O aumento da população global que pode chegar a 10 bilhões de pessoas em 2050, é um dos principais fatores que tem aumentado a demanda e a pressão sobre a produção de alimentos. O uso de biotecnologias é de extrema importância para possibilitar o aumento e a verticalização da produtividade de forma sustentável e a qualidade de produção, além de ser primordial para suprir a demanda mundial por alimentos.
A biotecnologia é definida pela ONU como qualquer aplicação tecnológica que no processo de fabricação ou modificação de produtos, utiliza sistemas biológicos, organismos vivos ou derivados. É uma ciência que estuda e aplica métodos de genética e biologia molecular para gerar novos produtos em diferentes áreas. No setor agrícola a biotecnologia está presente na produção de inseticidas biológicos, no desenvolvimento de novas moléculas capazes de melhorar as práticas do manejo agrícola, nas técnicas de melhoramento genético, nos marcadores moleculares e na produção de novas características vegetais por meio de técnicas de DNA recombinante.
A utilização dessas tecnologias contribuem significativamente para o aumento na eficiência a campo, especialmente para a soja, que é a cultura de maior produção no Brasil, contribuindo para uma produção sustentável através de cuidados com o meio ambiente e balança ecológica, para segurança alimentar permitindo a produção adequada tanto em qualidade quanto em quantidade e para produção de novos materiais como biocombustíveis.
Algumas das biotecnologias disponíveis na cultura soja são RR, Intacta RR2 Pro, Enlist E3, Conkesta E3, Xtend, Intacta 2 Xtend.
RR: A soja RR possui um evento transgênico que confere tolerância ao herbicida glifosato, tecnologia a qual foi desenvolvida pela Monsanto. O glifosato é um herbicida pós-emergente, não seletivo, de amplo espectro de controle de plantas daninhas, com ação sistêmica. Esse produto é absorvido pelas folhas e translocado pelo floema, impedindo a formação dos aminoácidos (fenilalanina, tirosina e triptofano). No caso da soja RR, o gene que confere a tolerância ao herbicida glifosato é conhecido por cp4-epsps; Esse gene foi isolado de uma bactéria chamada Agrobacterium spp. Assim, segmentos do DNA dessa bactéria são introduzidos nas plantas de soja, dando origem à soja RR.
Intacta RR 2 Pro: Primeira biotecnologia desenvolvida exclusivamente para o mercado brasileiro, contendo tolerância ao glifosato, (a planta tem uma cópia exógena do gene que codifica para a EPSP sintase, o qual produz constantemente e em altos níveis a enzima que o glifosato inibe e, por isso, ficam tolerantes a ele). Aumento de produtividade e proteção contra as principais lagartas da cultura da soja. A resistência é conferida por uma proteína Bt (Cry1Ac), que possui alta eficácia contra a lagarta-da-soja (Anticarsia gemmatalis), lagarta-falsamedideira (Chrysodeixis includens), broca-das-axilas (Crocidosema aporema) e a lagarta-dasmaçãs (Chloridea virescens).
Enlist: Soja tolerante aos 3 herbicidas Enlist® Colex-D® (novo 2,4-D sal colina), glifosato e glufosinato de amônio. Baseada em 3 pilares: biotecnologia, herbicidas e genética, que são sustentados pelas boas práticas agrícolas, e vão oferecer mais diversidade, conveniência, flexibilidade e mais controle na aplicação.
Conkesta: Além de tolerância a três herbicidas, oferece proteção contra as principais lagartas da cultura da soja. O produto representa uma inovação para os agricultores brasileiros por incorporar duas proteínas Bt (Cry1F e Cry1Ac) que oferecem ampla proteção contra importantes lagartas da cultura da soja (Proteção: Lagarta-da-soja (Anticarsia gemmatalis), Lagarta-falsa-medideira (Chrysodeixis includens), Lagarta-elasmo (Elasmopalpus lignosellus), Lagarta-das-maçãs (Chloridea virescens) e Lagarta-helicoverpa (Helicoverpa armigera). Proteção moderada: Lagarta-preta (Spodoptera cosmioides) e Lagarta-das-folhas (Spodoptera eridania), além de tolerância a três herbicidas (Glifosato, Glufosinato de amônia e 2,4-D Sal Colina), permitindo flexibilidade no manejo de gramíneas e plantas daninhas de folhas largas. Outro ponto importante é a possibilidade de utilizar estes herbicidas também em pós-emergência das sementes de soja Enlist®. O novo 2,4-D sal colina, presente na formulação dos herbicidas do Sistema Enlist®, apresenta ultrabaixa volatilidade graças à sua baixa pressão de vapor.
Xtend: Essa biotecnologia permite complementar a ação do Roundup® com a tolerância da soja a um novo herbicida, responsável pelo controle de plantas daninhas de folhas largas em pré-plantio, o XTENDICAM®. Atualmente, entre 40 e 50% da área de soja é afetada por algum problema de resistência de plantas daninhas a herbicidas no Brasil. E a associação do XTENDICAM® ao Roundup® Transorb R no pré plantio é uma ferramenta poderosíssima no controle de algumas dessas espécies, deixando o campo muito mais limpo e reduzindo a mato competição inicial. Possui um controle eficiente de plantas daninhas de folhas largas anuais e perenes, com ação em mais de 270 espécies, com destaque para buva, caruru, cordade-viola e picão-preto.
Intacta 2 Xtend: Maior controle de plantas daninhas em pré-plantio utilizando o herbicida Xtendicam (princípio ativo: dicamba). Além de proteção contra lagartas por meio de 3 diferentes proteínas que atuam simultaneamente na proteção contra as principais lagartas da cultura da soja. Para viabilizar essa estratégia, foram adicionadas duas novas proteínas (Cry1A.105 e Cry2Ab2) à INTACTA 2 XTEND®, que, somadas à proteína Cry1Ac, resultam em um amplo espectro de proteção contra as principais lagartas da cultura da soja: lagarta-falsamedideira (Chrysodeixis includens), lagarta-da-soja (Anticarsia gemmatalis), broca-das-axilas (Crocidosema aporema), lagarta-das-maçãs (Chloridea virescens), além da proteção adicional contra as lagartas: Helicoverpa armigera e Spodoptera cosmioides.
Por fim, é visto que as biotecnologias disponíveis no mercado para as sementes de soja auxiliam o produtor no manejo da cultura, solucionando problemas com plantas daninhas de difícil controle, proteção contra as principais lagartas possibilitando produzir mais de forma eficiente e também estar cuidando do meio ambiente. Vale ressaltar que para garantir a segurança das tecnologias o produtor deve sempre implementar áreas de refúgio para que não se perca eficiência no controle bem como a tecnologia.
Autores: Denise Maria Vicente e Katiane Abling Sartori, sob supervisão do professor Dr. Claudir José Basso, do grupo PET Ciências Agrárias da UFSM-FW.