O tratamento de sementes com fungicidas é uma prática antiga e que vem evoluindo muito rapidamente nas últimas décadas. O primeiro relato no mundo, que poderia ser considerada como uma forma desse processo, teve origem por volta do século XVII quando grãos de trigo, resgatados de um naufrágio no canal de Bristol na Inglaterra, foram semeados após serem considerados inaptos para o consumo, dando origem a plantas de trigo livres de Tilletia caries , fungo causador da doença conhecida como cárie do trigo.

Com o passar do tempo, a busca pela indústria química de novos ingredientes ativos tornados-se necessária, considerando o desenvolvimento agrícola e suas inovações tecnológicas. Entre os anos de 1807 e 1913, foram desenvolvidos, para o tratamento de sementes, os fungicidas a base de cobre, aldeídoico e os denominados de organo-mercuriais, altamente tóxicos e usados ​​em doses elevadas. A escassez de produtos à base de mercúrio originou, no período pós-guerra, o desenvolvimento de vários produtos de sintética orgânica como os ditiocarbamatos, as quinonas, os aromáticos e os heterocíclicos. A década de 1960 foi marcada pela introdução dos fungicidas denominados de sistêmicos, para tratamento de sementes de uma maneira geral, incluindo uma soja, como aqueles dos grupos dos benzimidazois, das oxatinas e alguns fungicidas do grupo dos triazóis. Na época, isso foi considerado um passo importante para a consolidação dessa prática em nível mundial. Com a demanda crescente por produtos menos tóxicos, mais eficientes e usados ​​em doses menores, foram sintetizados, para o tratamento de sementes, fungicidas de espectro amplo e com novo modo de ação, como estrobilurinas em 1996 e como carboxamidas em 2013, atualmente usados na cultura da soja.

Além desses novos ingredientes ativos, é importante considerar que o desenvolvimento de novas máquinas e tecnologias de aplicações de produtos também contribuíram para o salto tecnológico observado no tratamento de sementes de soja com fungicidas. A introdução dessa prática no Brasil ocorreu de forma improvisada, sendo que as coisas aconteciam apenas nas propriedades agrícolas ( on farm ) e eram conduzidas de maneira bastante precária. Aos poucos a prática foi se tornando mais comum nas fazendas, o que levou os agricultores a identificarem a necessidade de um equipamento específico para esse específico. Foi então que em 1980 ocorreu a importação da primeira máquina desenvolvida para o tratamento de sementes de soja “ on farm”. Atendendo a crescente demanda pela melhoria da qualidade nesse processo, em 2002 foi introduzida no mercado a primeira máquina desenvolvida e pela indústria brasileira voltada especificamente para esse fim. Esse foi o pontapé inicial para que o Tratamento de Sementes Industriais (TSI) começasse a ganhar força no País.

O tratamento de sementes de soja com fungicidas é uma tecnologia desenvolvida para ser aproveitada em sementes com qualidades fisiológicas (vigor e germinação), sanitária (livres de patógenos e de sementes de plantas daninhas), genética (geneticamente pura e da cultivar de interesse) e física (livres de material inerte e de contaminantes). O objetivo principal desse tipo de prática é erradicar ou reduzir, aos mais baixos níveis possíveis, os fungos presentes nas sementes, além de protegê-las dos patógenos do solo e da própria semente, quando as condições de semeadura são desfavoráveis. Consequentemente, predomínio de plantas comuns com a adoção dessa prática.

O negócio do tratamento de sementes globalmente é de cerca de 5,33 bilhões de anuais, assim distribuídas: 38% na América do Norte, 26,4% na Europa, 24,6% na América do Sul e 11% na região -Pacífico.

No Brasil, em 2020, o mercado de tratamento de sementes alcançou uma cifra de US $ 654 milhões, considerando inseticidas, fungicidas e nematicidas. Os fungicidas contribuíram com USD 85 milhões, representaram 13% desse mercado total, com previsão de estabilidade para os próximos 5 anos. No caso específico da soja, esse valor foi de US $ 39 milhões (10% do mercado de tratamento de sementes nessa cultura), também com previsão de estabilidade para os próximos cinco anos.

