Mesmo assim, é bom lembrar que, em clima normal, a nova safra de soja poderá gerar em torno de 20 milhões de toneladas a mais do que o conquistado na parcialmente frustrada colheita passada, devendo atingir um volume ao redor de 170 milhões de toneladas.

Enfim, os portos do Paraná exportaram 9,4 milhões de toneladas de soja nos primeiros sete meses do corrente ano, ou seja, um crescimento de 16% sobre igual período do ano anterior. Isso significa quatro vezes mais do que a média nacional, que aumentou apenas 4% no período, atingindo a 75,4 milhões de toneladas.

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Fonte: Informativo CEEMA UNIJUÍ, do prof. Dr. Argemiro Luís Brum¹

1 – Professor Titular do PPGDR da UNIJUÍ, doutor em Economia Internacional pela EHESS de Paris-França, coordenador, pesquisador e analista de mercado da CEEMA (FIDENE/UNIJUÍ).



 

 

FONTE

Autor:Dr. Argemiro Luís Brum/CEEMA-UNIJUÍ

Site: Informativo CEEMA UNIJUÍ

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