Alguns experimentos em São Paulo têm encontrado relevância no uso do Controle Biológico em sementes e mudas. Além de contribuir de forma estratégica para o controle sanitário da lavoura nas fases seguintes, o uso de fungos tem demonstrado melhoras na atividade microbiana no solo e diminuição da susceptibilidade das plantas a doenças. Para falar sobre o assunto, entrevistamos esta semana Alexandre de Sene Pinto, que é especialista em Manejo de Pragas, professor e pesquisador do Centro Universitário Moura Lacerda, em Ribeirão Preto, SP. Também é sócio e diretor da Occasio, uma empresa que desenvolve produtos biológicos para diversas empresas, além de prestar consultoria para 33 usinas e de agricultores de soja, milho, pasto e hortaliças, no Brasil e no exterior. Sene é ainda professor convidado da ESALQ/USP, em Piracicaba, SP; da FGV, em São Paulo, SP, e da Unidade Central De Educação Faem Faculdade – Uceff, em Chapecó, SC. 

FEBRAPDP: Para além do manejo de pragas e doenças na lavoura, o uso do Controle Biológico em sementes e mudas me parece ser uma medida estratégica antes de tudo. É isso mesmo?

Alexandre de Sene Pinto: Sim, pois a inclusão de microrganismos no solo, enriquecendo a microbiota, melhora a estrutura do solo, ocupa espaços antes preenchidos por bactérias e fungos que poderiam causar doenças em plantas, melhora o crescimento de plantas, entre diversos outros benefícios para as culturas.

 FEBRAPDP: Em que consiste exatamente essa técnica que conjuga o tratamento de sementes e mudas com o Controle Biológico?

Alexandre de Sene Pinto: O tratamento de mudas e sementes com fungos utilizados para o controle de pragas, como Beauveria bassianaCordyceps fumosorosea ou Metarhizium anisopliae, tem diminuído a ocorrência de pragas e doenças da parte aérea por semanas ou meses após o uso. Mas não é a ação direta desses fungos que tem controlado esses organismos maléficos para as plantas. Esse tratamento estimula a planta a produzir substâncias, como as peroxidases, que fazem as folhas, caules e até flores e frutos serem menos consumidos pelas pragas ou afetam o desenvolvimento delas e tornam as plantas menos suscetíveis ao desenvolvimento de doenças. 

FEBRAPDP: Quais os benefícios tangíveis no curto, médio e longo prazos agronômica e ambientalmente?

Alexandre de Sene Pinto: Além de proporcionar um controle inicial de pragas e doenças, diminuindo ou eliminando o uso de químicos, melhora as características gerais do solo, promovendo, a médio e longo prazos, melhorias no teor de matéria orgânica, facilitando a degradação dos diferentes produtos químicos utilizados na agricultura e diminuindo a necessidade de altas doses de fertilizantes para a nutrição das plantas.

 FEBRAPDP: Como e onde surgiu?

Alexandre de Sene Pinto: Existem pesquisas que mostram diversos resultados com o uso de fungos no tratamento de mudas e sementes, mas quase todos para hortícolas. Recentemente, a ESALQ/USP, em Piracicaba, SP, apresentou ao público os resultados de uma tese de mestrado de Fernando Belezini Vinha. No trabalho, Vinha aborda essa linha no tratamento de sementes de soja, com resultados muito interessantes no controle de lagartas, como a falsa-medideira e armigera, e de mosca-branca, até 90 dias após o uso. Para se ter uma ideia, o tratamento de sementes de soja chegou a diminuir mais de 60% o consumo das lagartas da falsa-medideira e as que insistiram em comer as folhas tiveram mortalidade superior a 50%. O mesmo aconteceu para a mosca-branca, tanto ninfas, como adultos.

 FEBRAPDP: Em quais culturas os experimentos já foram feitos e quais os resultados alcançados?

Alexandre de Sene Pinto: Depois desse ensaio da soja, meu grupo (G.bio – grupo de pesquisa e extensão em controle biológico), sediado no Centro Universitário Moura Lacerda, em Ribeirão Preto, SP, estudou feijão, berinjela, tomate e até jiló. No caso do feijoeiro, os danos em folhas causados por vaquinhas como Diabrotica speciosa, diminuíram em mais de 90% por mais de um mês após o tratamento de sementes com o fungo B. bassiana.

 FEBRAPDP: Como são os procedimentos?

Alexandre de Sene Pinto: Os fungos podem ser aplicados nas sementes, em formulações específicas para isso, com água. Ou podem ser aplicados em formulações comuns no sulco de plantio, no caso de tratamento de sementes. Para mudas, elas podem ter as raízes tratadas antes do transplantio ou os sulcos serem tratados. As doses precisam ser melhor conhecidas, mas o que se sabe é que doses menores parecem ser mais eficazes.

 FEBRAPDP: Se valer do Controle Biológico nas fases iniciais da planta significa, em alguma medida, a necessidade de um controle mais tranquilo nos estágios seguintes de desenvolvimento da plantação?

Alexandre de Sene Pinto: Isso mesmo. Cada produto biológico agirá por um tempo menor ou maior nas distintas culturas agrícolas. Isso é que a Ciência precisa conhecer e definir agora. Para cada clima e tipo de solo, um produto.

 FEBRAPDP: Em termos de custos, o que representa como investimento e o que se traduz como ganhos financeiros para a lavoura?

Alexandre de Sene Pinto: O investimento é menor do que o tratamento aéreo químico ou até biológico, que devem entrar quando o efeito do tratamento de sementes e mudas diminuir. Cada caso deverá ser conhecido individualmente. De qualquer forma, para que se tenha uma ideia, um quilo de fungo custa em torno de R$ 45,00 por hectare e utilizamos apenas algo em torno de 250 gramas de fungo por hectare.

 FEBRAPDP: Os agentes biológicos utilizados nessa fase são os mesmos utilizados nas fases adultas da planta?

Alexandre de Sene Pinto: Sim, são os mesmos. O que deverá mudar é a formulação, especialmente para o tratamento de sementes. A associação do tratamento de sementes e mudas com as aplicações sistemáticas mais tardias dos mesmos bioprodutos é a próxima etapa a ser conhecida, criando pacotes tecnológicos para as diversas culturas.

 FEBRAPDP: Quem quiser começar a pensar em adotar a técnica, o que deve ter em mente e onde pode obter mais informações?

Alexandre de Sene Pinto: Agora é o momento de testar e conhecer. O agricultor deve obter bioprodutos de qualidade reconhecida, de empresas sérias, e deve testar várias doses de produtos de diversas empresas, até chegar em uma recomendação viável para a própria realidade.

O agricultor deve sempre pensar em favorecer a atuação desses micro-organismos, utilizando alguma fonte de alimento para eles (prebióticos), ricas em matéria orgânica. A viabilidade desses organismos em solo é de cerca de 120 dias, mas em períodos muito quentes cai para 90 dias, atuando com bastante conforto na safra da maioria das culturas.

Fonte: Da Redação FEBRAPDP

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