Atualmente, a prática do tratamento de sementes de soja com fungicidas é realizada em duas modalidades: na fazenda , feito pelo próprio agricultor dentro da sua propriedade agrícola, usando máquinas específicas para este fim e o TSI, que é o processo realizado em Centros de Tratamentos de Sementes (CTS) ou Unidades de Beneficiamento de Sementes (UBS) em escala industrial. As duas modalidades trazem vantagens e desvantagens, as quais devem ser analisadas pelo produtor e técnico responsável. Importante saliente que os produtos usados ​​no TSI, bem como aqueles que o produtor utiliza no tratamento na fazenda , são praticamente os mesmos. O que diferencia esses dois métodos é a tecnologia de aplicação.

Tratar as sementes na própria fazenda acaba sendo uma opção para muitos produtores, devido ao custo que é bem inferior quando comparado ao TSI. Porém, caso o produtor opte por essa modalidade, é importante que essa prática seja realizada por profissionais capacitados, com utilização de bons equipamentos e que o local de tratamento seja limpo e arejado. Além disso, é preciso seguir as normas de segurança para impedir contaminações de pessoas e do meio ambiente. Todos os envolvidos na operação devem usar EPIs (Equipamentos de Proteção Individual).

Na indústria, o TSI é conduzido obrigatoriamente por profissionais especializados, usando equipamentos especiais e possibilitando sua comercialização já tratadas, dentro de elevados e seguros padrões de qualidade. As vantagens do TSI em relação ao tratamento na fazenda são cobertura uniforme, dose adequada (precisão na quantidade de fungicida), qualidade das sementes garantida, além de evitar o contato do produtor com o fungicida, risco de contaminação. O resultado são sementes de padrão de segurança garantido, com tratamento de elevada qualidade, agregando valor ao produto (semente) e proporcionando economia de tempo. Segundo dados das sementes Jotabasso, o valor de uma semente que passa por um processo de TSI pode ter um custo de 15% a 20% superior em relação a uma semente sem essa tecnologia.

Em se tratando da precisão da dosagem do fungicida aplicada nas sementes de soja, um levantamento realizado pelo Grupo ATTO Sementes comparou as tratadas on farm com as tratadas industrialmente (TSI). Os resultados detectaram variação média de 45% na dose do tratamento na fazenda , enquanto nas oriundas do TSI foi de apenas 7%. Resultados semelhantes foram capturados pelo Instituto Seedcare, analisando 58 sementes de soja com TSI e 58 com tratamento on farm . A análise apontou desvio médio da dose de 6,8% para o TSI e de 49% para o tratamento na fazenda. Estes dados demonstram claramente uma eficiência do processo industrial, que possibilita a distribuição de doses exatas dos ingredientes ativos sobre cada semente, diferentemente do que ocorre no tratamento na fazenda , onde a fungicida é aplicada com base na dose do produto / 100 kg de sementes ou na quantidade de sementes que será usada por hectare, o que dá pouca precisão ao tratamento.

