Com o crescente aumento dos custos de produção de commodities como a soja, especialmente se tratando da aquisição de insumos e fertilizantes, investir tempo e conhecimento em um manejo sustentável da fertilidade do solo é essencial para reduzir os custos de produção e maximizar a produtividade das culturas. O significativo aumento do custo dos fertilizantes tem fomentado a necessidade de analisar os níveis de fertilidade do solo, visando evitar o desperdício de fertilizantes.
Visando aprimorar o manejo da fertilidade do solo e reduzir o desperdício de fertilizantes, é necessário compreender que o solo é considerado um sistema trifásico, coloidal e aberto, que apresenta elevada complexidade e características físico-químicas que podem influenciar direta e indiretamente sua fertilidade.
Os solos funcionam como “contas bancárias”, que guardam a capacidade de suprimento de nutrientes e água às plantas. Para um mesmo saldo na “conta corrente”, que atende às necessidades imediatas (consumo das plantas), solos diferentes apresentam reserva menor (solo da esquerda) ou maior (solo da direita), variando o tamanho da “poupança” existente por trás do saldo disponível (Resende et al., 2017).
Figura 1. Representação esquemática da capacidade de diferentes solos em armazenar água e nutrientes e disponibiliza-los para as plantas.
A capacidade dos solos em armazenar água e nutrientes, entre outros fatores, está diretamente relacionado a características como a capacidade de troca de cátions (CTC) e a quantidade de microporos, estando essas, relacionadas a características mineralógicas e físico-químicas do solo. Embora características mineralógicas dificilmente possam ser alteradas em solos agrícolas, atributos com o teor de matéria orgânica do solo (MOS), podem ser trabalhados visando a melhora da fertilidade do solo. Além disso, conhecer as exigências nutricionais (exportação de nutrientes), assim como realizar a análise química da fertilidade do solo são essenciais para determinar a quantidade necessária de fertilizantes a ser aportada ao sistema de produção.
O grande problema, com relação ao alto investimento em fertilizantes para lavouras anuais está relacionado a baixa fertilidade dos solos agrícolas. Normalmente, as recomendações técnicas sugerem elevar os teores de nutrientes no solo a níveis recomendados para a cultura (adubação de correção), prática que pode representar alto custo, mas extremamente necessária para a obtenção de boas produtividades.
Embora a adubação de correção possa representar um expressivo custo de produção, ela é determinante para a construção da fertilidade do solo e sustentabilidade do cultivo. Uma vez que realizada essa adubação, nas safras seguintes, se bem manejada, a adubação consistirá basicamente no aporte dos nutrientes extraídos pela cultura (adubação de reposição) e na adubação de manutenção (figura 2). Cabe destacar que as recomendações técnicas para a adubação de reposição baseiam-se em produtividades médias pré-determinadas para cada cultura, sendo necessário reavaliar a necessidade de adubação sempre se a expectativa de produtividade for superior ao pré-estabelecido pelas recomendações técnicas para a cultura.
Figura 2. Disponibilidade de nutrientes no solo como critério definidor de estratégias de adubação visando a construção (C), manutenção (M) ou reposição (R) da fertilidade.
Entretanto, para a obtenção de altas produtividades, assim como para a construção de um perfil de solo com boa fertilidade e produtivo, não basta apenas adequar os níveis de fertilidade realizando as adubações de correção e posteriormente manutenção e reposição, sendo necessário atentar para uma premissa básica do manejo da fertilidade do solo, o pH do solo.
Conforme destacado por Gitti; Roscoe; Rizzato (2018), embora os níveis de fertilidade do solo sejam considerados altos ou muito altos, se o pH do solo estiver inadequado, a disponibilidade desses nutrientes para as plantas é comprometida. Sendo assim, adequar o pH do solo é uma das principais a mais importantes práticas de manejo da fertilidade do solo.
Figura 3. Relação entre pH e disponibilidade de nutrientes no solo.
Em termos gerais, pode-se dizer que a faixa ideal de pH do solo para a cultura da soja varia entre 6 a 6,5. Embora adicionada uma quantidade significativa de fertilizantes no solo visando altas produtividades, solos com pH inferior a 6 tendem a restringir a disponibilidade de nutrientes paras plantas, resultando em um “desperdício” de fertilizante, já que esse não estarão prontamente disponíveis para a cultura. Dessa forma, administrar o pH do solo é determinante para o aumento produtivo, otimizando o uso dos fertilizantes.
Veja mais: Qual o intervalo entra calagem e semeadura?
Referências:
GITTI, D. C.; ROSCOE, R.; RIZZATO, L. A. MANEJO E FERTILIDADE DO SOLO PARA A CULTURA DA SOJA. Fundação MS, Tecnologia e Produção: Soja 2017/2018, 2018. Disponível em: < https://www.fundacaoms.org.br/base/www/fundacaoms.org.br/media/attachments/299/299/5bf01cb30ac6d775cb98755cfc5ae770491d2c5959247_01-manejo-e-fertilidade-do-solo-para-a-cultura-da-soja-somente-leitura.pdf >, acesso em: 07/04/2022.
RESENDE, A. V. et al. CONSTRUÇÃO DA FERTILIDADE DO SOLO E MANUTENÇÃO DE AMBIENTES DE ELEVADO POTENCIAL PRODUTIVO. XIV Seminário Nacional Milho Safrinha, 2017. Disponível em: < https://www.infoteca.cnptia.embrapa.br/infoteca/bitstream/doc/1081654/1/Construcaofertilidade.pdf >, acesso em: 07/04/2022.
RESENDE, A. V. et al. SOLOS DE FERTILIDADE CONSTRUÍDA: CARACTERÍSTICAS, FUNCIONAMENTO E MANEJO. IPNI, Informações Agronômicas, n. 156, 2016. Disponível em: < http://www.ipni.net/publication/IA-BRASIL.NSF/0/9EE3F6AC001378C1832580AD00402340/$FILE/Jornal-156.pdf >, acesso em: 07/04/2022.
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