Após quatro anos apresentando crescimento de área, produtores reduziram o cultivo de trigo em 2024. As expressivas quedas de preços ao longo de 2023 e perdas no campo diminuíram expressivamente a rentabilidade do produtor e, consequentemente, o apetite por elevar a área dedicada à cultura em 2024.

O lado positivo é que a produtividade média brasileira teve recuperação parcial no ano, mantendo a oferta em linha com a observada em 2023. A demanda, por sua vez, se manteve firme, resultando em necessidade de importação – inclusive, os volumes internalizados foram os maiores em quatro anos.

Dados divulgados pela Conab apontam que a área semeada na safra 2024 foi 11,9% inferior à anterior, somando 3,061 milhões de hectares. Já a produtividade foi estimada em 2.634 kg/ha, 13% maior que a da temporada passada. Assim, a produção da safra de 2024 foi projetada em 8,064 milhões de toneladas, ligeira queda de 0,4% frente à de 2023.

A produção adicionada ao estoque inicial, em agosto/24, gera um volume de 8,6 milhões de toneladas. Porém, o consumo é previsto em 11,9 milhões de toneladas. Assim, o déficit interno chega a 3,3 milhões de toneladas, o maior desde 2019. Desta forma, há necessidade de incrementar a importação.

O volume de trigo importado entre agosto/23 e julho/24 chegou a 5,7 milhões de toneladas, o maior em 12 meses desde dezembro/22. A Conab estima que, entre agosto/24 e julho/25, as importações cheguem a 6,2 milhões de toneladas. Porém, nos 12 meses terminados em dezembro/24, já chegaram ao Brasil 6,6 milhões de toneladas. Com isso, a disponibilidade interna supera a demanda, gerando excedentes e permitindo, inclusive, exportações. Enquanto entre agosto/23 e julho/24 foram exportadas 2,8 milhões de toneladas, a Conab prevê que, entre agosto/24 e julho/25, o volume fique em 2 milhões de toneladas.

O suprimento é projetado em 14,77 milhões de toneladas para 2024, queda de 3,08% frente à safra anterior, e as exportações são estimadas em 2 milhões de toneladas, redução de 28,3%. O estoque de passagem em dezembro/24 é indicado pela Conab em 879 mil de toneladas, 73,9% maior que o projetado em dezembro/23.

MOVIMENTAÇÕES DE PREÇOS – Os preços do trigo tiveram ligeiras quedas no primeiro trimestre de 2024, após terem encerrado 2023 em recuperação parcial. A menor disponibilidade de trigo da Argentina havia favorecido as altas no final do ano anterior. Por outro lado, havia certa expectativa de maior oferta no Brasil.

No segundo trimestre do ano, as cotações encontraram sustentação nas valorizações externa e do dólar e também nas preocupações relacionadas ao cultivo de trigo no Sul do Brasil – vale lembrar que o Rio Grande do Sul atravessou uma catástrofe climática, que gerou expectativa de menor cultivo e/ou de impossibilidade de cultivo em parte do estado. O período de entressafra também era motivo de sustentação de preços.

Os maiores preços médios de 2024 foram registrados em julho, impulsionados pela menor disponibilidade de trigo e pela demanda aquecida. Porém, nos meses seguintes, as importações crescentes acabaram exercendo pressão sobre as cotações, contexto que se prolongou até final do ano. A partir do final do terceiro semestre, o avanço da colheita e os estoques favoráveis nos moinhos reforçaram a pressão sobre os valores domésticos. Ao mesmo tempo, empresas sinalizavam menor liquidez no mercado de farinhas.

No campo, o avanço da colheita revelou perdas expressivas nas lavouras do Paraná e bons volumes no Rio Grande do Sul, ao contrário do observado em 2023. A produtividade no Paraná caiu 20% em 2024, para 2,06 tonelada/hectare, enquanto a do Rio Grande do Sul cresceu 59,1%, para 3,07 t/ha. Em Santa Catarina, o salto foi de 72,1%, para 3,7 t/ha. Dados do Cepea mostram que, entre 28 de dezembro de 2023 e 30 de dezembro de 2024, os valores médios do trigo no mercado de lotes (negociação entre empresas) subiram 10,7% no Paraná, 5,2% em Santa Catarina, 23% em São Paulo e 2,5% no Rio Grande do Sul. Em termos nominais, as médias de 2024 foram de R$ 1.394,87/t no Paraná (0,4% maior que a de 2023), de R$ 1.296,14/t no Rio Grande do Sul (0,5% menor), de R$ 1.463,93/t em São Paulo (0,5% maior) e de R$ 1.437,42/t em Santa Catarina (aumento de 0,1%).

No mercado de balcão (preços ao produtor), dados do Cepea apontam que, entre 28 de dezembro de 2023 e 30 de dezembro de 2024, houve alta 8%. Isso evidencia que, apesar de a oferta estar em linha com a observada em 2023, os preços ao produtor estiveram maiores em 2024.

DERIVADOS DE TRIGO – Enquanto os preços do trigo subiram e/ou se estabilizaram em 2024, os dos derivados caíram, o que certamente apertou as margens dos moinhos. De 2023 para 2024, o valor médio do farelo de trigo a granel cedeu 8,6% e o do ensacado, 10,1%. Para as farinhas, as reduções foram de 4,9% para massas frescas, de 8% para massas em geral, de 8,3% para pré-mistura, de 11,2% para bolacha salgada, de 10,5% para bolacha doce, de 5,6% para farinha integral e de 7,8% para panificação.

PREÇOS EXTERNOS – No mercado internacional, os preços cederam ao longo de 2024, devido ao aumento da oferta global em 2024/25. Entre 29 de dezembro de 2023 e 31 de dezembro de 2024, o primeiro vencimento do trigo Soft Red Winter negociado na CME Group (Bolsa de Chicago) se desvalorizou 12,2%. A média de 2024, de US$ 5,7242/bushel, ficou 11,1% inferior à de 2023. Na Bolsa de Kansas, os futuros do trigo Hard Winter caíram 12,9% de 29 de dezembro de 2023 a 31 de dezembro de 2024.

A média anual caiu 23,7%, a US$ 5,9157/bushel em 2024. Na Argentina, diante da estimativa de uma safra volumosa e do maior excedente para exportação, os preços também cederam em 2024. O valor FOB do Ministério da Agroindústria recuou 5,7% entre 29 de dezembro de 2023 e 23 de dezembro de 2024. A média anual, de US$ 251,31/bushel, ficou 23,5% inferior à de 2023.

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Fonte: Cepea



 

FONTE

Autor:Cepea

Site: Agromensal Dezembro/2024

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