O gênero Helicoverpa pertence à um grupo de mariposas da família Noctuidae, as quais são consideradas mega-pragas devido à capacidade de causar severos danos aos mais diversos cultivos agrícolas, além de estarem amplamente disseminadas pelo mundo e apresentarem resistência a inseticidas de diferentes grupos químicos e modos de ação.

A espécie Helicoverpa zea, ou lagarta da espiga do milho, é conhecida principalmente por seus danos em lavouras de algodão e milho, embora se alimente de cerca de 100 espécies de plantas, pertencentes a 29 famílias botânicas diferentes. Os prejuízos econômicos anuais ocasionados por essa praga no mundo todo são estimados em centenas de milhões de dólares.

Figura 1. Lagarta da espiga do milho, Helicoverpa zea.

Fonte: koppert

Já a espécie Helicoverpa armigera é considerada ainda mais devastadora, particularmente na África tropical e na Ásia. Esta praga se alimenta de mais de 300 espécies pertencentes a 68 famílias de plantas, e estima-se que seus danos acarretem em mais de 5 bilhões de dólares em perdas anuais no mundo todo. As lagartas de H. armigera atacam tanto as estruturas vegetativas quanto reprodutivas de seus hospedeiros, incluindo cotilédones, folhas, flores e frutos, e apresentam ampla capacidade de dispersão.

Figura 2. Lagarta Helicoverpa armigera.

Fonte: koppert 

As lagartas da espécie H. armigera possuem uma tendência notável para desenvolver resistência a inseticidas de diferentes modos de ação. As lagartas da espécie H. zea, em contraste, permanecem com comportamento suscetível a muitos dos principais inseticidas e tendem a causar menos danos (Mallet, 2018).

Evidências genéticas sugerem a possibilidade de ocorrer híbridos na natureza entre H. armigera e H. zea. As duas espécies estão intimamente relacionadas na escala evolutiva, mas as populações de H. zea contêm aproximadamente metade da diversidade genética de H. armigera. De acordo com Anderson et al. (2018), híbridos entre as duas espécies já estão presentes no Brasil, provavelmente provenientes da África ou Europa.

Análises moleculares efetuadas com indivíduos coletados no Brasil indicaram a ocorrência de híbridos entre as duas espécies desde 2012. Portanto, em território brasileiro, os agricultores já convivem com esses híbridos. A maioria dos indivíduos sequenciados parecem mais próximos de H. armigera do que de H. zea, sugerindo que, por enquanto, poucos genes de H. armigera foram introduzidos em H. zea.

Tal fato demonstra que a hibridização entre as duas espécies talvez não introduza uma nova resistência a inseticidas em H. zea, como suspeitado inicialmente. Por outro lado, a introdução gênica reversa (de H. zea para H. armigera) pode tornar essa última mais apta a disseminar-se pelas Américas, já que os genes de H. zea são mais adaptados às condições locais.

Embora a proximidade morfológica e genética entre ambas as espécies seja muito grande, elas podem apresentar diferenças fisiológicas. É provável que esses híbridos apresentem respostas diferentes de seus parentais aos diversos fatores que compõem os ambientes agrícolas nas Américas, modificando características como adaptabilidade a plantas hospedeiras e perfil de resposta aos inseticidas.

Revisão: Henrique Pozebon, Mestrando PPGAgro  e Prof. Jonas Arnemann, PhD. e Coordenador do Grupo de Manejo e Genética de Pragas – UFSM



REFERÊNCIAS:

BARBOSA, João Pedro Ferreira et al. Ocorrência de Helicoverpa zea (Lepidoptera: Noctuidae) em híbridos de milho (Zea mays L.) submetidos a diferentes níveis de irrigação. Diversitas Journal, v. 4, n. 1, p. 24-30, 2019.

KUSS, Cassiano Carlos et al. Controle de Helicoverpa armigera (Lepidoptera: Noctuidae) em soja com inseticidas químicos e biológicos. Pesquisa Agropecuária Brasileira, v. 51, n. 5, p. 527-536, 2016.

MALLET, James. Invasive insect hybridizes with local pests. Proceedings of the National Academy of Sciences, v. 115, n. 19, p. 4819-4821, 2018.

SILVA, Ivana Fernandes. Desempenho de populações geográficas de Helicoverpa armigera (Hübner)(Lepidoptera: Noctuidae) em dietas naturais e artificial e caracterização por microssatélites. 2017.

SOUZA, D. R. Isolamento reprodutivo entre linhagens brasileiras de Helicoverpa zea e Helicoverpa armigera (Lepidoptera: Noctuidae). 2016. Tese de Doutorado. MSc thesis, Escola Superior de Agricultura” Luiz de Queiroz”, Universidade de São Paulo, Piracicaba.

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