Autores: Prof. Dr. Argemiro Luís Brum e Jaciele Moreira.
As cotações da soja em Chicago recuaram durante a semana, chegando a bater em US$ 13,82/bushel. Todavia, mais para o final da mesma houve recuperação e o bushel acabou fechando a quinta-feira (15), para o primeiro mês cotado, em US$ 14,18, contra US$ 14,15 uma semana antes. Mais uma vez o óleo de soja foi um elemento de impulso aos preços do grão. Este subproduto, após ter recuado para 51,45 centavos de dólar por libra-peso, no início da semana, saltou para 54,89 centavos, ganhando em três dias 6,7%. Já o farelo perdeu ímpeto e voltou a ser cotado abaixo do piso dos US$ 400,00 por tonelada curta em alguns dias da semana, chegando a atingir sua mais baixa cotação desde meados de dezembro passado.
Por enquanto, com a firmeza nos preços do petróleo o valor dos óleos vegetais tem crescido. Além disso, a demanda pelos mesmos tem sido consistente, enquanto a oferta é menor devido a problemas climáticos que reduziram a produção da palma, girassol, canola e soja em diferentes pontos do mundo neste último ano comercial. Assim, os preços do óleo de soja, em particular, estão nos mais altos níveis históricos nestas últimas semanas.
Dito isso, o relatório de oferta e demanda do USDA, anunciado no dia 09/04, não trouxe grandes novidades. De fato, o relatório mais importante é o do mês de maio, previsto para o dia 12 daquele mês, pois trará as primeiras projeções sobre a futura safra nos EUA, assim como algumas revisões de estoques e de área semeada.
Vale destacar que o referido relatório apontou um aumento na produção e nos estoques finais mundiais de soja, com os mesmos ficando, agora, respectivamente em 363,2 e 86,9 milhões de toneladas, com acréscimo entre dois a três milhões de toneladas sobre o anunciado em março. Não houve modificações nos números dos EUA, porém, a produção brasileira de soja foi aumentada para 136 milhões de toneladas, enquanto a da Argentina foi mantida em 47,5 milhões de toneladas. As importações chinesas foram mantidas em 100 milhões de toneladas para o ano comercial 2020/21.
A partir de agora o chamado “mercado do clima” passa a dominar o comportamento dos especuladores e operadores em geral na Bolsa de Chicago. Por enquanto, as chuvas ocorrem normalmente, porém, o plantio da soja desponta apenas a partir do final de abril. Outro elemento em jogo é a área que definitivamente será semeada pelos produtores estadunidenses, após a intenção de plantio vir menor do que o esperado. A área definitiva teremos apenas no final de junho próximo.
Estudos recentemente realizados dão conta de que a média do custo de produção por hectare de soja nos Estados Unidos fica em US$ 1.135,99 (ao câmbio de hoje, o equivalente a R$ 6.361,54), resultando em um lucro de US$ 402,45 (R$ 2.253,72), considerando uma produtividade de 57,84 sacas por hectare, a partir de um preço de US$ 12,51/bushel em Chicago para novembro e um desconto em relação aos negócios no mercado físico de 45 centavos de dólar. Para o milho, o retorno financeiro estimado, no atual cenário, é de US$ 344,09 por hectare (R$ 1.931,94), contabilizando um custo de produção de US$ 1.705,92/ha (R$ 9.553,15/ha), uma produtividade média esperada de 186,74 sacos por hectare e um desconto em relação aos negócios no mercado físico de 30 centavos de dólar. Em ambos os casos, o retorno financeiro é melhor do que o obtido no ano passado. Embora haja diferença considerável em favor da soja, a mesma ainda seria insuficiente para promover mudanças expressivas no plantio a ser efetuado pelos produtores norte-americanos. (cf. Agrinvest Commodities)
Em sendo assim, a safra de soja a ser semeada ficará apertada em oferta destes grãos, não permitindo espaços para perdas. É neste contexto que o clima nas regiões produtoras dos EUA ganha uma dimensão ainda mais importante neste ano, entre maio e outubro particularmente.
Afinal, em condições normais de clima as projeções, diante da área a ser semeada, apontam para uma produção máxima em soja de 120 milhões de toneladas nos EUA, considerando uma produtividade média de 56,9 sacos por hectare. Em isso ocorrendo, mesmo assim os estoques finais estadunidenses ficariam em apenas 620.000 toneladas, levando a relação estoque x uso a tão somente 0,5%, ou seja, uma das menores da história. Assim, se houver quebra de produtividade, apenas com elevação dos preços para conter a demanda, fato que manteria as cotações em Chicago bastante altas. Já no milho, diante da área a ser semeada, espera-se uma produção de 381,2 milhões de toneladas a partir de uma produtividade média de 187,78 sacos/hectare. Neste caso, os estoques finais ficariam em 32,03 milhões de toneladas, com uma relação estoque x uso de 8,3%. (cf. Agrinvest Commodities)
De forma mais conjuntural, tem-se que os embarques de soja pelos EUA, na semana encerrada em 08/04, somaram 327.799 toneladas, ficando dentro do esperado pelo mercado. No total do ano comercial, até o momento, os embarques chegam a 54,8 milhões de toneladas, contra pouca mais de 32 milhões no mesmo período do ano passado.
Aqui no Brasil, com um câmbio que se manteve ao redor de R$ 5,60 e R$ 5,70, os preços melhoraram um pouco, porém, em termos médios e nominais os mesmos estão nestes níveis há cerca de seis meses. Assim, o balcão gaúcho fechou a semana em R$ 165,50/saco. Nas demais praças nacionais os preços oscilaram entre R$ 155,00 e R$ 161,00/saco.
A colheita da soja no Brasil atingia a 87,2% da área até o dia 09/04, contra 85,1% da média histórica. A mesma está praticamente encerrada nos Estados do Centro-Oeste e em Rondônia, e se aproxima do final no Paraná, São Paulo e Minas Gerais. No Rio Grande do Sul ainda há atraso, com a mesma chegando a 50% da área total.
Quanto às exportações, até a segunda semana de abril a média diária brasileira atingia a 964.100 toneladas de soja, contra 742.700 toneladas no mesmo mês de 2020.
Enfim, importante se faz destacar que a produção mundial de soja certificada chegou a 4,6 milhões de toneladas em 2020, com alta de 15% sobre 2019. Segundo a Associação responsável por esta produção no Brasil, trata-se de soja sustentável, combinada com rastreabilidade em toda a cadeia produtiva da oleaginosa. O Brasil lidera esta produção específica, com 3,7 milhões de toneladas em 2020. A expectativa é de que em 2021 o volume produzido cresça entre 15% e 20% no país.
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Fonte: Informativo CEEMA UNJUÍ, do prof. Dr. Argemiro Luís Brum (1) e de Jaciele Moreira (2).
1 – Professor do DACEC/UNIJUI, doutor em economia internacional pela EHESS de Paris França, coordenador, pesquisador e analista de mercado da CEEMA.
2- Analista do Laboratório de Economia da UNIJUI, bacharel em economia pela UNIJUÍ, Tecnóloga em Processos Gerenciais – UNIJUÍ e aluna do MBA – Finanças e Mercados de Capitais – UNIJUÍ e ADM – Administração UNIJUÍ