Para muitos pode até soar estranho falar que os agrotóxicos são importantes e seguros. Mas essa é a verdade sobre esses insumos agrícolas que tanto ajudam no campo. Por exemplo, você sabia que cerca de 40% da produção agrícola do mundo é perdida todos os anos pelo ataque de pragas? Esse número poderia ser ainda maior se não fossem os agrotóxicos.
O conceito de agrotóxico é bastante abrangente
Quando ouvimos falar em agrotóxico, muitas vezes pensamos em algo muito prejudicial à saúde e ao meio ambiente. Mas a própria legislação, que regulamenta esse produto, desmistifica isso em sua definição:
“Agrotóxicos são os produtos e os agentes de processos físicos, químicos ou biológicos, destinados ao uso nos setores de produção, no armazenamento e beneficiamento de produtos agrícolas, nas pastagens, na proteção de florestas, nativas ou implantadas, e de outros ecossistemas e também de ambientes urbanos, hídricos e industriais, cuja finalidade seja alterar a composição da flora ou da fauna, a fim de preservá-las da ação danosa de seres vivos considerados nocivos.”
Ou seja, o termo agrotóxico contempla uma gama de produtos e elementos muito maior do que o que pensamos. De acordo com a própria legislação, microrganismos ou insetos, por exemplo, que são utilizados no controle biológico, são considerados agrotóxicos.
Tudo isso porque esses produtos são submetidos a estudos toxicológicos antes de serem liberados para a utilização na agricultura, mesmo que não sejam considerados tóxicos. Ainda assim, há uma preocupação com a segurança de tudo o que é utilizado nas lavouras.
Dessa forma, devido a sua grande importância no controle de pragas e, consequente redução de perdas na produção de alimentos, devemos considerar os benefícios que esses produtos nos trazem e ter consciência do rigoroso processo de estudos que envolvem segurança ao qual são submetidos.
Evolução na segurança dos agrotóxicos
Com a evolução da ciência a pesquisa e desenvolvimento de agrotóxicos transformou esses produtos em tecnologias mais modernas e sustentáveis, por isso até mesmo a forma de olharmos e avaliarmos esses produtos têm mudado.
Enquanto a pesquisa e o desenvolvimento de defensivos químicos são aprimorados, paralelamente, a regulamentação desses produtos vem se tornando cada vez mais complexa. A exigência de dados e estudos que demonstrem segurança ao homem e ao meio ambiente está cada vez maior, o que coloca os agrotóxicos entre as substâncias mais regulamentadas do mundo.
Além das normas estabelecidas há anos pelos órgãos federais responsáveis pelos setores de agricultura, saúde e meio ambiente, em 2019, a ANVISA aprovou a classificação toxicológica para os defensivos agrícolas seguindo o mesmo padrão do GHS (Globally Harmonized System of Classification and Labelling of Chemicals). Trata-se de um sistema desenvolvido pela Organização das Nações Unidas (ONU) que padroniza as normas, alinhando-as às regras internacionais para defensivos agrícolas de origem química e biológica.
É uma iniciativa que representa um avanço na proteção da saúde, uma vez que o GHS configura um sistema de comunicação simples e acessível para usuários, fabricantes, trabalhadores e consumidores quanto às indicações sobre perigo dos defensivos.
Outra melhoria no processo que envolve aspectos de segurança desses produtos ocorreu em outubro de 2021 com a publicação do decreto que cria a exigência de um registro de aplicadores de agrotóxicos. A nova regulamentação visa facilitar a implantação de programas de saúde e educação sobre o uso correto desses produtos. É uma medida de extrema importância para aumentar a conscientização sobre os riscos e instruir sobre o uso correto e adequado dos agrotóxicos.
E é sempre amparado no desenvolvimento de produtos mais inovadores, mas mantendo a segurança como prioridade, que devemos considerar a importância dos agrotóxicos para nos mantermos em uma posição de destaque como um grande produtor de alimentos, fibras e biocombustíveis com sustentabilidade.
A falta de controle de pragas compromete a biodiversidade e ameaça populações afetadas pela fome
Cerca de 40% da produção agrícola do mundo é perdida todos os anos pelo ataque de pragas, de acordo com a FAO (Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura). Estima-se que a perda mundial causada por doenças de plantas chega a 220 bilhões de dólares e as pragas invasoras custam aproximadamente 70 bilhões de dólares. Um valor altamente considerável quando pensamos na quantidade de alimentos perdidos, o que afeta principalmente as populações mais vulneráveis.
Sem contar que, além de fatores econômicos, esse cenário de descontrole contribui com a perda da biodiversidade. E essa situação pode ainda ser agravada devido às mudanças climáticas conforme um estudo apoiado pelas Nações Unidas.
