O manejo e controle de pragas na cultura da soja é essencial para reduzir perdas quantitativas e qualitativas, garantindo a boa produção e rentabilidade da lavoura. Diversas pragas podem acometer a cultura da soja durante seu ciclo de desenvolvimento, variando desde o período vegetativo ao reprodutivo da cultura. Dentre essas pragas, os percevejos se destacam por causarem danos tanto quantitativos quanto qualitativos.

A praga ataca a soja durante o período reprodutivo do seu desenvolvimento, causando maiores danos durante o período de formação e enchimento dos grãos. Dentre as principais espécies, podemos destacar o percevejo-marrom (Euschistus heros), o percevejo-verde-pequeno (Piezodorus guildinii) e o percevejo-verde (Nezara viridula).

Embora o controle químico dessas pragas prevaleça na maioria dos sistemas de produção, em algumas situações quando bem estabelecido, o controle biológico dos percevejos pode contribuir significativamente para a redução populacional dessa praga, refletindo em menor necessidade do uso de inseticidas. O principal agente biológico empregado com esse intuito na cultura da soja é o parasitoide de ovos Telenomus podisi, o qual apresenta preferencia por parasitar ovos do percevejo-marrom (Euschistus heros) (Pacheco & Corrêa-Ferreira, 2000).

Figura 1. Telenomus podisi parasitando ovos do percevejo-marrom (Euschistus heros).

Fonte: Bueno et al. (2022)

Embora apresente preferência por parasitar ovos do percevejo-marrom, o Telenomus podisi pode parasitar ovos de outras espécies de percevejo. Ainda que esse agente de biocontrole possa ser naturalmente encontrado do ambiente, normalmente a população existente dele não é suficiente para realizar um controle efetivo das populações de percevejo, sendo necessário para tanto, realizar a liberação desse parasitoide na lavoura. Contudo, cabe destacar que se tratando do controle biológico de pragas, alguns cuidados necessitam ser tomados a fim de garantir a maior eficiência possível.

Não necessariamente o aumento da dose (população) de parasitoides apresente respostas lineares de controle. Entretanto, a liberação do inimigo natural em quantidades menores do que a necessária tornaria a tática ineficaz no controle de uma determinada praga.  Por outro lado, as liberações de quantidades excessivas, além de um alto custo, pode ter a eficácia de controle comprometida. Essa diminuição da eficácia para os parasitoides, a partir de certa quantidade liberada, pode estar ligada a confusão no reconhecimento dos hospedeiros marcados como parasitados e a competição por alimento entre as fêmeas (Pinto et al., 2022).



Conforme analisado por Tibaldi (2017), a redução da eficácia ocorre para Telenomus podisi no controle de Euschistus heros, a partir de 7.500. Analisando a quantidade liberada de Telenomus podisi em diferentes níveis de infestação artificial de ovos de Euschistus heros em soja, no Brasil, constatou que para infestações até 100.000 ovos do percevejo a quantidade de 2.500 parasitoides foi a mais eficaz, mas para infestações entre 200.000 e 400.000 ovos, a quantidade ideal foi de 5.000 parasitoides por hectare.

Tabela 1. Porcentagem média de parasitismo de ovos de Euschistus heros, em diferentes níveis de infestação artificial, após a liberação de diferentes quantidades de adultos de Telenomus podisi em campo de soja.

Fonte: Tibaldi (2017), apud. Pinto et al. (2022)

Logo, pode-se dizer que não necessariamente o aumento da população do parasitoide corresponda ao aumento do controle biológico dos percevejos. Além disso, cabe destacar que a distribuição dos parasitoides no campo é tão importante quando o nível populacional utilizado, podendo exercer influência direta sobre a eficiência de controle da praga.

Segundo Pinto et al. (2022), a quantidade de pontos de distribuição do agente biológico irá depender da capacidade de dispersão da espécie. Normalmente, a distribuição terrestre de adultos do agente biológico é o método mais empregado, entretanto, com o auxílio de ferramentas como drones, pode-se realizar a liberação aérea de pupas, melhorando a distribuição do parasitoide e consequentemente sua eficiência de controle dos percevejos.


Veja mais: Qual espécie de percevejo o Telenomus podisi prefere parasitar?


Referências:

BUENO, A. F. et al. MANEJO DE PRAGAS COM PARASITOIDES. BIOINSUMOS NA CULTURA DA SOJA. Embrapa, cap. 24, 2022. Disponível em: < https://www.embrapa.br/en/busca-de-publicacoes/-/publicacao/1143066/bioinsumos-na-cultura-da-soja >, acesso em: 08/08/2022.

PACHEGO, D. J. P.; CORRÊA-FERREIRA, B. S. PARASITISMO DE Telenomus podisi Ashmead (Hymenoptera: Scelionidae) EM POPULAÇÕES DE PERCEVEJOS PRAGAS DA SOJA. An. Soc. Entomol. Brasil, 2000. Disponível em: < https://www.scielo.br/j/aseb/a/xfHfFNxPq7mdxqXJxfMM8dd/?format=pdf&lang=pt >, acesso em: 08/08/2022.

PINTO, A. S. et al. TECNOLOGIA PARA LIBERAÇÃO DE AGENTES MACROBIOLÓGICOS. BIOINSUMOS NA CULTURA DA SOJA. Embrapa Soja, cap. 7, 2022. Disponível em: < https://www.embrapa.br/en/busca-de-publicacoes/-/publicacao/1143066/bioinsumos-na-cultura-da-soja >, acesso em: 08/08/2022.

TIBALDI, G. R. CONTROLE DE OVOS EM DIFERENTES INFESTAÇÕES DE EUSCHISTUS HEROS COM LIBERAÇÕES DE DIFERENTES QUANTIDADES DE Telenomus podisi NA SOJA. 2017. 29f. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação em Agronomia) – Centro Universitário Moura Lacerda, Ribeirão Preto, 2017.

Foto de capa: Juliano Pazini

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