Autor: Dr. Argemiro Luís Brum
As cotações da soja, em Chicago, voltaram a recuar nesta semana, com o primeiro mês fechando a quinta-feira (07/10) em US$ 12,47/bushel, contra US$ 12,56 uma semana antes. As mesmas chegaram a bater em US$ 12,35/bushel, valor mais baixo para o bushel desde o dia 18 de dezembro passado. E isso que o óleo de soja voltou a subir forte, rompendo novamente o teto dos 60 centavos de dólar por libra-peso. Mesmo assim, confirmando a tendência, os fundamentos do mercado indicam quadro de baixa para soja nas próximas semanas em se mantendo normal a colheita dos EUA, o plantio na América do Sul e a fraca demanda chinesa para com o produto estadunidense. Além disso, os Fundos têm se retirado parcialmente das posições compradoras, levando à vendas de contratos.
No caso do óleo de soja, a forte alta se deu na esteira das altas no mercado da energia, mundo afora, na medida em que a demanda cresce em função do maior controle da pandemia. Está faltando energia em muitos países, incluindo a China. Enquanto o barril de petróleo já ultrapassa os US$ 82,00 no mercado mundial, o gás natural subiu 10% em poucos dias neste mesmo mercado. O petróleo está nas máximas dos últimos sete anos, por exemplo. Isso puxa os preços dos óleos vegetais, muito utilizados igualmente para combustível, caso da soja.
Vale lembrar que a média da soja em setembro voltou a recuar em Chicago, ficando em US$ 12,77/bushel, perdendo 6,8% de seu valor sobre agosto. Este recuo médio é o quarto consecutivo. Assim, entre a média de maio e a de setembro o bushel de soja, em Chicago, perdeu 18,8%, ou seja, cerca de três dólares. Em 2020, a média de setembro havia sido de US$ 9,98/bushel.
Por outro lado, a colheita nos EUA, até o dia 03/10, chegou a 34% da área estadunidense, contra 26% na média histórica, demonstrando estar bem adiantada para esta época. As lavouras a colher se mantêm 58% entre boas a excelentes, outras 28% estão regulares e 14% entre ruins a péssimas. Destas lavouras, 86% estão em fase de perda de folhas.
Quanto às exportações de soja por parte dos EUA, na semana encerrada em 30/09, houve embarque de 844.488 toneladas, elevando o montante total do atual ano comercial para 1,83 milhão de toneladas. Este volume fica bem abaixo dos mais de 7 milhões embarcados no mesmo período do ano passado, sendo mais um fator de pressão baixista sobre as cotações em Chicago.
Enquanto isso, na Argentina os produtores de soja locais teriam vendido 31 milhões de toneladas de soja da safra passada, contra 32,7 milhões no mesmo período do ano anterior. Lembrando que a safra 2020/21 foi de somente 43,1 milhões de toneladas de soja no vizinho país, após 49 milhões um ano antes. Já a semeadura da nova safra estará iniciando neste mês de outubro, e a expectativa é de uma colheita ao redor de 44 milhões de toneladas. (cf. Bolsa de Grãos de Buenos Aires)
Por sua vez, no Brasil os preços recuaram, puxados especialmente por Chicago e pela reacomodação do câmbio, o qual deixou o Real um pouco mais valorizado. Assim, o preço médio gaúcho, no balcão, recuou para R$ 157,82/saco, enquanto nas demais praças o mesmo oscilou entre R$ 157,00 e R$ 160,00/saco. No entanto, este quadro pode mudar novamente nos próximos dias, pois na quinta-feira, dia 07/10, o Real novamente se desvalorizava, atingindo a R$ 5,51 por dólar durante o pregão.
Com os preços ainda em patamares elevados, os produtores brasileiros, em início de plantio da nova safra, deverão semear 40,4 milhões de hectares, um novo recorde. Com isso, em clima normal, a produção nacional poderá atingir a 144,3 milhões de toneladas, a partir de uma produtividade média esperada de 3.570 quilos/hectare. Já em relação a safra passada, as exportações deverão ficar em 84 milhões de toneladas, com os estoques de passagem atingindo a 5 milhões de toneladas. Já a safra nova deverá ter estes estoques em 8,5 milhões de toneladas diante do recorde de produção previsto. (cf. StoneX)
Enquanto isso, o plantio da nova safra de soja, até o dia 30/09, chegava a 4% da área nacional esperada, contra 2% no mesmo período do ano passado. Ainda, em muitos locais, os produtores esperam melhores chuvas para acelerar o plantio. A situação está mais difícil no Centro-Oeste e Sudeste.
Já as exportações de soja em setembro atingiram a 4,83 milhões de toneladas, superando o volume de setembro do ano passado. Além disso o valor cresceu 39,2%, com a tonelada passando de US$ 365,40 para US$ 508,80 no período de um ano. (cf. Secex) Para outubro o país já tem 2,5 milhões de toneladas registradas para embarque. Estas exportações estariam segurando os preços no mercado interno.
No mercado doméstico nacional também a demanda é boa, com um esmagamento total no ano previsto para atingir a 46,7 milhões de toneladas, ficando um pouco menor do que o registrado no ano passado. Assim, diante de estoques maiores no país, os preços teriam mais um motivo para recuarem, embora muitos acreditem que eles fiquem, ainda, em patamares interessantes na próxima colheita. Lembramos que, a partir das atuais cotações em Chicago para maio/22, e das projeções cambiais e de prêmios nos portos para abril/maio próximos, os preços no balcão gaúcho, para esta época do próximo ano, são de R$ 125,00 a R$ 130,00/saco, em se mantendo a lógica do desconto médio que as empresas compradoras praticam.
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Fonte: Informativo CEEMA UNIJUI, do prof. Dr. Argemiro Luís Brum (1)
1 – Professor Titular do PPGDR da UNIJUI, doutor em Economia Internacional pela EHESS de Paris-França, coordenador, pesquisador e analista de mercado da CEEMA (FIDENE/UNIJUI).