O azevém (Lolium multiflorum) é uma gramínea pertencente à família Poaceae, é originária do Sul da Europa e norte da África, esta gramínea foi inicialmente introduzida no Sul do Brasil com a finalidade de servir como forrageira. No entanto, ao longo do tempo, tornou-se uma planta daninha de grande relevância, especialmente em culturas de inverno, como trigo e cevada, além do milho cultivado na primavera (Rizzardi).
O azevém possui mecanismo fotossintético do tipo C3 e pode apresentar ciclo de vida anual ou bianual, dependendo do ambiente. Sendo caracterizado por seu porte ereto ou semi-ereto, exibindo uma coloração verde vibrante. O colmo geralmente tem uma altura que varia entre 20 e 100 cm, enquanto as folhas medem entre 6 e 30 cm de comprimento. Tanto o caule quanto as folhas são lisos e apresentam aspecto brilhante, essas plantas produzem flores em forma de espigas (Pagnoncelli Jr & Trezzi, 2020).
Figura 1. Azevém (Lollium multiflorum).
A reprodução ocorre via sementes, a qual possui fácil dispersão, conforme afirma Rizzardi, o potencial de produção de sementes alcança aproximadamente 3500 sementes por planta. O florescimento na Região Sul do país, ocorre geralmente nos meses de setembro e outubro, atingindo a maturação no final do ano. A ressemeadura natural dificulta seu controle, pois as sementes emergem de forma escalonada, estando em diferentes estádios de desenvolvimento no campo. A presença de apenas 4 plantas m² pode resultar em uma redução de até 60% no rendimento de grãos da cultura do milho (Nandula, 2014 apud. Pagnoncelli Jr & Trezzi, 2020). Nesse sentido, o controle do azevém representa um desafio, dadas suas características e a presença de casos registrados de resistência a herbicidas.
A aplicação repetida e continuada de glifosato para controle da vegetação é considerada a principal causa da seleção dos biótipos resistentes (Vargas et al., 2011). O primeiro caso de resistência do azevém a herbicidas no Brasil foi registrado em 2003 ao herbicida glifosato (inibidor da EPSP’s). Em 2010, foram registrados casos de resistência tanto simples aos herbicidas inibidores da ALS (iodosulfuron metil-Na), quanto a resistência múltipla a dois mecanismo de ação aos herbicidas EPSP’s e ACCase (cletodim e glifosato) (Heap, 2023).
Em 2016 e 2017, ocorreram novos casos de resistência múltipla do azevém a herbicidas no Brasil. Em 2016, foram registrados casos de resistência a herbicidas inibidores da ACCase e ALS (cletodim e iodossulfuron-metil-Na). Em 2017, foram relatados casos de resistência a herbicidas inibidores da EPSP’s e ALS, incluindo os ingredientes ativos glifosato, iodossulfuron-metil-Na e piroxsulam (Heap, 2023).
Figura 2. Evolução nos relatos de resistência de Azevém aos herbicidas no Brasil.

De acordo com Barroso et al. (2021), o controle do azevém na cultura do milho, após a emergência oferece alternativas, como o uso de triazinas e nicosulfuron, no entanto, é preciso estar atento aos períodos recomendados e instruções de uso para evitar danos à cultura. Além disso, o sistema EnlistTM pode ser uma ferramenta para o controle de azevém no milho, permitindo o uso de herbicidas do tipo “fops” e demonstrando resistência aos herbicidas 2,4-D, glifosato e amônio-glufosinato, semelhante ao sistema EnlistTM na soja.
O manejo de azevém antes da semeadura da cultura de verão, como soja ou milho, deve ocorrer aproximadamente de 15 a 20 dias antes do plantio. Esse intervalo de tempo é essencial para permitir um controle eficaz, evitando os efeitos negativos da competição e da alelopatia. É fundamental observar o estágio vegetativo do azevém, pois os herbicidas utilizados funcionam de maneira mais eficiente em plantas jovens de azevém, de preferência antes da formação de perfilhos. É importante ressaltar que, mesmo com a utilização de herbicidas graminicidas para o controle do azevém na dessecação pré-semeadura, ainda é necessária a aplicação de glifosato para o controle das espécies de folhas largas (dicotiledôneas) (Embrapa – GherbE).
