A lagarta-da-espiga, Helicoverpa zea, é uma importante praga que ataca diversas culturas, em especial o milho, podendo atingir até 96% de infestação nas espigas (NAIS, 2012). Tendo em vista o risco de uma pressão populacional tão alta, é preciso ficar atento principalmente em lavouras destinadas à produção de sementes e de milho doce, já que seu principal dano ocorre nas espigas.
A lagarta-da-espiga tem sua distribuição em parte da América do Norte, na América Central e parte da América do Sul. Além disso, esse lepidóptero é originário da região do México, resultando em maior adaptação ao milho e, por consequência, sendo mais facilmente encontrada nessa cultura.
Figura 1. Distribuição geográfica da Helicoverpa zea, atualizado em 13/04/2021 pela Organização Europeia de Proteção às Plantas (EPPO).
Fonte: EPPO. Imagem original disponível e clicando aqui
Essas lagartas possuem coloração que varia desde verde-clara, rosa, marrom e escura, porém sempre com coloração marrom-clara na cabeça. Além disso, possui faixas longitudinais escuras e claras alternando-se ao longo do corpo, espiráculos escuros e bem evidentes, facilitando sua identificação a campo (Figura 2).
Figura 2. Lagarta-da-espiga, Helicoverpa zea, em milho.
Fonte: Koppert. Imagem original disponível clicando aqui
As injúrias ocasionadas por H. zea no milho são típicas da espécie. O adulto (mariposa) faz a postura de seus ovos nos estilos-estigmas (cabelo do milho) e, por isso, o ataque ocorre principalmente na ponta da espiga. O ataque dos estilo-estigmas pelas larvas recém eclodidas impede a fertilização e ocasiona falhas de granação nas espigas, reduzindo a produtividade da cultura. Somado a isso, as lagartas mais desenvolvidas alimentam-se dos grãos leitosos, destruindo-os e facilitando a penetração de microrganismos oportunistas através dos orifícios resultantes, além de propiciar o ataque de outras pragas durante o armazenamento (CARVALHO, 1980; GALLO ET AL., 2002) (Figura 3).
Figura 3. Danos ocasionados por Helicoverpa zea em espiga de milho.
Fonte: Ana Lígia Giraldeli. Imagem original disponível clicando aqui
É possível identificar, por meio da visualização do dano na espiga, qual a espécie de lagarta que está atacando a lavoura, visto que a lagarta do cartucho (Spodoptera frugiperda) também pode atacar as estruturas reprodutivas das plantas de milho. A principal diferença de dano entre S. frugiperda e H. zea é que a primeira entra lateralmente na espiga, enquanto a segunda ataca principalmente a ponta da espiga.
O controle químico dessa praga é complexo, visto que as aplicações de inseticidas devem ser realizadas antes que as lagartas recém-eclodidas penetrem nos estilo-estigmas. Além disso, adaptações precisam ser feitas visando uma aplicação direcionada às espigas, principalmente em lavouras de produção de sementes e milho doce. Ademais, o uso indiscriminado de inseticidas químicos pode provocar um efeito negativo no equilíbrio biológico existente entre a lagarta e seus inimigos naturais (CRUZ, 2008).
Dentro do contexto de Manejo Integrado de Pragas (MIP), uma alternativa interessante é o uso de ferramentas de controle biológico. A utilização de agentes biológicos que não agridam o meio-ambiente, como a tesourinha Doru spp. que é predador de ovos e lagartas, além do parasitoide de ovos Trichogramma spp., constitui uma alternativa viável de manejo associada a um baixo custo de aplicação (FINKEN, 2018). Somado a isso, a utilização de milho Bt (Bacillus thuringiensis) é a melhor opção de manejo visto que a maioria das tecnologias apresenta boa eficiência de controle sobre essa praga, principalmente quando utilizados híbridos Bt Viptera (OLIVEIRA, 2016).
Para saber mais sobre uma possível hibridização ocorrendo entre Helicoverpa zea e seu parente próximo, Helicoverpa armigera, clique aqui.
Revisão: Henrique Pozebon, Mestrando PPGAgro e Prof. Jonas Arnemann, PhD. e Coordenador do Grupo de Manejo e Genética de Pragas – UFSM
REFERÊNCIAS:
CARVALHO, R. P. L. Pragas do milho. In: PATERNIANI, E. Melhoramento e produção de milho no Brasil. Piracicaba: Fundação Cargill, 1980. p. 505-570.
CRUZ, I. Manual de identificação de pragas do milho e de seus principais agentes de controle biológico. Sete Lagoas: Embrapa-CNPMS, 2008. 192 p
FINKEN, E.S. Métodos de controle de Helicoverpa zea na cultura do milho. Doity, Anais do Evento: Siepex, Publicado em 04/11/2018 – Edição: 8, Cachoeira doSul. Disponível em https://doity.com.br/anais/8-siepex/trabalho/63601
GALLO, D.; NAKANO, O.; SILVEIRA NETO, S.; CARVALHO, R. P. L.; BATISTA, G. C.; BERTI FILHO, E.; PARRA, J. R. P.; ZUCCHI, R. A.; ALVES, S. B.; VENDRAMIM, J. D. Entomologia agrícola. 10 ed. Piracicaba: FEALQ, 2002. 920 p.
NAIS, J. Infestaçao de Spodoptera frugiperda e Helicoverpa zea (lepdoptera: Noctuidae) em híbridos comerciais de milho (Zea mays L.). Tese de Doutorado UNESP, Jaboticabal – SP, Fevereiro/2012. Disponível em https://repositorio.unesp.br/bitstream/handle/11449/102279/nais_j_dr_jabo.pdf?sequence=1&isAllowed=y
OLIVEIRA, C.R.; DANTAS, C.L.; PAIXA, P.M.; ROCHA, D.D.D.; VALICENTE, F.H. Monitoramento de Helicoverpa zea (Boddie) (Lepidoptera: Noctuidae) no milho Bt. XXXl Congresso Nacional de Milho e Sorgo, Bento Gonçalves, 2016. Disponível em https://www.alice.cnptia.embrapa.br/alice/bitstream/doc/1055356/1/MonitoramentoHelicoverpa.pdf
Foto de capa: Koppert. Imagem original disponível clicando aqui