Por Argimiro Luís Brum
As cotações da soja, em Chicago, recuaram novamente nesta semana, com o primeiro mês cotado rompendo o piso dos US$ 10,00/bushel, tendo alcançado US$ 9,84 no dia 04/03. Posteriormente, o fechamento do dia 06/03 ficou em US$ 10,14, contra US$ 10,22 uma semana antes. Já a média de fevereiro fechou em US$ 10,40/bushel, com aumento de 1,1% sobre janeiro. Em fevereiro/24 a média havia sido de US$ 11,69/bushel.
O agravamento da guerra comercial que Donald Trump vem realizando contra diferentes países do mundo, a começar pela China, Canadá e México, traz estragos aos preços mundiais da soja. Chicago, olhando o que já ocorreu lá em 2018, receia que a China faça retaliações sobre as compras de soja estadunidense e outros produtos primários procedentes dos EUA. Aliás, Trump acaba de anunciar que os produtos agropecuários importados pelos EUA passarão a ser taxados a partir de abril. Uma possível redução nas compras de soja estadunidense, por parte da China, será desastroso aos produtores norte-americanos, fato que já leva a uma redução nas cotações. Lembrando que o governo estadunidense acrescentou mais 10% de tarifa, aos 10% iniciais, sobre os produtos chineses.
A retaliação dos países atingidos, incluindo já o Brasil na área do aço e do alumínio em especial, causará enorme prejuízo ao comércio mundial. A soja brasileira poderá tirar vantagem, porém, o cenário exige muito cuidado, pois a economia mundial está muito diferente daquela de 2018. No caso brasileiro, temos limitações de logística, com fretes elevados, congestionamento de portos e deficiente sistema de armazenagem, o que encarece nosso produto pós-porteira das propriedades rurais.
Neste momento, a China suspendeu as licenças de importação de soja de três empresas estadunidenses situadas em seu território. Como o Brasil já vende 75% de suas exportações de soja para a China, sobra pouco espaço para o país ganhar de mercado sobre o que deixará de vender os EUA. É um quadro diferente, portanto, daquele que existia em 2018.
Dito isso, os embarques de soja por parte dos EUA, na semana encerrada em 27/02, somaram 695.158 toneladas, ficando dentro do esperado pelo mercado. Em todo o atual ano comercial os EUA já exportaram 37,6 milhões de toneladas, ou seja, 10% acima do exportado no mesmo período do ano anterior.
Enquanto isso, as importações de soja por parte da União Europeia, no ano comercial 2024/25, iniciado em julho na Europa, somaram 9,01 milhões de toneladas em 02/03, com aumento de 9% sobre o mesmo período do ano anterior. Já as importações de colza somaram 4,39 milhões de toneladas no período, com aumento de 10% sobre o ano anterior, enquanto as importações de farelo de soja chegaram a 12,8 milhões de toneladas, com aumento de 29% sobre o ano anterior. Enfim, as importações europeias de óleo de palma chegaram a 1,86 milhão de toneladas, caindo 22% sobre o total comprado no mesmo período do ano anterior.
E no Brasil, graças a um câmbio que chegou a R$ 5,91 em alguns momentos da semana, e a expectativa de prêmios futuros melhores devido a uma possível melhor demanda chinesa, a partir da guerra tarifária provocada pelos EUA, o mercado viu os preços da soja subirem um pouco. Assim, a média gaúcha fechou a semana em R$ 126,95/saco, enquanto as principais praças locais trabalharam com valores entre R$ 127,00 e R$ 129,00/saco. No caso gaúcho, a forte quebra da safra, devido à seca, deverá reduzir a produção prevista entre 40% e 50%, havendo regiões com perda total da safra. Isso também vem sustentando os preços locais. Já no restante do país, os preços da soja oscilaram entre R$ 103,00 e R$ 123,50/saco junto as principais praças pesquisadas.
Dito isso, a colheita brasileira de soja teria chegado a 48,4% da área total até o início de março, contra 46,6% na média histórica para esta época do ano. Especificamente no Mato Grosso, a colheita bateu em 82,3% da área nesta semana, contra 77,4% na média histórica (cf. Pátria AgroNegócios e Imea).
Hoje, a produção brasileira de soja, computado o grave quadro no Rio Grande do Sul está ao redor de 166 a 168 milhões de toneladas, porém, não se descarta um volume menor. Pelo sim ou pelo não, o mercado espera, diante dos novos números de produção, uma exportação anual de 107 milhões de toneladas, contra 108,5 milhões anteriormente (cf. StoneX).
Especificamente no Paraná, a colheita da soja atingia a 50% da área total de 5,77 milhões de hectares, com uma projeção de produção, agora, em torno de 21,2 milhões de toneladas, contra 22,3 milhões esperadas anteriormente (cf. Deral). E no RS a colheita da soja chegou no final de fevereiro a 1% da área, ficando dentro da média histórica (cf. Emater).
Fonte: Informativo CEEMA UNIJUÍ, do prof. Dr. Argemiro Luís Brum¹
1 – Professor Titular do PPGDR da UNIJUÍ, doutor em Economia Internacional pela EHESS de Paris-França, coordenador, pesquisador e analista de mercado da CEEMA (FIDENE/UNIJUÍ).