O manejo da soja na fase vegetativa é crucial para garantir o sucesso da lavoura. O desenvolvimento vegetativo da soja começa quando os cotilédones aparecem acima do solo e termina quando o último nó da haste principal se forma. Essa fase pode durar mais ou menos tempo dependendo da variedade de soja (GMR e tipo de crescimento), da região onde está plantada e da época de semeadura, considerando fatores como temperatura, chuvas e a duração da luz do dia.
O que mais usamos para acompanhar o desenvolvimento da soja é a emissão de nós. Isso é o principal parâmetro que indica como a planta está evoluindo. O intervalo de tempo entre o surgimento de dois nós seguidos na haste principal é chamado de plastocrono, e ele pode variar de 45 a 70 graus-dia por nó, conforme a variedade de soja e a época de semeadura.
A soma desses nós ao longo do tempo nos dá o número acumulado de nós (NN) na haste principal. Esse número ajuda a entender o crescimento vegetativo da soja e está ligado ao tamanho da área foliar da planta. Em geral, a quantidade de nós em uma planta de soja pode ir de 12 até 35. Nas variedades de crescimento indeterminado, a emissão de nós para por volta do início da fase de enchimento de grãos (R5), não importando o GMR ou o local. Já nas variedades de crescimento determinado, o último nó se forma entre os estádios R1 e R3, dependendo da variedade e da época em que foi semeada.
Nos primeiros dias após a emergência, as plântulas de soja ainda usam as reservas dos cotilédones para crescer. A partir do estágio V1, elas começam a se sustentar com o que produzem nas folhas através da fotossíntese. Nessa época, as raízes começam a ser infectadas pelas bactérias do gênero Bradyrhizobium (conhecidas como rizóbios), que ajudam na fixação do nitrogênio do ar, formando os nódulos que aparecem de cinco a doze dias após a emergência.
A partir de V4/V5, a planta começa a desenvolver ramificações, ou “galhos”, que surgem das gemas axilares, localizadas onde o pecíolo das folhas se junta com a haste principal (Figura 1). Essas gemas podem ficar dormentes ou dar origem a galhos ou estruturas reprodutivas, como flores e legumes. A capacidade de formar essas novas estruturas dá uma grande flexibilidade para a planta de soja se adaptar. A quantidade de galhos depende da variedade e da quantidade de luz que chega nas partes mais baixas da planta. Maior espaçamento entre as linhas ou menor densidade de plantas geralmente favorecem a ramificação, e cada planta pode ter de zero a mais de oito galhos, que também podem formar novos nós, folhas e até mais galhos ou flores.
Figura 1. Planta de soja sem ramificações (A) e com ramificações (B). Planta de soja sem os pecíolos e folhas sem ramificações (C) e com ramificações (D).

Durante o crescimento vegetativo, a planta usa os fotoassimilados para aumentar a área foliar, desenvolver nós e fazer crescer as raízes. É importante proteger as folhas de pragas e doenças para manter o índice de área foliar (IAF) em alta, porque é essa área que capta a luz do sol para a fotossíntese, essencial para a produção de grãos. A competição com plantas daninhas, pragas e doenças precisa ser evitada para que o IAF não limite a produtividade da lavoura.
Dessa forma, uma das principais preocupações com doenças são as manchas foliares, como a mancha parda, mancha-alvo, crestamento foliar de cercospora e antracnose. Essas doenças aparecem mais quando o tempo está úmido, com chuvas frequentes, já que os fungos que as causam ficam nas sementes ou nos restos das plantas da safra anterior. Por outro lado, quando o clima é mais seco e com temperaturas amenas, o risco de oídio aumenta. Se a semeadura for realizada mais tarde, a ferrugem asiática pode começar a aparecer ainda na fase vegetativa.
No que se refere às pragas, é essencial monitorar regularmente a lavoura para decidir sobre o controle de insetos, como os desfolhadores e sugadores. O pano-de-batida é uma ferramenta importante para esse monitoramento (Stürmer et al., 2012). Também é importante ficar de olho na chegada dos primeiros percevejos e de outras pragas secundárias, como o tamanduá-da-soja, a mosca-branca e a mosca-da-haste. Embora essa fase não seja o período crítico para essas pragas, ataques mesmo que pequenos podem se tornar um problema se o monitoramento não for bem feito. Isso pode resultar em um aumento das populações de pragas no final da fase vegetativa ou no início e durante a fase reprodutiva, quando os danos podem ser mais graves.
Em resumo, o manejo eficiente da soja na fase vegetativa envolve uma série de cuidados importantes com doenças e pragas para garantir que a planta tenha um desenvolvimento saudável e potencial produtivo elevado. Garantir que as folhas estejam protegidas de pragas e doenças é fundamental para manter o índice de área foliar em um nível ideal, maximizando a captação de luz e a capacidade de fotossíntese, fatores essenciais para uma alta produtividade da cultura.
Referências bibliográficas
Tagliapietra, Eduardo L. et al. Ecofisiologia da soja: visando altas 2. ed. Santa Maria, 2022.