Autor: Dr. Argemiro Luís Brum
As cotações da soja, em Chicago, acabaram recuando nesta primeira semana de agosto. O primeiro mês cotado fechou a quinta-feira (05) em US$ 14,02/bushel, contra US$ 14,34 uma semana antes, tendo mesmo atingido a US$ 13,92/bushel no dia 03/08. A média de julho fechou em US$ 14,24/bushel, ficando 2,6% abaixo da média de junho.
A pouca demanda chinesa nestes últimos tempos e o retorno de chuvas na região produtora dos EUA, mesmo que irregulares, acabaram puxando os preços para baixo. Ao mesmo tempo, na semana, o dólar se fortaleceu no mercado internacional, tirando competitividade da soja estadunidense.
Nestes próximos dias o mercado estará na expectativa do relatório de oferta e demanda do USDA, o qual está previsto para o dia 12/08, assim como continuará atento a evolução climática sobre as lavouras. O mês de agosto é o mais importante para definir o tamanho da safra a ser colhida nos EUA e, portanto, o clima é ainda mais decisivo. Afora isso, o mercado aguarda que a China volte às compras de soja estadunidense, visando recompor estoques até o final do ano. Ao mesmo tempo, a partir de agora a oferta brasileira é menor, embora ainda haja bons volumes para exportar.
Além disso, a semana trouxe uma correção para cima na qualidade das lavouras de soja estadunidenses, confirmando que o clima não está tão ruim assim por lá, fato que surpreendeu o mercado. Segundo o USDA, até o dia 01/08, o índice de lavouras entre boas a excelentes passou a 60%, quando o mercado esperava 57%. Já as lavouras regulares ficaram em 28% e as ruins e muito ruins em 12%. Em fase de floração existem 86% das lavouras e em fase de formação de vagens havia 58% das mesmas neste início de agosto.
Por outro lado, voltou a preocupar o mercado a questão do coronavírus. Existe uma nova explosão de casos na China, agora ligados à variante Delta em sua maioria, obrigando o país a novos fechamentos de cidades e regiões pelo sistema de isolamento. Isso pode prejudicar o comércio externo chinês nas próximas semanas caso a dimensão do problema, que já vem se tornando novamente mundial, aumente. Neste momento seriam mais de 20 províncias chinesas atingidas pela nova forma da doença.
Dito isso, os embarques de soja por parte dos EUA, na semana encerrada em 29/07, atingiram a 181.193 toneladas para o ano comercial atual, ficando dentro do esperado pelo mercado. Com isso, o total no ano atinge 58,2 milhões de toneladas, ficando 48% acima do registrado no mesmo período do ano anterior.
Vale ainda registrar que em Chicago o óleo de soja cedeu bastante na semana, perdendo entre os dias 29/07 e 04/08 um pouco mais de 6,2% de seu valor. Já o farelo de soja, diante dos problemas enfrentados pelas indústrias moageiras chinesas há mais tempo, tem recuado bastante nas últimas semanas, chegando a trabalhar abaixo de US$ 350,00/tonelada curta em alguns momentos da corrente semana.
E aqui no Brasil, os preços estiveram mistos, com algumas regiões registrando recuo médio nos preços, e outras um pequeno avanço. A manutenção de um câmbio entre R$ 5,15 e R$ 5,20 na maior parte da semana, assim como prêmios positivos, ajudou a evitar um recuo maior puxado pelas quedas em Chicago.
Assim, a média gaúcha no balcão fechou a semana em R$ 154,03/saco, com muitas regiões de referência praticando R$ 151,00/saco, enquanto nas demais praças nacionais os preços da oleaginosa oscilaram entre R$ 151,00 e R$ 157,00/saco.
O mercado continua atuando de forma lenta, na expectativa de uma revalorização do Real a partir da decisão do Copom de aumentar a Selic em um ponto percentual, nesta quarta-feira passada, elevando a taxa anual para 5,25%.
Novas estimativas sobre a futura safra 2021/22 dão conta de que o Brasil possa chegar a pouco mais de 143 milhões de toneladas, com alta de 5,6% sobre a última colheita, a partir de uma área semeada de 40,1 milhões de hectares, ou seja, 1,5 milhão a mais do que o plantado no ano anterior. (cf. StoneX) Em isso ocorrendo, desde que o clima seja favorável, a oferta nacional de soja será bem melhor no próximo ano, pressionando para baixo os preços da oleaginosa no mercado interno.
Nestas condições, espera-se exportações ao redor de 92 milhões de toneladas em 2022, contra 85,5 milhões que deverá ser o volume do corrente ano. Já a demanda interna cresceria para 49 milhões de toneladas, ante as 47,5 milhões de 2021. Com isso, os estoques finais de soja no Brasil, no encerramento de 2021/22, quase que duplicariam, passando a 6,3 milhões de toneladas.
Por enquanto, o Brasil já teria exportado cerca de 70 milhões de toneladas neste ano 2021, constituindo-se em um recorde histórico para o período. A partir de agora, o restante do produto ficará entre o mercado interno e o externo.
Por sua vez, a Anec vai ainda mais longe, indicando uma futura safra em 144 milhões de toneladas e possíveis exportações em 94,3 milhões de toneladas. Segundo os dados da Associação, isso representaria 5,1% acima do colhido na safra anterior, e 9% acima das exportações do corrente ano.
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Fonte: Informativo CEEMA UNIJUI, do prof. Dr. Argemiro Luís Brum (1)
1 – Professor Titular do PPGDR da UNIJUI, doutor em Economia Internacional pela EHESS de Paris-França, coordenador, pesquisador e analista de mercado da CEEMA (FIDENE/UNIJUI).