A soja (Glycine max) destaca-se como uma das principais culturas agrícolas no cenário nacional e mundial. No Brasil, é considerado o principal produto agrícola e tem potencial para crescer ainda mais em produção, em função do aumento da produtividade e expansão da área cultivada.
Para aumentar a produtividade da cultura da soja devem-se reduzir as perdas causadas pelos fatores limitantes, tais como o ataque de insetos-praga. O método mais utilizado para controlar as pragas que apresentam elevada ocorrência e alto potencial de danos à cultura é o controle químico. Entretanto, uma alternativa ao uso de inseticidas é a utilização de plantas transgênicas resistentes às pragas (Goffi et al., 2017).
No caso da soja, o uso da transgenia levou à introdução de um gene nas plantas que confere resistência ao ataque de lagartas desfolhadoras, introduzindo uma importante tecnologia no mercado. Essa tecnologia é denominada Intacta® e está presente na maioria das cultivares de soja utilizadas atualmente, as quais também são denominadas de soja Bt.
A abreviação Bt deriva do nome da bactéria entomopatogênica, Bacillus thuringiensis Berliner. Na cultura da soja, foram inseridas as proteínas Cry1Ac e Cry1F derivadas da bactéria B. thuringiensis, que conferem à soja resistência aos principais insetos-praga da ordem Lepidoptera (lagartas) associados à cultura. O local de atuação das proteínas inseticidas Bt nos insetos é o trato digestivo, e por isso essas proteínas precisam necessariamente ser ingeridas pelo inseto. Diferentemente dos inseticidas biológicos formulados à base de B. thuringiensis, as plantas Bt já expressam as proteínas inseticidas na forma ativa: por isso, não dependem do pH intestinal do inseto para desencadearem seu efeito de controle.
Figura 1. Lagarta falsa-medideira em soja Bt.
Fonte: Portal Boas Práticas Agronômicas
Após a ingestão de tecido foliar em plantas Bt pelas lagartas, as proteínas Cry na sua forma ativa ligam-se a receptores específicos localizados no epitélio do intestino médio das mesmas, ocasionando rompimento celular: ou seja, abrem-se pequenos poros na membrana intestinal. Estes poros ocasionam a perda da integridade da membrana do intestino, permitindo o extravasamento do conteúdo intestinal para dentro da cavidade do corpo do inseto. Por fim, esse processo favorece a multiplicação de bactérias no interior do corpo do inseto, levando-o à morte por infecção generalizada (septicemia) (Pogetto et al., 2017).
Figura 2. Como funcionam as plantas Bt.
Fonte: Pogetto et al., (2017).
O uso de soja Intacta (Bt) tem demonstrado vantagens sobre os inseticidas biológicos, pois a eficiência de produção das proteínas inseticidas pelas plantas Bt não é afetada por fatores ambientais como chuva após a pulverização, incidência de radiação solar e altas temperaturas. Além disso, as proteínas Cry tendem a se acumular de forma mais homogênea nos tecidos vegetais, aumentando a eficiência de controle das pragas-alvo quando comparado a produtos formulados aplicados via pulverização foliar.
A tecnologia Bt é eficaz no controle de determinados insetos-praga e contribui para a redução do número de aplicações de inseticidas, consequentemente preservando os inimigos naturais e elevando a produtividade de grãos (Bernardi et al., 2016). Contudo, a principal ameaça à sustentabilidade dessa tecnologia é a evolução da resistência em populações de pragas-alvo. Por isso, o uso de plantas Bt deve seguir as orientações das empresas detentoras das tecnologias, para evitar ou retardar o surgimento de resistência nos insetos. Uma das medidas recomendadas é a semeadura de áreas de refúgio com cultivares de soja não-Bt, visando manter a frequência de indivíduos suscetíveis na população da praga.
Revisão: Henrique Pozebon, Mestrando PPGAgro e Prof. Jonas Arnemann, PhD. e Coordenador do Grupo de Manejo e Genética de Pragas – UFS
REFERÊNCIAS:
BERNARDI, Oderlei et al. Selection and characterization of resistance to the Vip3Aa20 protein from Bacillus thuringiensis in Spodoptera frugiperda. Pest management science, v. 72, n. 9, p. 1794-1802, 2016.
CRIALESI-LEGORI, Paula Cristina Brunini et al. Interação de proteínas Cry1 e Vip3A de Bacillus thuringiensis para controle de lepidópteros-praga. Pesquisa Agropecuária Brasileira, v. 49, n. 2, p. 79-87, 2014.
GOFFI, Mateus et al. Produtividade e retorno econômico da cultura da soja com tecnologia intacta®. Agrarian Academy, Centro Científico Conhecer-Goiânia, v. 4, n. 7, p. 380-391, 2017.
MORALES, L. et al. Challenges of MIP on soyabeans in the southern region of Brazil and direct planting. In: Anais, IV Congresso Brasileiro de Soja, Londrina, PR, 5 a 8 de junho de 2006. Embrapa Soja, 2006. p. 134-139.
POGETTO, Mario D.; BERNARDI, Oderlei. O uso de proteínas inseticidas de Bacillus thuringiensis (Bt) no controle de insetos-praga. INOVAÇÕES EM MANEJO FITOSSANITÁRIO, p. 62.
SOSA-GÓMEZ, Daniel Ricardo; MIRANDA, José Ednilson. Fitness cost of resistance to Bacillus thuringiensis in velvetbean caterpillar Anticarsia gemmatalis Hübner (Lepidoptera, Noctuidae). Revista Brasileira de Entomologia, v. 56, n. 3, p. 359-362, 2012.