Quantificar a área foliar de plantas de soja permite analisar o potencial fotossintético delas. Esta análise é importante pelo seguinte resultado: maior será o rendimento da cultura se mais rápido as plantas chegarem ao índice ideal de área foliar.
O tempo que a área foliar se manter ativa também contribuirá para a produção.
No artigo de hoje, falaremos mais sobre o índice de área foliar e como ele pode auxiliar o manejo das lavouras de soja.
Acompanhe a seguir!
Qual a importância da área foliar?
O índice de área foliar (IAF) é a relação entre as folhas da planta e a área de solo que elas ocupam. Ou seja, é um índice usado para definir a quantidade de área foliar do dossel da planta.
E de que maneira este índice pode ajudar no trato com a lavoura? Talvez você esteja se perguntando.
Bem, este índice auxilia na avaliação de desenvolvimento das plantas, sua produtividade, competitividade e transpiração, assim como outros fatores.
A área foliar da planta também interfere no processo de fotossíntese, por isso, a produtividade de um cultivo será condizente com o valor de IAF que ela apresenta.
Mas existe um valor ideal deste índice e quanto mais próximo do IAF ideal, maior a produção da planta. Quando os valores estão muito fora do indicado para o cultivo, tanto acima como abaixo do ideal, pode haver impactos negativos na produtividade das plantas.
Por exemplo, em casos de IAF acima do indicado, a energia gasta pela planta para manter as estruturas vegetativas, assim como para tolerar estresses, como o ataque de insetos e doenças, podem limitar a produção desta planta.
Ilustração do índice de área foliar de uma lavoura. (Fonte: Vazquez Chacon, 2016)
Ao longo do ciclo de desenvolvimento da soja, o IAF vai aumentando de valor, já que as folhas estão sendo emitidas e expandidas. Nas cultivares que apresentam crescimento indeterminado, é comum que o IAF máximo ocorra desde o início da formação de vagens (R3) até o início da formação de grãos (R5).
Portanto, para garantir um alto potencial de produção em soja, é necessário manter a área foliar mínima neste período, que varia entre 3,5 a 4,5 m² de área foliar para cada m² de área de solo.
A partir do momento em que não há mais desenvolvimento de folhas e a planta inicia o processo de senescência, que é quando elas começam a envelhecer, o IAF passa a diminuir.
Tolerância a desfolha e fatores que alteram o índice de área foliar
Você pode utilizar o índice de área foliar para tomar decisões sobre o controle de pragas ou doenças. Uma situação prática é quando as plantas estiverem com alto IAF, que é 7:1, é um momento em que elas toleram taxas de desfolhamento em torno de 40%. Enquanto plantas com IAF de 3:1, não toleram nenhum desfolhamento.
Há situações de estresse que podem afetar a área foliar das plantas, promovendo o aumento deste IAF, ou reduzindo-o.
Tais como:
- Condições climáticas: radiação solar, temperatura e granizo. As duas primeiras condições impactam o crescimento das plantas e a última danifica e reduz a área foliar;
- Nutrição da planta e condições físico-quimicas e biológicas do solo;
- Densidade de semeadura;
- Alimentação de insetos-praga nas folhas (herbivoria), competição entre plantas e diferentes estágios de desenvolvimento destas em um mesmo ambiente;
Planta com ataque de pragas e menor área foliar. (Fonte: Canal Rural)
Na fase vegetativa, especificamente após a formação das primeiras folhas trifoliadas, até a floração, a planta de soja apresenta grande capacidade de recuperação, portanto, é mais tolerante às situações de estresse.
Analisando este índice, você consegue adequar o momento de realizar o manejo, ou não, na sua lavoura.
Menor área foliar em cultivares melhoradas geneticamente
Os estudos com cultivares de soja relatam que com o melhoramento das variedades comerciais, as características das plantas foram sofrendo alterações ao longo do tempo. Uma destas características foi a área foliar, que diminuiu nas cultivares modernas.