De acordo com esse estudo, espécies como a lagarta-do-cartucho, que se alimentam de plantações de milho, sorgo e milheto, já se espalharam em razão do aumento da temperatura.
O trabalho também destaca a chance de ocorrência de mudança de rotas de migração e distribuição geográfica de gafanhotos do deserto, que são consideradas as pragas migratórias mais destrutivas do mundo.
Essa dinâmica ameaça a segurança alimentar como um todo, além de penalizar os pequenos agricultores e populações de países onde a segurança alimentar é mais problemática.
Contudo, o controle de pragas é necessário e, o uso dos defensivos agrícolas é uma ferramenta de extrema importância dentro do manejo integrado de pragas (MIP), uma estratégia que vem sendo implantada e difundida em muitas regiões do Brasil.
Produtos mais eficientes: melhor controle de pragas em menores doses
Diante da crise em que vivemos, não podemos deixar de lado os benefícios que os avanços nas áreas de pesquisa e desenvolvimento de defensivos vem trazendo para a sociedade.
A maior eficiência no controle de pragas juntamente à busca por moléculas mais seguras tem sido prioridade no desenvolvimento desses produtos.
Com o passar dos anos, agricultores tiveram acesso a defensivos cada vez mais inovadores no que diz respeito à sua interação com os organismos alvo e não alvo no campo. A busca incansável da ciência por moléculas específicas e seguras passou a ser prioridade das grandes pesquisas.
O maior conhecimento sobre os mecanismos e locais de ação dos defensivos sobre as pragas alvo resultou no desenvolvimento de produtos mais específicos, seletivos e eficazes. Isso faz com que organismos não alvo, ou seja, aqueles que não causam danos às culturas, não sejam prejudicados.
Em decorrência disso, ocorreu redução significativa das doses dos defensivos no momento da aplicação, sem afetar sua eficiência no campo. Além disso, os produtos mais modernos são mais rapidamente degradados no meio ambiente e não apresentam efeito acumulativo.
Para ilustrar essa evolução, destacamos as mudanças no padrão de utilização de defensivos no Brasil, evidenciando uma redução muito significativa das doses médias utilizadas.
A dose média dos produtos lançados a partir do ano 2000 corresponde a 12% da dose média dos produtos anteriores à década de 70. Resultado que indica sua maior eficiência e menor risco, por reduzir sua exposição.
Respondendo a duas principais dúvidas sobre os agrotóxicos
Os agrotóxicos ficam nos alimentos?
Dependendo da composição do agrotóxico, assim como da forma em que ele é aplicado, é possível que contenha resíduos desse produto nos alimentos. No entanto, há um limite máximo de resíduo permitido, baseado em estudos e determinado pela ANVISA, em que se pode consumir o alimento com segurança, sem que haja risco para a saúde. Além disso, há o Plano Nacional de Controle de Resíduos e Contaminantes em Produtos de Origem Vegetal (PNCRC), um programa que monitora e fiscaliza os resíduos de defensivos agrícolas e de contaminantes químicos e biológicos em produtos de origem vegetal nacionais e importados. De acordo com o último relatório do PNCRC, 89% das amostras de 37 produtos de origem vegetal, analisadas estão dentro do nível de conformidade, estabelecido no país, mostrando que os vegetais comercializados no Brasil são seguros para o consumo.
O Brasil é o País que mais consome agrotóxicos?
É muito comum ouvirmos falar que o Brasil é o maior consumidor de agrotóxicos do mundo, mas isso não é verdade. Mesmo considerando sua dimensão na produção agrícola, o país utiliza agrotóxicos de maneira bastante racional. Segundo a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO) o Brasil ocupou o terceiro lugar como consumidor de defensivos em 2018, ficando atrás da China e dos Estados Unidos. No entanto, ao se examinar o consumo de defensivos por hectare, o Brasil cai para o 25º lugar.
Principais fontes:
Adalbert B., et al. Differences in the progress of the biopesticide revolution between the EU and other major crop-growing regions. Pest Management Science, 2017.
FAO on behalf of the IPPC Secretariat. Disponível em: https://www.fao.org/documents/card/en/c/cb4769en Acesso em 01 dez. 2021
IPPC Secretariat. 2021. Scientific review of the impact of climate change on plant pests – A global challenge to prevent and mitigate plant pest risks in agriculture, forestry and ecosystems. Rome.
Nishimoto, R. Global trends in the crop protection industry. J. Pestic. Sci. 2019.
Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO). Disponível em: https://www.fao.org/brasil/noticias/detail-events/en/c/1411810/ Acesso em 01 dez. 2021
Popp, J. et al., Pesticide productivity and food security. A review, Agronomy for Sustainable Development. 2012.
Singh A, et al. Advances in controlled release pesticide formulations: prospects to safer integrated pest management and sustainable agriculture. Journal of Hazardous Materials, 2019.