Autor: Dr. Argemiro Luís Brum

As cotações do trigo, em Chicago, subiram bem nesta semana, com o fechamento desta quinta-feira (28) ficando em US$ 7,72/bushel, contra US$ 7,41 uma semana antes. Este nível de cotação não era visto desde o dia 07 de maio passado, considerando o primeiro mês cotado.

Dentre as principais informações deste mercado, tem-se que o plantio do trigo de inverno nos EUA, até o dia 24/10, atingia a 80% da área, ficando exatamente na média histórica. Do total semeado, 55% já estava nascido, enquanto as condições das lavouras indicavam 46% entre boas a excelentes, 34% regulares e 20% entre ruins a muito ruins.

Já os embarques semanais de trigo estadunidense foram de 140.413 toneladas na semana encerrada em 21/10, ficando abaixo das expectativas do mercado. No atual ano comercial os EUA já exportaram 9,48 milhões de toneladas, sendo 15% a menos do que em igual período do ano anterior.

Ao mesmo tempo, na Argentina, o Ministério Público Fiscal recomendou a suspensão da Resolução 41/2020, que autoriza a comercialização da semente IND-00412-7, o trigo transgênico desenvolvido pela empresa Bioceres e atualmente pendente de aprovação no Brasil, principal importador de trigo da Argentina. A recomendação destaca a ausência de estudos de impacto ambiental e de audiências públicas que validem a aprovação deste novo evento transgênico, com suas implicações diretas na saúde pública, no ambiente, na economia e nas relações internacionais. Caso a recomendação do Ministério Público seja efetiva, a solicitação em curso no Brasil, para aprovar a comercialização do trigo transgênico, seria também automaticamente suspensa. No caso do trigo transgênico, o gene inserido na semente torna-o resistente ao glufosinato de amônio, agrotóxico potencialmente mais tóxico e cancerígeno que o glifosato — outro elemento químico ligado a problemas de saúde. Segundo a Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO), a ingestão diária de glifosato admissível para consumo humano é de 0,3 mg por quilo corporal. Para o glufosinato de amônio, a indicação é de 0,02 mg, sendo, portanto, um herbicida 15 vezes mais tóxico do que o já conhecido glifosato. (cf. Brasil de Fato)

E aqui no Brasil os preços do trigo subiram um pouco, com a média gaúcha no balcão chegando a R$ 83,40/saco, enquanto no Paraná os preços se mantiveram entre R$ 88,00 e R$ 91,00/saco. Um ano atrás o mercado gaúcho pagava R$ 76,50/saco. Isso significa que houve um aumento nominal no preço do cereal de 9% em 12 meses. Ainda assim, abaixo da inflação oficial e muito abaixo do aumento dos custos de produção. Considerando a inflação pelo IGP-M o preço do trigo, atualmente, para manter o poder de compra de um ano atrás, deveria estar em R$ 92,52/saco. Portanto, na prática, em termos reais o preço do trigo atualmente está quase 10 reais abaixo do que deveria estar. Com isso, se confirma igualmente no trigo a perda de rentabilidade neste ano. O que diminui o prejuízo é a possibilidade de uma safra melhor, em volume, neste ano. Todavia, muito trigo colhido apresenta baixa qualidade, como era esperado, fato que diminui consideravelmente o preço a ser recebido pelo produtor, aumentando o prejuízo real.

Em termos de colheita, o Rio Grande do Sul apresenta atraso, tendo ficado ao redor de 15% a 20% do total neste final de outubro, já que as chuvas têm atrapalhado o processo. No Paraná, todavia, a colheita gira ao redor de 80% da área. Também neste Estado a qualidade da safra deixa a desejar em diversas regiões. Não se descarta uma revisão para baixo no volume final do cereal a ser colhido pelo país, diante das quebras constatadas a partir do avanço da colheita.


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Fonte: Informativo CEEMA UNIJUI, do prof. Dr. Argemiro Luís Brum (1)

1 – Professor Titular do PPGDR da UNIJUI, doutor em Economia Internacional pela EHESS de Paris-França, coordenador, pesquisador e analista de mercado da CEEMA (FIDENE/UNIJUI).

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