As cotações da soja, em Chicago, continuaram fimes, porém, não conseguiram romper o teto dos US$ 16,00/bushel. O clima seco e as fortes perdas na América do Sul, associados, pontualmente a um incêndio ocorrido no dia 15/02 em uma planta esmagadora de soja da empresa Louis Dreyfus, nos EUA, mantiveram as cotações nos atuais níveis. A esmagadora de soja atingida pelo incêndio é a maior dos EUA e os efeitos de sua paralisação atingem os mercados do farelo e do óleo de soja.
A alta nos derivados do grão ajuda a puxar para cima as cotações do mesmo, porém, esse movimento não deverá ser longo em função deste problema. O fechamento desta quinta-feira (17/02) ficou em US$ 15,92/bushel, contra US$ 15,74 uma semana antes, lembrando que a média de dezembro passado foi de US$ 12,89 e a de janeiro/22 de US$ 14,00, considerando o primeiro mês cotado. Isso dá a dimensão exata do forte aumento das cotações em Chicago a partir de meados de dezembro.
Em paralelo, os embarques de soja, pelos EUA, na semana encerrada em 10/02 atingiram a 1,15 milhão de toneladas, ficando dentro do esperado pelo mercado. Em todo o atual ano comercial 2021/22 os EUA embarcaram 38,8 milhões de toneladas, ainda 23% abaixo do volume embarcado no mesmo período do ano anterior. Em relação ao esmagamento de soja nos EUA, o mesmo ficou abaixo do esperado em janeiro passado segundo a Associação Nacional de Processadores de Oleaginosas. O mesmo atingiu a 4,96 milhões de toneladas, ficando 2,3% aquém do recorde mensal obtido em dezembro/21 e 1,3% abaixo do recorde de janeiro, alcançado em 2021. O mercado esperava um volume processado de 5,08 milhões de toneladas em janeiro.
Mesmo assim, em 31 de janeiro as esmagadoras estadunidenses possuíam o segundo maior estoque de óleo de soja em final de mês, desde abril de 2020. Tais estoques aumentaram 12,6% sobre o final de janeiro de 2021. Já na Argentina, os produtores locais tendem a realizar algumas vendas de soja para indústrias do Paraguai, pois a safra de soja deste último país apresenta quebra de 50% neste ano, fato que, sem as importações da oleaginosa, permitirá que as indústrias moageiras locais operem apenas até o meio do corrente ano. Mas o fluxo de vendas da Argentina não deverá ser importante porque igualmente neste país existe importante quebra de safra.
Dito isso, o Paraguai deverá colher apenas 5 milhões de toneladas de soja neste ano, sendo este o menor volume dos últimos 10 anos. Lembrando que o vizinho país é o quarto exportador mundial de soja.
Aqui no Brasil, os preços se mantiveram firmes, puxados por Chicago e pela manutenção de prêmios portuários próximos de um dólar por bushel para o período entre março e maio. No entanto, o forte recuo do dólar (o Real atingiu a R$ 5,12 no dia 16/02), impede preços mais elevados neste momento.
Assim, a média gaúcha no balcão chegou a R$ 194,60/saco durante a semana, enquanto nas demais praças nacionais os valores oscilaram entre R$ 166,00 e R$188,00/saco. Neste contexto, a comercialização da safra passada chegou a 97,2% do total até o dia 04 de fevereiro, ficando um pouco abaixo da média histórica para a data. Os produtores que ainda possuem soja tendem a esperar novas altas de preço diante das graves perdas motivadas pela seca.