Em épocas como na década de 1980 e 1990, o dossel das plantas apresentava uma média de 8 m² de folha por m² de solo, mas o potencial produtivo era baixo e não excedia 2500 kg/ha. Estas condições, tanto de desenvolvimento como de produtividade, permitiam que a planta apresentasse uma grande tolerância a desfolha pelo ataque de pragas e/ou fitoxicidade por produtos químicos.
Atualmente, o índice de área foliar das novas cultivares apresentam metade do valor antigo, onde era 8 hoje é 4. Além disso, as produções atuais têm rendimentos que superam os anteriores, hoje são produzidos 1000 kg a mais por hectare. No entanto, a sensibilidade ao desfolhamento na soja moderna é maior do que as variedades antigas; e esta possibilidade de redução de área foliar é capaz de provocar grandes perdas de produção.
Mas segundo Parcianello et al. (2004), algumas condições podem melhorar a tolerância das plantas de soja a desfolha, como:
- Fertilidade alta do solo;
- Hábito de crescimento da cultivar;
- Espaçamento entrelinhas;
- Irrigação.
Estes autores, que estudaram a tolerância de plantas de soja a desfolha, relataram que o alto valor de IAF é tão prejudicial quanto à redução da área foliar.
Como o índice de área foliar impacta as pulverizações
A estrutura da planta é um fator que muitas vezes limita a penetração das gotas do produto aplicado sobre as folhas. Mas é preciso que estas barreiras sejam ultrapassadas e o controle dos patógenos ou a proteção sejam alcançadas.
Além disso, o tamanho da área foliar interfere na eficiência da aplicação de produtos na lavoura. Uma pulverização adequada, precisa que a distribuição dos defensivos seja uniforme em toda a planta.
Quanto mais fechado o dossel, mais difícil é fazer com que o produto aplicado atinja as folhas mais baixas da planta.
Nesta parte inferior é criado um microclima que favorece o desenvolvimento de doenças por conta do sombreamento que as folhas superiores promovem, o que faz com que esta região retenha maior umidade e favoreça a proliferação dos fungos. É nestas folhas baixeiras que muitos processos de infecções nas lavouras iniciam.
De acordo com estudos de campo, nas cultivares de soja que apresentam maiores ramificações e maior IAF, as pulverizações devem ser feitas com um espectro de gotas fino. Este espectro apresenta um número de gotas suficiente para proteger a planta, o que não acontece quando são usados espectros de gotas médios e grossos (Debortoli et al., 2012).
O mesmo estudo sugere que quando houver maior densidade de folhas, o volume de aplicação pode ser aumentado, para que a cobertura das plantas seja atingida e ocorra a proteção contra as pragas.
Agora que você conheceu o índice de área foliar, acha que é possível utilizar este conhecimento nas práticas de manejo e usá-lo para atingir altas produtividades na lavoura?
Conclusão
Quando utilizar o índice de área foliar, lembre-se que é necessário avaliar as demais condições de ambiente para a aplicação das caldas e o determinado espectro de gota que será empregado.
A proteção das plantas é realmente necessária, especialmente pelo fato de as cultivares novas serem mais sensíveis a desfolha. Protegê-las do ataque de pragas permite que os cultivos possam expressar o máximo potencial na produção.
Referências
Parcianello, Geovano, José Antonio Costa, João Leonardo, Fernandes Pires, Lisandro Rambo, and Kleiton Saggin. 2004. “Tolerância Da Soja Ao Desfolhamento Afetada Pela Redução Do Espaçamento Entre Fileiras.” Ciência Rural 34 (2): 357–64. https://doi.org/10.1590/S0103-84782004000200004.
Paula Debortoli, Mônica, Nédio Rodrigo Tormen, Ricardo Silveiro Balardin, Diego Dalla Favera, Marlon Tagliapietra Stefanello, Felipe Frigo Pinto, and Juliano Daniel Uebel. n.d. “Espectro de Gotas de Pulverização e Controle Da Ferrugem-Asiática-Da-Soja Em Cultivares Com Diferentes Arquiteturas de Planta Spray Droplet Spectrum and Control of Asian Soybean Rust in Cultivars with Different Plant Architecture.”