As cotações do trigo, em Chicago, subiram um pouco na semana, na expectativa do relatório de oferta e demanda do USDA, divulgado neste dia 11/08. Com isso, o bushel do cereal fechou o dia 10 (quinta-feira) em US$ 6,37, contra US$ 6,27 uma semana antes.
Auxiliou para este movimento o recuo na qualidade das lavouras estadunidenses do trigo de primavera. As mesmas, no dia 06/08, apresentavam-se com apenas 41% entre boas a excelentes, contra 64% no ano passado na mesma data. Cerca de 11% das mesmas havia sido colhido, contra 14% na média histórica. Já o trigo de inverno estava com 87% de sua área colhida, contra 88% na média histórica.
Quanto ao comércio externo de trigo, por parte dos EUA, 275.067 toneladas foram embarcadas na semana encerrada em 03/08, fato que leva o total, no atual ano comercial iniciado em 1º de junho, a 3,02 milhões de toneladas, contra 3,51 milhões em igual período do ano anterior.
Desde o dia 17/07, quando ocorreu o fim do acordo entre Rússia e Ucrânia a respeito do Corredor de Exportação do Mar Negro, a volatilidade do mercado internacional do trigo aumentou significativamente. Hoje, a tendência é de baixa porque o mercado entende que as rotas alternativas de exportação, criadas pela Ucrânia, serão suficientes para abastecer os destinos com a quantidade atualmente estimada de exportação do trigo deste país. (cf. hEDGEpoint Global Markets) Mesmo assim, é preciso muita cautela em relação a esta situação, pois em tempos de guerra tudo pode ocorrer e mudar rapidamente.
Por outro lado, a Índia informou a possibilidade crescente de importar trigo em 2023/24, o que pode reaquecer o mercado. O país indiano estaria considerando importar 9 milhões de toneladas de trigo russo, visando aumentar estoques internos do cereal. Isso porque há uma disparidade entre o governo e os moageiros locais sobre o volume da nova safra de trigo da Índia. O primeiro fala em 112,7 milhões de toneladas, enquanto os moageiros avançam 101 a 103 milhões. Por sua vez, haveria um recuo nos estoques finais de trigo na Índia, com os mesmos saindo de 14 milhões para 8,5 milhões de toneladas em projeção. O fato é que, no mercado interno, o governo da Índia anuncia o fornecimento de 5 milhões de toneladas de trigo e 2,5 milhões de toneladas de arroz para grandes consumidores, como moinhos de farinha, buscando aumentar a oferta e estabilizar os preços internos. Pelo sim ou pelo não, em 1º de agosto os estoques de trigo na Índia ainda estavam em 28,3 milhões de toneladas, porém, há expectativa de alta dos preços internos. Tando é verdade que, no início deste mês, os preços do cereal chegaram ao máximo dos últimos seis meses naquele país. (cf. Reuters)
E no Brasil os preços ficaram estáveis, com a média gaúcha fechando em R$ 66,39/saco, sendo que o norte do Estado negociava a R$ 65,00. Já no Paraná o produto ficou estável em R$ 66,00 nas principais praças locais.
Diante da iminência de uma nova safra cheia, e de estoques importantes ainda oriundos da última safra, os compradores brasileiros de trigo se fazem escassos e adquirindo o produto “da mão para a boca”, em poucos volumes. Lembrando que a colheita da nova safra começa no próximo mês, via o Paraná (neste momento menos de 1% da área local já teria iniciado a colheita). Com isso, é possível que os preços do cereal, no mercado brasileiro, recuem mais nos últimos três meses do ano e iniciem 2024 e um patamar bem mais baixo do que o início de 2023.
Tanto é verdade que estudos divulgados dão conta de que a margem dos produtores brasileiros de trigo poderá recuar mais de 50% na safra 2023/24. (cf. Consultoria Agro do Itaú BBA)
Quer saber mais sobre a Ceema/Unijui. Clique na imagem e confira.
Fonte: Informativo CEEMA UNIJUI, do prof. Dr. Argemiro Luís Brum¹
1 – Professor Titular do PPGDR da UNIJUI, doutor em Economia Internacional pela EHESS de Paris-França, coordenador, pesquisador e analista de mercado da CEEMA (FIDENE/UNIJUI).