Em meio aos crescentes casos de resistência de plantas daninhas a herbicidas, em especial se tratando dos herbicidas glifosato, inibidores da ALS e da ACCase, adotar estratégias de manejo que permitam reduzir a pressão de controle na pós-emergência é fundamental para a sustentabilidade da produção agrícola. Uma das principais estratégia para isso, é o emprego de herbicidas pré-emergentes na pré-semeadura das lavouras.

Os herbicidas pré-emergentes, também conhecidos como herbicidas residuais, atuam diretamente no banco de sementes do solo (figura 1), comprometendo a germinação de sementes em início do processo de germinação, inviabilizando a emergência da plântula e desenvolvimento da planta.

Figura 1. Dinâmica do banco de sementes do solo.
Fonte: Barroso & Murata (2021)

Dessa forma, os herbicidas pré-emergentes reduzem consideravelmente os fluxos de emergência das plantas daninha, favorecendo o estabelecimento inicial da lavoura, principalmente se tratando de  herbicidas pré-emergentes que contenham em sua formulação mais de um mecanismo de ação, e portanto possuem maior espectro de controle (figura 2).

Figura 2. Residual de controle com a associação de 1, 2 ou 3 herbicidas residuais de diferentes mecanismos de ação, em área com presença de plantas daninhas de folha-estreita e de folha-larga.

Fonte: Fundação ABC (2024)

No entanto, para que resultados satisfatórios sejam observados e não haja danos à cultura agrícola, é essencial atentar para os critérios e cuidados necessários ao posicionar herbicidas pré-emergentes, dando atenção para condições que possam influenciar sua performance.

Como posicionar

Primeiramente, deve-se avaliar a necessidade da utilização do herbicida pré-emergente, as espécies de plantas daninhas presentes na área a ser controlada, bem como as culturas comerciais que integram o sistema de produção. Em especial se tratando de áreas altamente infestadas e contendo espécies com elevada capacidade de produzir sementes, o uso dos pré-emergentes é necessário para reduzir a matocompetição inicial na lavoura.

Sobretudo, para um bom posicionamento deve-se conhecer as espécies que integram a população de plantas daninhas, principalmente quando se opta pelo uso de herbicidas com dois ou menos mecanismos de ação. Além disso, é crucial conhecer as culturas sucessoras, a fim de evitar efeitos fitotóxicos e/ou inviabilizar o cultivo sucessor. Determinados herbicidas, tanto pré-emergentes quanto pós-emergente, podem apresenta elevado efeito residual, afetando o desenvolvimento da cultura sucessora.

Nesse contexto, a seletividade, a residualidade e o espectro de ação são os principais fatores a se avaliar para o posicionamento adequado dos herbicidas pré-emergentes. Vale destacar que a forma de aplicação também exerce influência sobre o posicionamento dos pré-emergentes. A maioria dos herbicidas pré-emergentes pode ser aplicado na modalidade aplique-plante ou plante-aplique, desde que, respeitadas as recomendações técnicas do produto.

Se tratando da modalidade plante-aplique, em que o herbicida é aplicação após a semeadura da cultura, o posicionamento dos pré-emergentes é ainda mais importante para evitar efeitos fitotóxicos à cultura. Para a cultura da soja, Bianchi (2019), analisando a seletividade de diferentes herbicidas pré-emergentes aplicados imediatamente após a semeadura, observou que, as principais moléculas utilizadas desses herbicidas em soja (Imazetapir+Flumioxazina; Imazetapir; Flumioxazina; S-Metolacloro; Clorimuron; Diclosulam; Metribuzin; Sulfentrazone e Trifluralina), são seletivas à cultura, sem causar prejuízos significativos à produtividade dos grãos e portanto podem ser posicionados com êxito em soja.



Figura 3. Produtividade de grãos na ausência de plantas daninhas, como resultado do uso de herbicidas pré-emergentes na cultura da soja. Barras com a mesma cor indicam que as médias da produtividade de grãos não diferem entre sí pelo teste de Scott-Knott (p≤0,05). (a) Análise conjunta de quatro experimentos da Safra 2016/17; (b) Análise conjunta de dois experimentos da Safra 2017/18.
Fonte: Bianchi (2019)
Fatores que influenciam na performance dos herbicidas pré-emergentes

A eficiência dos herbicidas pré-emergentes no controle de plantas daninhas é determinada por diversos fatores, entre os quais se destacam as características físico-químicas do produto, as propriedades físicas, químicas e biológicas do solo, além das condições ambientais no momento e após a aplicação.

