A mosca-branca, Bemisia tabaci MEAM1, é um inseto sugador e transmissor de vírus capaz de atacar diversas culturas, incluindo a soja. A espécie é considerada uma das pragas agrícolas de maior potencial destrutivo no mundo, atacando aproximadamente 700 espécies de plantas (POLSTON; de BARRO; BOYKIN, 2014). Introduzida no Brasil durante os anos 90, essa praga tem crescido em ocorrência nas lavouras de soja, especialmente na região Centro-Oeste.
Os danos ocasionados pela mosca-branca em soja podem ser diretos ou indiretos. A sucção de seiva pelas ninfas e adultos (Figura 1) compromete a fisiologia da planta atacada, além de propiciar a disseminação de viroses. Além disso, durante o processo de alimentação o inseto excreta uma substância açucarada sobre as folhas, favorecendo o desenvolvimento do fungo Capnodium sp. (fumagina). A proliferação de fumagina reduz a superfície fotossinteticamente ativa da planta e pode provocar a queima das folhas pela radiação solar.
Figura 1. Adulto, ovos e ninfas de mosca-branca (B. tabaci)
Fonte: Shutterstock, Canal Rural. Confira a imagem original clicando aqui
A mosca-branca apresenta ao longo do seu ciclo de vida as fases de ovo, quatro ínstares ninfais e adulto (Figura 2). A duração do ciclo varia de acordo com as condições ambientais, levando de 15 a 25 dias sob temperaturas de 25° a 27° (TOSCANO et al., 2016). As fêmeas podem ovipositar de 100 a 300 ovos durante o seu ciclo de vida e em condições favoráveis a espécie pode completar de 11 a 15 gerações por ano. O ciclo curto e a alta taxa de reprodução favorecem os surtos populacionais de B. tabaci em soja.
Figura 2. Ciclo de vida de mosca-branca (B. tabaci)
Fonte: Pollyane Hermenegildo. Confira a imagem original clicando aqui
Os adultos fazem suas posturas na face abaxial (inferior) das folhas de soja. Os ovos possuem cerca de 0,2 mm, formato piriforme e duram de 5 a 7 dias; ao longo desse período, permanecem ligados à superfície foliar por uma estrutura denominada pedicelo, capaz de absorver água e nutrientes. Após a eclosão, as ninfas de 1º instar movem-se por um curto período de tempo, buscando uma região adequada da folha para fixar-se e sugar a seiva da planta. As ninfas de 2º, 3º e 4º instar permanecem imóveis (sésseis) nesse mesmo local, até a emergência do adulto.
No total, os quatro ínstares ninfais duram de 11 a 20 dias. Conforme os ínstares progridem, as ninfas passam de coloração translúcida para amarelo-palha. Próximo à emergência do adulto, os olhos de coloração vermelha tornam-se visíveis. Os adultos medem de 1 a 2 mm, sendo a fêmea um pouco maior que o macho. Apresentam coloração amarelo-pálido, aparelho bucal tipo sugador e dois pares de asas membranosas que são recobertas por uma substância pulverulenta de cor branca.
Logo após a emergência, os adultos deixam as folhas inferiores, de onde emergiram, e voam para as folhas superiores para se alimentar e ovipositar. O segmento superior do dossel vegetativo das plantas de soja é preferencial para oviposição, e, portanto, acompanhando o crescimento das plantas, ninfas de 1º e 2º ínstares localizam-se principalmente na região mediana das plantas, e de 3º e 4º ínstares no terço inferior (POZEBON et al., 2019).
Em geral, o grande número populacional e o difícil controle desta praga são decorrentes da imobilidade das ninfas, que permanecem protegidas sob a face inferior das folhas de soja. Assim, mesmo que os adultos sejam eliminados por meio de uma aplicação foliar de inseticida, a eventual sobrevivência das ninfas no terço inferior das plantas irá proporcionar uma rápida re-infestação da lavoura.
Uma alternativa para contornar esse problema é a utilização de inseticidas sistêmicos, como os neonicotinóides (imidacloprido, acetaprimido e tiamotexam, entre outros), cuja translocação no interior da planta poderá transportar o ingrediente ativo até os locais de alimentação das ninfas. Entretanto, é essencial que as folhas do baixeiro sejam alcançadas pela pulverização, já que a translocação de neonicotinóides ocorre apenas da parte inferior para a superior da planta (BUCHHOLZ; NAUEN, 2002).
Elaboração: Solange Andressa Figur, Graduanda em Agronomia
Revisão: Henrique Pozebon, Mestrando PPGAgro e Prof. Jonas Arnemann, PhD. e Coordenador do Grupo de Manejo e Genética de Pragas – UFSM
REFERÊNCIAS:
BUCHHOLZ, A.; NAUEN, R. Translocation and translaminar bioavailability of two neonicotinoid insecticides after foliar application to cabbage and cotton. Pest Management Science 58: 10–16, 2002.
BUENO, A. F.; HOFFMANN-CAMPO, C. B.; SOSA-GOMEZ, D. R. MOSCA BRANCA. Disponível em https://www.agencia.cnptia.embrapa.br/gestor/soja/arvore/CONT000fznzu9ib02wx5ok0cpoo6ariubmhq.html.
HERMENEGILDO, P. MOSCA BRANCA: CONHECENDO O INIMIGO! Disponível em https://agropos.com.br/mosca-branca/.
IHARA. MOSCA-BRANCA: COMO FAZER O MANEJO EFICIENTE DA PRAGA NA SOJA. 20 de mai. de 2020. Disponível em https://www.canalrural.com.br/ihara/mosca-branca-como-fazer-o-manejo-eficiente-da-praga-na-soja/.
POLSTON, J.E.; DE BARRO, P.; BOYKIN, L. M. Transmission specificities of plant viruses with the newly identified species of the Bemisia tabaci species complex. Pest Management Science, p.3738, 2014.
POZEBON, H. et al. Distribution of Bemisia tabaci within soybean plants and on individual leaflets. Entomologia Experimentalis et Applicata 167: 396–405, 2019. Disponível em: https://onlinelibrary.wiley.com/doi/abs/10.1111/eea.12798
TOSCANO, L.C. et al. Biologia de Bemisia tabaci (Genn.) biótipo B (Hemiptera: Aleyrodidae) em genótipos de tomateiro em duas épocas. Revista de Agricultura Neotropical, Cassilândia-MS, v. 3, n. 4, p. 1-6, out./dez, 2016.