De acordo com Pagnoncelli Jr & Trezzi (2020), uma alternativa que tem sido considerada é a aplicação de herbicidas pré-emergentes, esses herbicidas desempenham um papel essencial no manejo de plantas resistentes, contribuindo para a diversificação dos mecanismos de ação herbicida. É fundamental destacar que a eficácia dos herbicidas pré-emergentes pode variar de acordo com a frequência do fluxo de emergência das plantas. A aplicação em momentos em que as sementes não estão prontas para germinar pode resultar em uma eficiência reduzida dos herbicidas pré-emergentes.
Além do manejo químico com herbicidas, os autores destacam a alternativa do manejo cultural, que inclui o cultivo de plantas de cobertura para tentar conter o crescimento das plântulas de azevém. Nesse contexto, é crucial realizar o plantio dessas plantas de cobertura antes do surgimento das plantas de azevém, garantindo que elas tenham uma vantagem competitiva.
O pesquisador Bianchi (2023) destaca que o manejo de plantas daninhas de pequeno porte que surgem após a semeadura pode ser relativamente simples, desde que sejam tomados alguns cuidados essenciais. Ele ressalta que, para o controle eficaz do azevém em plantações de milho, uma tríade de herbicidas composta por glifosato, atrazina e nicosulfuron representa a escolha ideal, especialmente considerando a resistência crescente do azevém a determinados herbicidas.
É importante estar atento à possibilidade de uma infestação simultânea da cigarrinha do milho, que requer a aplicação de inseticidas organofosforados. É de extrema importância evitar a combinação desses inseticidas organofosforados com os herbicidas glifosato, atrazina e nicosulfuron, uma vez que essa associação aumenta consideravelmente o risco de fitotoxicidade para as plantas de milho.
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Referências:
BARROSO, A. A. M. et al. CONTROLE DE ESPÉCIES RESISTENTES AO GLIFOSATO. Matologia: Estudo sobre plantas daninhas, cap. 12, Jaboticabal, 2021.
BIANCHI, M. CONTROLE DE AZEVÉM NO MILHO. Rede Técnica Cooperativa, Canal Youtube, 2023. Disponível em: < https://www.youtube.com/watch?v=sQ6cNi8Si1c >, acesso em: 19/09/2023.
EMBRAPA – GherbE. MANEJO E PREVENÇÃO DA RESISTÊNCIA DE PLANTAS DANINHAS A HERBICIDAS NO BRASIL. Embrapa Trigo, Grupo de Herbologia da Embrapa – GherbE, Passo Fundo – RS. Disponível em: < https://www.embrapa.br/en/trigo/infraestrutura/plantas-daninhas/gherbe/manejo#:~:text=O%20manejo%20(desseca%C3%A7%C3%A3o)%20do%20azev%C3%A9m,da%20competi%C3%A7%C3%A3o%20e%20da%20alelopatia. >, acesso em: 19/09/2023.
HEAP, I. BANCO DE DADOS INTERNACIONAL DE ERVAS DANINHAS RESISTENTES A HERBICIDAS. Online, 2023. Disponível em: < http://www.weedscience.org/Pages/Species.aspx >, acesso em: 19/09/2023.
PAGNOCELLI JR., F. B.; TREZZI, M. M. Lolium multiflorum: BIOLOGIA, RESISTÊNCIA E MANEJO. HRAC – BR, 2020. Disponível em: < https://drive.google.com/file/d/116tXRfLpsveezKZ0XT57DI3T_Iv6U11S/view >, acesso em: 19/09/2023.
RIZZARDI, M. A. PLANTAS DANINHAS: AZEVÉM. UP HERB, Academia das Plantas Daninhas. Disponível em: < https://www.upherb.com.br/int/azevem >, acesso em: 19/09/2023.
VARGAS, L.; GAZZIERO, D. L. P.; KARAM, D. AZEVÉM RESISTENTE AO GLIFOSATO: CARACTERÍSTICAS, MANEJO E CONTROLE. Comunicado técnico 298, Embrapa. Passo Fundo – RS, 2011. Disponível em: < https://ainfo.cnptia.embrapa.br/digital/bitstream/item/62590/1/2011comunicadotecnicoonline298.pdf >, acesso em: 19/09/2023.