Lembrando que na safra passada o Brasil teria colhido 137,6 milhões de toneladas de soja. Já para a nova safra 2021/22, cerca de 39% da produção esperada já teria sido vendida. No entanto, o ritmo de vendas futuras recuou bastante diante das incertezas quando ao real volume a ser colhido neste ano, especialmente no Centro-Sul brasileiro. Para se ter uma ideia, a média histórica de vendas futuras para esta época do ano é de 43%, enquanto no ano passado 60,4% da safra já havia sido negociada neste momento do ano. Lembrando que a estimativa de produção final vem sofrendo redução a cada semana. (cf. Datagro)
Em termos de colheita da atual safra, o Brasil atingia a 25,6% da área semeada até o dia 11/02. No ano passado, na mesma época, ela estava em apenas 7,1%, sendo que a média histórica é de 16,2%. O aumento no ritmo de colheita está sendo puxado pelo Mato Grosso, Estado que já teria 60% de sua área colhida, contra sua média histórica de 41,6%, enquanto no ano passado a mesma atingia a 22,3%. (cf; Safras & Mercado)
Já no Paraná a colheita da nova safra atingia a 21% da área, contra 3% no ano passado. A seca e o forte calor estão adiantando o ciclo de maturação das plantas, levando a uma colheita mais cedo. Lembrando que, por enquanto, o Paraná estima uma quebra de safra de soja em 40%. Em meados de fevereiro, o Paraná possuía 32% de sua lavoras de soja em condições ruins, contra apenas 5% na safra anterior nesta mesma época. (cf. Deral)
Em paralelo, vai se confirmando que o Brasil terá, em 2021/22, a maior quebra na história da safra de soja, em termos absolutos. As últimas estimativas dão conta de um volume final de apenas 122 milhões de toneladas, contra 142 a 144 milhões projetados inicialmente. Lembrando que houve aumento de 7% na área semeada nesta safra, e que o plantio foi realizado na época ideal na maioria das regiões. O Rio Grande do Sul é o Estado com maiores perdas, por enquanto atingindo a 52,3% do total esperado, embora haja muitas regiões que alcançam perdas perto de 80%. Em sendo assim, por enquanto a safra de soja gaúcha está estimada em apenas 10,3 milhões de toneladas, enquanto no Paraná se espera 12,1 milhões. Mas estes números podem ainda diminuir. (cf. Pátria Agronegócios)
Já no conjunto da América do Sul, somando as perdas brasileiras, igualmente estamos diante da maior quebra de safra da história, em termos absolutos. Neste momento, os três principais países produtores (Brasil, Argentina e Paraguai) deixariam de produzir 40,9 milhões de toneladas (há uma semana falávamos de 37 milhões) em relação ao inicialmente previsto. (cf. Pátria Agronegócios)
Por sua vez, o Rally da Safra 2022 que vem se realizando no Brasil estima uma produção nacional de 125,8 milhões de toneladas, pelo menos por enquanto. O que está ajudando a não reduzir mais o volume projetado é o bom desempenho da safra no Cerrado brasileiro. Porém, os dados são ainda da situação encontrada em janeiro. (cf. Agroconsult) Assim, consideramos que tais números estejam superestimados, visto que a seca continua a prejudicar as lavouras do Centro-Sul brasileiro, fato que leva a perdas maiores do que o Rally conseguiu captar até agora.
Mesmo assim, a produtividade média esperada no Rio Grande do Sul, na época, já era de apenas 27 sacos/hectare no final da colheita. No Paraná a mesma ficaria em 41 sacos/hectare. Pelo lado positivo está o Centro-Oeste, onde a produtividade média do Mato Grosso está estimada, agora, em 61,5 sacos/hectare; e em Goiás, com 64,5 sacos. Mas é muito cedo para se ter um quadro claro sobre o que realmente teremos no final da colheita no país. (cf. Agroconsult)
Pelo lado das exportações de soja, a média diária de fevereiro apresenta alta de 27,5% sobre o mesmo mês de 2021, apesar da quebra de safra já confirmada. Assim, em fevereiro espera-se vendas externas de um total de 7,1 milhões de toneladas. Se isso se confirmar, as vendas de soja ganhariam 1,59 milhão de toneladas sobre o mesmo período do ano passado, se constituindo em novo recorde para o mês. (Cf. Secex e Anec)
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Fonte: Informativo CEEMA UNIJUI, do prof. Dr. Argemiro Luís Brum (1)
1 – Professor Titular do PPGDR da UNIJUI, doutor em Economia Internacional pela EHESS de Paris-França, coordenador, pesquisador e analista de mercado da CEEMA (FIDENE/UNIJUI).