Visando garantir a manutenção da produtividade da soja, o manejo fitossanitário da cultura é de suma importância. Além de pragas e doenças, as plantas daninhas são consideradas uma das principais causas da redução da produtividade da soja. As plantas daninhas matocompetem com a soja por água, radiação solar e nutrientes, podendo inclusive exercer papel dominante sobre a cultura.
No geral, algumas espécies de plantas daninhas se destacam pela persistência em áreas de cultivo e elevado impacto causado sobre a cultura da soja. Determinadas espécies possuem elevada capacidade de produzir sementes, as quais são facilmente dispersas contribuindo para a manutenção das populações de plantas daninhas em áreas agrícolas. Além disso, determinadas espécies ainda apresentam casos registrados de resistência a herbicidas, fato que dificulta ainda mais o controle em pós-emergência dessas plantas daninhas.
Uma dessas espécies é o leiteiro ou amendoim-bravo (Euphorbia heterophylla L.), cujo em 2019, já se estimava que as infestações de leiteiro ocupassem aproximadamente 30% de todas as áreas produtoras de soja no Brasil, especialmente na região Sul e no estado do Mato Grosso (Adegas et al., 2020). Atrelado a elevada participação dessa planta daninha em áreas agrícolas, algumas populações do leiteiro apresentam resistência conhecida a determinados herbicidas, sendo o caso mais recente relatado, a resistência dessa planta daninha ao herbicida glifosato (inibidor da EPSPs), em 2019, na cultura da soja, Estado do Paraná (Heap, 2022).
Figura 1. Leiteiro (Euphorbia heterophylla L.).

Já em períodos anteriores, Heap (2022) destaca que relatos de casos de resistência do leiteiro a herbicidas já haviam sido observados. O primeiro caso foi em 1993, na cultura da soja, nos Estados do RS e PR, cuja resistência observada foi do tipo simples, aos herbicidas inibidores da enzima acetolactato sintase (ALS), mais especificamente aos herbicidas clorimuron-etil, cloransulam-metil, imazamox, imazaquin e imazethapyr.
Já o segundo caso, foi relatado em 2004 no Paraná, nas culturas da soja e milho, cuja resistência observada foi múltipla, aos herbicidas inibidores da enzima acetolactato sintase (ALS) e herbicidas inibidores da enzima protoporfirinogenio oxidase (PROTOX), mais especificamente aos herbicidas acifluorfen, cloransulam-metil, diclosulam, flumetsulam, flumiclorac-pentyl, fomesafen, imazethapyr, lactofen, metsulfuron-methyl, nicosulfuron e saflufenacil.
Embora não seja considerada uma planta daninha de complexo controle, os casos de resistência do leiteiro a herbicidas, em especial ao glifosato, dificultam o controle pós emergente dessa planta daninha em meio a cultura da soja. Cabe destacar que o leiteiro possui eleva habilidade competitiva, o que torna essencial seu controle eficiente em pós-emergência da soja.
Conforme observado Voll et al. (2002), 1 (uma) planta de Euphorbia heterophylla por metro quadrado de área, pode causar reduções médias da produtividade da soja de 8%, ocorrendo o decréscimo da produtividade a medida em que há o aumento da densidade populacional da planta daninha.
Figura 1. Estimativas de redução da produção de soja para os cultivares Embrapa-48 (precoce) e Embrapa-62 (ciclo médio), em função da competição de diferentes densidades de Euphorbia heterophylla (amendoim-bravo/leiteiro).

Com base nos aspectos observados, pode-se concluir que o leiteiro (Euphorbia heterophylla) é uma preocupante planta daninha na cultura da soja, devendo-se destinar atenção especial ao controle dele, especialmente em áreas com histórico de ocorrência dessa planta daninha. Levando em consideração os casos de resistência do leiteiro a herbicidas, uma das principais estratégias para o manejo eficiente dessa planta daninha é o emprego de herbicidas pré-emergentes, bem como o estabelecimento da cultura “no limpo”, livre de matocompetição, especialmente nos estádios iniciais do desenvolvimento da soja.
Veja mais: Controle de leiteiro/amendoim-bravo (Euphorbia heterophylla)
Referências:
ADEGAS, F. S. et al. A SITUAÇÃO DO LEITEIRO (Euphorbia heterophylla L.) COMO INFESTANTE DAS ÁREAS DE PRODUÇÃO AGRÍCOLA NO BRASIL. Comitê de Ação a Resistência aos Herbicidas, 2020. Disponível em: < https://drive.google.com/file/d/1u5XP6NRZCeyuMxmKEp6cayjfA26_w-pi/view >, acesso em: 12/12/2022.
HEAP, I. THE INTERNATIONAL HERBICIDE-RESISTANT WEED DATABASE, 2022. Disponível em: < http://www.weedscience.org/Pages/Species.aspx >, acesso em: 12/12/2022.
VOLL, E. et al. COMPETIÇÃO RELATIVA DE ESPÉCIES DE PLANTAS DANINHAS COM DOIS CULTIVARES DE SOJA. Planta Daninha, Viçosa-MG, v.20, n.1, p.17-24, 2002. Disponível em: < https://ainfo.cnptia.embrapa.br/digital/bitstream/item/49871/1/a04v16n2.pdf >, acesso em: 12/12/2022.
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