Segundo maior bioma do Brasil, o Cerrado é encontrado nos estados de Goiás, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, São Paulo, Distrito Federal, e no Matopiba, fronteira agrícola que inclui o Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia, cobrindo uma área de  204 milhões de hectares. É quase um quarto de toda a extensão territorial do país, abrigando 11.627 espécies de plantas nativas e já catalogadas.

Liderado pelo pesquisador Henrique Antunes, que é doutor em fertilidade do solo e nutrição de plantas, um estudo da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) Meio-Norte quer contribuir para mudar o perfil dos sistemas de produção de grãos adotados hoje no Cerrado, começando pelo Piauí. 

O projeto, aprovado este mês pela Fundação de Apoio à Pesquisa do Estado do Piauí (FAPEPI), com orçamento de R$ 100 mil e duração de três anos, vai contribuir, principalmente, com indicações de potenciais plantas de cobertura na entressafra, além de avaliar os efeitos da adoção de sistemas integrados de produção, as características físicas, químicas e biológicas do solo, e investigar a emissão de gases de efeito estufa, o estado nutricional e a produtividade de grãos e forrageiras.

Pesquisadores em ação

Nos últimos dois anos, a produção de soja alcançou, em média, 2,5 milhões de toneladas no Piauí. Foto: Embrapa/ Luis Alves

Estudos indicam que os solos do cerrado têm baixa fertilidade, “com grande parte das áreas apresentando textura arenosa”. Segundo os mesmos estudos, a agricultura em solos arenosos traz alguns problemas como “menor capacidade de armazenamento de água e disponibilidade de nutrientes”, além da vulnerabilidade a processos erosivos.

É meta do projeto, segundo Antunes, obter a emissão de óxido nitroso de cinco componentes de sistema silviagrícola em uma safra e indicar pelo menos uma planta de cobertura do solo que “venha melhorar as características do solo”. O estudo foca também na indicação de um método de adubação de culturas, bem como na obtenção de um balanço de nutrientes de duas safras de culturas de grãos, “considerando o manejo de adubação sistêmica”.

As pesquisas serão conduzidas nos municípios de Bom Jesus, Uruçuí e Teresina. Oito pesquisadores  da Embrapa vão trabalhar no projeto. Apoiarão as atividades dois bolsistas, dois pesquisadores da Universidade Federal do Piauí (UFPI), um da Universidade Estadual do Piauí (UESPI) e um do Instituto Federal de Educação (IFPI).

No Piauí, uma pesquisa da Superintendência de Estudos Econômicos e Sociais  (Cepro) revela que a área de cerrado no Estado é de 11,5 milhões de hectares, em 28 municípios nas regiões Norte e Sul. Há pelo menos 20 anos, com a chegada de agricultores do Rio Grande do Sul e do Paraná, o cerrado piauiense vem se destacando como o grande produtor de grãos no Estado, com destaque para soja e milho, que têm produção e produtividades crescentes ano após ano. Nos últimos dois anos, a produção de soja alcançou, em média, 2,5 milhões de toneladas. A de milho foi em média de 1,80 milhão de toneladas.

Matopiba

Região apresenta topografia plana, solos profundos, alta luminosidade e uma estação chuvosa bem definida, características que favorecem a introdução da soja. Foto: Embrapa

Região, que até o final da década de 1980 se baseava fortemente na pecuária extensiva, é considerada a grande fronteira agrícola nacional da atualidade. O Matopiba responde por grande parte da produção brasileira de grãos e fibras e chama a atenção pela produtividade que cresce em ritmo vertiginoso. Nos últimos quatro anos, somente o Estado do Tocantins expandiu sua área plantada ao ritmo de 25% ao ano, segundo dados da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab).

O pesquisador Leonardo José Motta Campos, da Embrapa Soja, ressalta que esta nova fronteira agrícola vem atraindo sojicultores interessados em terras com valores mais acessíveis, quando comparados às do Centro-oeste, Sul e Sudeste do Brasil.

“Além disso, a região também apresenta topografia plana, solos profundos, alta luminosidade e uma estação chuvosa bem definida, características que favorecem a introdução da soja”, explica. As produtividades de soja destes estados ainda são instáveis, com índices de rendimento oscilando entre 2.000 e 4.500 kg/ha. No entanto, em média, a produtividade tem ficado abaixo da produtividade nacional.

A área é considerada complexa, tornando ainda mais audacioso o desafio de garantir uma agricultura moderna e sustentável. O Matopiba reúne 337 municípios e representa um total de cerca de 73 milhões de hectares. Existem na área cerca 324 mil estabelecimentos agrícolas, 46 unidades de conservação, 35 terras indígenas e 781 assentamentos de reforma agrária, segundo levantamento feito pelo Grupo de Inteligência Estratégica (GITE) da Embrapa.

Para o pesquisador, é preciso maior atenção em relação a práticas que mantenham a matéria orgânica do solo e a proteção da superfície. Neste sentido, o uso do sistema plantio direto ou o Sistema de Integração-Lavoura-Pecuária nas áreas de produção de grãos são opções mais adequadas. “Muito já foi conquistado, contudo, ainda temos desafios para garantir boas produtividades e estabilidade de produção nestas regiões”, avalia Campos.

Tecnologias empregadas

A cultura principal nas principais regiões produtoras do Matopiba concentra-se atualmente na soja. Mas outras culturas como arroz e algodão também tem papel importante. Grande parte deste impulso na produtividade de grãos se deve ao acesso às tecnologias hoje empregadas, como o uso de híbridos e cultivares adaptados às condições edafoclimáticas, além de boas práticas para o uso eficiente de fertilizantes, corretivos e defensivos e sistemas conservacionistas de manejo como o plantio direto e a integração lavoura-pecuária-floresta.

De acordo com pesquisadores da Embrapa que atuam na região, mesmo com este grande salto na produtividade das culturas da soja e do milho, a região ainda enfrenta grandes desafios no manejo e conservação do solo e na implantação de sistemas integrados de produção. Embora bastante difundidos em outros Estados do Bioma Cerrado, sistemas de intensificação ecológica ainda apresentam grandes dificuldades na implantação e na condução ao longo dos anos.

Fontes: Embrapa Meio-Norte, Embrapa Soja e Grupo de Inteligência Estratégica (GITE)

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