Física e química do produto

Cada herbicida apresenta propriedades específicas, como solubilidade, natureza iônica, grau de lipofilicidade e acidez (ácido fraco ou não). Esses atributos influenciam diretamente sua aplicação, comportamento no solo e disponibilidade para atuar sobre o banco de sementes. Por isso, é fundamental seguir rigorosamente as orientações de uso presentes na bula do produto.

Física, química e biologia do solo

O desempenho dos herbicidas também depende da interação com o solo, sendo influenciado por fatores como teor de argila, textura, matéria orgânica, compactação, presença de palhada, pH, capacidade de troca de cátions (CTC) e atividade biológica.
Esses atributos afetam a adsorção do herbicida pelas partículas do solo, interferindo em sua mobilidade, persistência e disponibilidade. Solos com altos teores de argila e matéria orgânica, por exemplo, tendem a reter mais o herbicida, reduzindo sua ação sobre a sementeira.
A palhada pode agir como uma barreira física, dificultando a chegada do produto à camada ativa do solo. Já a compactação limita a infiltração de água, o que restringe a movimentação do herbicida até as sementes das plantas daninhas.

Figura 4. Palhada na superfície do solo. Barreira física à chegada de herbicidas pré-emergentes ao alvo.

O pH do solo também exerce influência na performance dos herbicidas pré-emergentes, especialmente daqueles classificados como ácidos ou bases fracas. Em solos alcalinos, ou após práticas de calagem intensiva com doses elevadas de corretivos, pode ocorrer maior ionização desses compostos, o que aumenta o risco de lixiviação. Essa maior mobilidade no perfil do solo pode comprometer a permanência do herbicida na zona de ação sobre o banco de sementes, reduzindo sua eficácia (Hartzler, s. d.).

Ambiente

A umidade do solo é essencial para que o herbicida entre em solução e possa agir sobre as sementes em germinação. Em solos secos, o produto permanece retido na matriz sólida, indisponível para o controle das plantas daninhas.
Além disso, a temperatura do solo exerce papel importante: temperaturas fora da faixa ideal para a germinação das plantas daninhas reduzem a taxa de emergência, limitando o momento de ação dos pré-emergentes. Quando associada à baixa umidade, a temperatura inadequada agrava ainda mais a redução na eficácia do controle.

Residualidade e carryover
Outro aspecto a ser considerado é a residualidade dos herbicidas. A persistência prolongada no solo, conhecida como carryover, pode afetar negativamente o desenvolvimento de culturas subsequentes. Portanto, é essencial considerar o intervalo entre a aplicação e o plantio das culturas seguintes, respeitando as recomendações específicas de cada produto.

Sobretudo, apesar da diversidade de fatores que podem influenciar na performance dos herbicidas pré-emergentes, quando posicionados adequadamente e seguidas as orientações de manejo, esses herbicidas contribuem efetivamente para a redução dos fluxos de emergências de plantas daninhas nos períodos iniciais do desenvolvimento das culturas agrícolas.

Referências:

BARROSO, A. A. M.; MURATA, A. T. MATOLOGIA: ESTUDOS SOBRE PLANTAS DANINHA. Fábrica da palavra, 2021.

BIANCHI, M. A. SELETIVIDADE DE HERBICIDAS PRÉ-EMERGENTES EM SOJA. CCGL, Pesquisa e Tecnologia, Boletim Técnico, n. 67, 2019. Disponível em: < https://upherb.com.br/ebook/boletim_t%C3%A9cnico_67.pdf >, acesso em: 30/06/2025.

BORSATO, E. F.; SILVA, W. K. USO DE PRÉ-EMERGENTES – UM RELATO SOBRE O USO NO GRUPO ABC COM BASE EM DADOS DE 17 SAFRAS. Fundação ABC, 2024. Disponível em: < https://fundacaoabc.org/wp-content/uploads/2024/09/202410revista-pdf.pdf >, acesso em: 30/06/2025.

HARTZLER, B. ABSORPTION OF SOIL-APPLIED HERBICIDES. Iowa State University: Extension and Outreach, s. d. Disponível em: < https://crops.extension.iastate.edu/encyclopedia/absorption-soil-applied-herbicides?utm_source=chatgpt.com >, acesso em: 30/06/2025.

 

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