Autor: Dr. Argemiro Luís Brum

As cotações da soja em Chicago subiram nesta semana, lembrando que no dia 15/07 o primeiro mês cotado passou a ser agosto. Desta forma, após chegar a US$ 14,67/bushel na véspera, o fechamento do dia 15 (quinta-feira) ficou em US$ 14,47, contra US$ 13,90/bushel uma semana antes.

O mercado trabalhou a partir do relatório de oferta e demanda do USDA e do comportamento climático nos EUA.

Quanto ao relatório, não houve grandes novidades em relação ao indicado em junho. A safra de soja nos EUA foi mantida na estimativa de 120 milhões de toneladas e os estoques finais locais, em 2021/22, continuam estimados em 4,2 milhões de toneladas. Com isso, o preço médio ao produtor de soja estadunidense ficou em US$ 13,70/bushel para este novo ano comercial que se aproxima. Em termos mundiais, a produção ficou mantida em 385,2 milhões de toneladas, enquanto os estoques finais mundiais foram aumentados para 94,5 milhões de toneladas. A novidade maior foi a redução do volume a ser importado pela China, o qual passou de 103 para 102 milhões de toneladas para o ano em questão.

Quanto a qualidade das lavouras de soja estadunidenses, até o dia 11/07, as lavouras em boas ou excelentes condições foram mantidas em 59%, contra 60% esperados pelo mercado. No ano passado eram 68%. Outras 30% das lavouras estão em situação regular e 11% em condições ruins ou muito ruins. Por sua vez, 46% das lavouras estavam em floração.

Portanto, as oscilações altistas em Chicago foram muito mais em função do clima, pois o relatório seria baixista. Aliás, o mercado o considerou conservador, imaginando que possa haver quebra na safra, não confirmando o volume estimado. Algo que terá que ainda ser observado nos próximos 60 dias.

Em paralelo, na semana encerrada em 8 de julho os embarques de soja chegaram a 200.933 toneladas, ficando dentro do esperado pelo mercado, somando um total de 57,6 milhões de toneladas no total anual, ou seja, 52% a mais do que no ano anterior nesta mesma época.

Dito isso, as importações de soja por parte da China aumentaram em junho, crescendo 11,6% sobre maio, atingindo a 10,7 milhões de toneladas. Este foi o terceiro maior montante mensal da história. As importações chinesas de soja somaram 48,96 milhões de toneladas no primeiro semestre de 2021, aumentando 8,7% sobre o mesmo período do ano passado. Com isso, o sentimento é de que a China esteja retornando à sua normalidade após o evento da Peste Suína Africana. Por outro lado, parte do mercado destaca que a partir de agora a demanda pode diminuir, pois as margens de esmagamento na China seguem negativas. Neste sentido, segundo a consultoria JC Intelligence, as esmagadoras na província de Shandong, a maior região esmagadora de soja do norte da China, por exemplo, tem registrado um prejuízo de cerca de US$ 30,63 por tonelada da oleaginosa processada. E boa parte deste movimento está atrelada ao atual momento da suinocultura. Os preços do suíno já acumulam uma baixa de mais de 60% de janeiro a junho diante da preocupação dos suinocultores com novos surtos de Peste Suína Africana e outras zoonoses, e frente aos custos elevados para controlar doenças como estas, além de temerem perder mais animais como no momento do pico da epidemia. Assim, os produtores chineses têm abatido animais mais jovens, “forçando” uma comercialização mais intensa e promovendo também uma pressão expressiva sobre os preços da carne suína no país.

Por enquanto, boa parte da soja que chega na China é de origem brasileira. No entanto, além de, diante do quadro de demanda, as compras poderem diminuir um pouco em julho, logo adiante as mesmas se deslocarão com maior intensidade para a soja dos EUA, a partir da entrada da nova safra local. Mas há ainda bastante soja disponível no Brasil, pelo menos até setembro.

É importante destacar que os prêmios no Brasil, para setembro, estão entre US$ 1,35 e US$ 1,40 sobre os preços praticados em Chicago, e no Golfo estão bem mais baixo (cf. Grupo Labhoro). Ainda no Golfo, os prêmios para agosto são de 78 a 85 centavos de dólar por bushel, e para outubro, os vendedores pedem 75 centavos de dólar sobre a CBOT, enquanto no Brasil os valores para outubro já variam entre US$ 1,41 e US$ 1,55 por bushel. Assim, a soja brasileira perde competitividade.