A adoção do tratamento de sementes de soja com fungicidas no Brasil vem crescendo a cada ano, partindo de apenas 5% da área de soja semeada com sementes tratadas na safra 1991/1992 e atingindo ensaiando 98% na safra 2016/2017, sendo 25% oriundos do TSI e 73% provenientes do tratamento realizado na propriedade agrícola, também denominado on farm . Nesta safra (2016/2017), um levantamento estratificado da adoção do tratamento de sementes de soja com fungicidas, por região produtora de soja no Brasil, foi apresentado na XXXV Reunião de Pesquisa de Soja, principal fórum de pesquisa do complexo agropecuário dessa leguminosa. Os resultados revelaram o seguinte perfil de adoção do tratamento de sementes de soja: na região Sul ( on farm= 63,5% e TSI = 36,5%), na região Sudeste, considerando os estados de Minas Gerais e São Paulo ( na fazenda = 70,0% e TSI = 27,5%), na região Centro-Oeste ( on farm = 73,8% e TSI = 26,2%), MATOPIBA ( on farm = 75,0% e TSI = 25,0%) e na região Norte, representada pelos estados de Roraima, Rondônia e Pará ( on farm = 76,7% e TSI = 16,7%). Na safra 2017/2018, a adoção do tratamento de sementes de soja atingiu 100%, sendo 74% na fazenda e 26% TSI. A partir de então, evidenciou-se uma forte tendência de crescimento do TSI no Brasil, com uma variação bastante provavelmente nessa proporção, conforme observado na safra 2018/19 (65% para on farm e 35% para o TSI) e na safra 2019 / 20 (60% para na fazendae 40% para o TSI), mantendo-se nesse patamar na safra 2020/21.

O atual portfólio de produtos para tratamento de sementes de soja oferece ao produtor várias opções de escolha de fungicidas, os quais controlam de forma variável o complexo de fungos das sementes e do solo. Atualmente, no Brasil, as misturas de fungicidas recomendadas e recomendadas pelo MAPA para o tratamento de sementes de soja são carbendazim + tirame, carboxin + thiram, fludioxonil + mefenoxan, fipronil + piraclostrobin + tiofanato metílico, fludioxonil + mefenoxan + thiabendazole, tiofanato metílico fluazinan e clorotalonil + tiofanato metílico, nas doses sugeridas pelos fabricantes. Esses fungicidas controlam eficientemente o inóculo inicial transmitido pelas sementes infectadas. Entretanto, o poder residual de 12 a 15 dias propiciado por esses produtos na proteção da plântula contra fungos de solo, por exemplo, é do ponto de vista prático, um período curto. Buscando maximizar esse controle, há uma necessidade de registro e recomendação de novas moléculas que apresentem maior sistemicidade em termos de tempo de proteção mais longo, ou seja, um efeito duradouro mais pronunciado (efeito duradouro). O registro e a recomendação de novos fungicidas, de uma maneira geral, é um processo dinâmico, o qual busca fornecer mais opções de escolha para os produtores. Entretanto, segundo dados do AGROFIT / MAPA, o registro mais recente de fungicida para o tratamento de sementes de soja no Brasil data de 19 de março de 2012. um efeito duradouro mais pronunciado (efeito duradouro). O registro e a recomendação de novos fungicidas, de uma maneira geral, é um processo dinâmico, o qual busca fornecer mais opções de escolha para os produtores. Entretanto, segundo dados do AGROFIT / MAPA, o registro mais recente de fungicida para o tratamento de sementes de soja no Brasil data de 19 de março de 2012. um efeito duradouro mais pronunciado (efeito duradouro). O registro e a recomendação de novos fungicidas, de uma maneira geral, é um processo dinâmico, o qual busca fornecer mais opções de escolha para os produtores. Entretanto, segundo dados do AGROFIT / MAPA, o registro mais recente de fungicida para o tratamento de sementes de soja no Brasil data de 19 de março de 2012.

O tratamento de sementes é uma prática de suma importância, pela ótima relação benefício / custo e por proporcionar vantagens inegáveis ​​para o produtor e para a economia do País. Não vale a pena salvar na qualidade da semente, assim como não vale a pena economizar na qualidade da semente. Os ganhos de produção do tratamento de uma boa semente, compensação ao investimento realizado. Assim, pode-se considerar que o tratamento de sementes é um “seguro barato” que o agricultor faz no início da implantação de sua lavoura.

* Artigo publicado na Revista Cultivar da edição de outubro de 2021

Autores: (1) Augusto Cesar Pereira Goulart e (2) João Carlos da Silva Nunes ((1) Pesquisador em Fitopatologia e Patologia de Sementes / (2) Consultor Técnico de Tratamento de Sementes) Embrapa Agropecuária Oeste (1) e Empresa Momesso (2)

Fonte: Embrapa

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