Comentários referentes ao período entre 28/04/2023 a 04/05/2023
Autor: Prof. Dr. Argemiro Luís Brum, disponível no site da CEEMA – UNIJUI
As cotações do trigo, em Chicago, após baterem em US$ 5,95/bushel no dia 02/05, se recuperaram, fechando a quinta-feira (04) em US$ 6,31, contra US$ 6,14 uma semana antes. A média de abril ficou em US$ 6,66/bushel, representando um recuo de 3% sobre a média de março. Para comparação, a média de abril do ano passado havia sido de US$ 10,66/bushel. Ou seja, em 12 meses a cotação do trigo, em Chicago, perdeu exatos quatro dólares por bushel, na média mensal. Lembrando que a cotação do dia 02/05 foi a mais baixa desde meados de dezembro de 2020.
Dito isso, nos EUA o trigo de primavera registrava um plantio de 12% da área esperada, no dia 30/04, contra 22% na média histórica. Já o trigo de inverno manteve 28% das lavouras em condições entre boas a excelentes, 30% regulares e 42% entre ruins a muito ruins. Por outro lado, os EUA embarcaram 358.273 toneladas de trigo na semana encerrada em 27/04, ficando dentro das expectativas do mercado. No acumulado do ano comercial, o total chegou a 18,2 milhões de toneladas, ficando 3% abaixo do registrado em igual período do ano anterior.
Ainda a nível internacional, tem-se que as exportações da Ucrânia podem recuar para 26 milhões de toneladas de grãos em geral. Isso ficará mais claro com o relatório de oferta e demanda do USDA, previsto para o dia 12/05. O país, às voltas com a guerra provocada pela Rússia, espera colher 17 milhões de toneladas de trigo em 2023/24, sendo que 9 milhões de toneladas deste volume poderão ser exportadas.
Lembrando que, após um bloqueio de quase seis meses, causado pela invasão da Rússia, três portos ucranianos do Mar Negro foram liberados no final de julho de 2022, graças a um acordo entre os dois países, intermediado pela ONU e a Turquia. Assim, as exportações de grãos da Ucrânia dependem da continuidade da operação deste corredor, que pode terminar em 18 de maio, uma vez que as partes ainda não concordaram com sua operação por um período mais longo. A Ucrânia realiza quase 60% de seus embarques atuais de grãos através dos portos marítimos do Mar Negro, com os volumes restantes passando por pequenos portos fluviais no rio Danúbio e por ferrovia através de sua fronteira ocidental.
E no Brasil, os preços do trigo parecem encontrar uma estabilização, embora o viés de baixa continue presente. A média gaúcha fechou a semana em R$ 68,94/saco, enquanto as principais praças do Estado negociavam o produto a R$ 68,00. No Paraná o saco de trigo ficou em R$ 70,00 na região de Londrina. Dados do Cepea apontam que as médias mensais do Rio Grande do Sul, de Santa Catarina e do Paraná foram as menores desde 2020, em termos reais. Em São Paulo, a média, de R$ 1.709,66/tonelada, foi a mais baixa desde julho de 2021.
Dito isso, mesmo diante da forte baixa no preço do cereal, grande parte dos produtores rurais vão plantar trigo neste ano, especialmente no Paraná. Neste Estado, o aumento de área deve ser de 13% em relação a safra passada. Já no Rio Grande do Sul, no mínimo a área deverá ser a mesma registrada em 2022. Muitos produtores gaúchos deverão semear trigo muito mais para poderem acessar o financiamento, gerando um fôlego financeiro diante da nova quebra na safra de verão, do que propriamente esperando lucrar no mercado do cereal a partir da colheita.
Hoje, o valor do trigo está muito próximo ao custo de produção, em particular no Paraná. Assim, se o preço não melhorar nas próximas semanas, o que parece difícil, não se descarta uma reversão nessa tendência de aumento de área semeada.
Já em relação ao mercado externo, a programação de navios dá conta de que, em abril, o Brasil importou 305.470 toneladas de trigo, contra 467.909 toneladas no mesmo mês do ano passado e 387.932 toneladas importadas em março do corrente ano. No acumulado do atual ano comercial (agosto/22 a maio/23) estima-se uma importação de 3,48 milhões de toneladas do cereal, segundo a iniciativa privada (cf. Safras & Mercado), enquanto o órgão público Secex avança o volume de 3,91 milhões para o período.
Enfim, no dia 02/05 o governo federal publicou a atualização dos preços mínimos, calculados pela Conab. Os novos valores têm vigência até 2024 e servirão como referência nas operações ligadas à Política de Garantia de Preços Mínimos (PGPM), que visa garantir uma remuneração mínima aos produtores rurais, e também às ações ligadas a outras políticas agrícolas, incluindo uma referência para o crédito rural.
Sem entrar nos detalhes dos cálculos, o fato é que o trigo da Classe Pão Tipo 1 PH 78 ficou com o preço mínimo de R$ 87,77/saco de 60 quilos para a Região Sul; R$ 90,45/saco para a Região Sudeste; e R$ 94,96/saco para a Região Centro-Oeste e Bahia. Para informação complementar, os preços mínimos são fixados pelo Conselho Monetário Nacional (CMN), de acordo com a proposta enviada pela Conab para o Ministério do Desenvolvimento Agrário e Agricultura Familiar (MDA).
A Companhia é responsável por elaborar as propostas referentes aos produtos da pauta da PGPM e da Política de Garantia de Preços Mínimos para os Produtos da Sociobiodiversidade (PGPM-Bio). Conforme artigo 5° do Decreto-lei n.° 79/1966, as propostas de preços mínimos devem considerar os diversos fatores que influem nas cotações dos mercados interno e externo, e os custos de produção.
Autor: Prof. Dr. Argemiro Luís Brum -Professor Titular do PPGDR da UNIJUI, doutor em Economia Internacional pela EHESS de Paris-França, coordenador, pesquisador e analista de mercado da CEEMA (FIDENE/UNIJUI).
Fonte: CEEMA UNIJUI