Por fim, mesmo que a China esteja bem abastecida, espera-se que ela vá importar um total de 105 milhões de toneladas de soja neste ano. Em sendo assim, é possível que os chineses venham mais tímidos às compras neste segundo semestre. Tanto é verdade que os EUA vem sentindo a falta de demanda nas compras de soja, em relação aos anos anteriores, para os meses a partir de agosto. Confirmando a análise anterior, o USDA indica que os elevados estoques de carne suína pressionaram os preços dos animais, reduzindo as margens de esmagamento e diminuindo a demanda por farelo de soja, ao menos no curto prazo.



Enquanto isso, no Brasil, com o Real muito volátil, chegando a R$ 5,09 na quinta-feira (15) pela manhã, os preços responderam particularmente ao comportamento de Chicago, subindo um pouco na média. O balcão gaúcho fechou a semana em R$ 151,76/saco, enquanto nas demais praças nacionais os mesmos oscilaram entre R$ 148,00 e R$ 157,00/saco.

Por sua vez, a comercialização da safra 2021/22 no Mato Grosso atingiu a 34,6% do total esperado, contra 47% na mesma época do ano passado e contra a média histórica de 25,3% para o período. Já em relação a safra colhida em 2020/21, as vendas atingem 90% do total, contra 88,7% na média histórica para o período. (cf. Imea)

Em termos de Brasil como um todo, a última safra nacional de soja já foi comercializada em 79,2% de seu total até o dia 09/07, contra 78,2% na média histórica para este período. Com isso, sobram ainda 28,6 milhões de toneladas relativas a última safra. Já em relação a futura safra 2021/22 a comercialização antecipada estaria em 21,5%, contra 39,8% no ano passado e 17,6% na média histórica.(cf. Safras & Mercado)

Enfim, as exportações brasileiras de soja em julho, segundo a Anec, devem atingir a 9 milhões de toneladas, contra 10,1 milhões em junho e 8,03 milhões em julho do ano passado. A Associação estima igualmente que o Brasil exporte 1,75 milhão de toneladas de farelo de soja em julho.

E, para encerrarmos o comentário desta semana, em linha com o que já abordamos em outra oportunidade, produtores brasileiros do Maranhão e Mato Grosso, num total de 55 pessoas, começam a receber um prêmio pela produção da chamada soja sustentável. Esta nova iniciativa recompensaria os produtores pelos seus “serviços ambientais”. Neste sentido, o programa, apoiado pela unidade de químicos do conglemerado japonês Sumitomo e pela Tropical Forest Alliance (TFA) o programa cria um incentivo financeiro para a proteção ambiental, endereçando um incentivo financeiro aos produtores parceiros. Segundo os cientistas, os agricultores podem empregar técnicas regenerativas para ajudar a fixar o carbono no solo, incluindo o plantio de culturas ou utilização de coberturas de solo durante todo o ano, em conjunto com atividades agroflorestais que combinam pecuária, agricultura e o plantio de árvores. Conforme dito pelo diretor de marketing da Sumitomo Chemical no Brasil, a iniciativa gerou uma redução “teórica” no desmatamento estimada em 4 mil hectares, com base em dados de um algoritmo. Ele disse que a empresa reservou 55 mil dólares em recompensas a serem pagas a sojicultores elegíveis do Brasil em 2021. Obviamente, os créditos de carbono acumulados pelos produtores brasileiros poderiam ser negociados com a própria Sumitomo, ajudando a empresa a atingir sua meta de zerar suas emissões líquidas de carbono dentro do prazo, que termina em 2050. Os agricultores participantes do programa, incluindo alguns clientes da Sumitomo, cultivam soja em uma área estimada de 450 mil hectares no Maranhão e 19 mil hectares em Mato Grosso, segundo a empresa. (cf. Notícias Agrícolas)


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Fonte: Informativo CEEMA UNIJUI, do prof. Dr. Argemiro Luís Brum (1)

1 – Professor Titular do PPGDR da UNIJUI, doutor em Economia Internacional pela EHESS de Paris-França, coordenador, pesquisador e analista de mercado da CEEMA (FIDENE/UNIJUI).

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